Segundo informações do Ecoa, durante vinte anos, José Gomes, um ambientalista conhecido com Zé do Lago, salvou cerca de 4 a 7 mil filhotes de tartarugas no rio Xingu, na cidade de São Félix do Xingu (Pará). Segundo a família, algumas tartarugas sobreviveram por mais de uma década e atualmente estão reproduzindo.
Da ordem dos quelônios, incluindo cágados e jabutis, as tartarugas são espalhadores de sementes e fazem uma espécie de faxina por se alimentarem de quase tudo no fundo dos rios.
O termo “quelônio” se refere a qualquer réptil com casco, embora a palavra “tartaruga” remeta mais às espécies de água salgada na região sudeste.
O Projeto de Zé do Lago é conhecido como “Projeto Quelônio”, unindo ações de instituições e pessoas físicas para manter as tartarugas vivas na natureza.
Quando nascem, os quelônios são animais frágeis e estão na mira dos jacarés, entretanto, fazem parte, principalmente, do ‘cardápio’ e comercialização dos seres humanos.
Segundo um estudo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, foi estimado que cerca de 1,7 milhão das tartarugas sejam consumidas na cultura alimentícia do Amazonas.
Na capital do Estado, Manaus, a carne do quelônio adulto chega a custa mil reais o quilo e servida no próprio casco. Além da carne, os ovos também são comercializados e consumidos. Também são vendidos como animais domésticos.
Em contramão com a comercialização e consumo, salvar os filhotes de quelônios aumentam a chance deles completarem de 15 a 20 anos de idade quando se reproduzem.
Zé do lago, sua esposa Márcia Nunes e sua enteada Joene Nunes, acompanhavam a desova, faziam o resgate e libertavam milhares de quelônios onde o rio Xingu transborda e facilita a locomoção segura das espécies.
Ongs e instituições do Estado fazem um esforço para combater a caça predatória, porém, é as vezes acabam não dando conta, pois os rios da Amazônia tem uma extensão de milhares de quilômetros e o salvamento e resgate das tartarugas é um ato perigoso.
Perseguição aos ambientalistas no Brasil pode levar a crimes bárbaros
Em janeiro deste ano, Zé do lago, Márcia e Joene foram assassinados.
“Com a ajuda ou sem a ajuda, a gente faz a proteção para que nossos filhos, netos, bisnetos venham a conhecer os quelônios desse nosso rio Xingu”, disse Zé em um vídeo em dezembro de 2021, quando 4 mil quelônios foram soltos. Eles pareciam tímidos, disse Zé, quando os levou à beira do rio. “Estão com vergonha”, ele brincou antes de vê-los correr para a água.
O caso do homicídio triplo evidencia o perigo que os ambientalistas brasileiras sofrem contra os que se beneficiam da caça e exploração ambiental.
Segundo informações do portal Uol, de acordo com a Global Witness, o país ocupa a quarta posição entre os que mais matam ambientalistas no mundo. Entre os 10 primeiros, sete estão na América Latina e três (Brasil, Colômbia e Peru) na Amazônia. Nos anos 80, o homicídio do ambientalista Chico Mendes, no Acre, se tornou um lembrete histórico da violência amazônica.
Segundo um estudo, 50% dos quelônios estão sob risco de extinção ou já desapareceram com a poluição dos rios e mares, exploração ambiental e caça predatória.
Camila Ferrara, bióloga da Wildlife Conservation Society (WCS) Brasil, conta que os quelônios que mais são consumidos são os tracajás e tartarugas-da-Amazônia – as espécies resgatadas por Zé do Lago.
As tartarugas-da-Amazônia fêmeas podem chegar a 1 metro de carapaça. Já as fêmeas tracajás têm, em torno de 50 centímetros e 65 kg. Ambas as espécies deslocam-se por milhares de quilômetros passando por vários países da América do Sul, chegando a extrapolar os limites do bioma amazônico.
Os cientistas da espécie decifraram vocalização da tartaruga-da-Amazônia para se comunicar e orientar os filhos. Já os tracajás são os quelônios habilidosos em deslocar-se pela em superfície terrestre, e, devido a sua estatura, são os mais comercializados e consumidos.
Preservação das espécies
Os órgãos como Funai, Ibama, Ongs, governos locais, estaduais e federais da América do Sul fazem uma aliança histórica na América do Sul desde os anos 70 para tentar preservar a espécie.
Em 2016, o ICMbio calcula que 65 milhões de quelônios foram salvos pela solidariedade conjunta entre os povos da Amazônia. Mas ainda há muito o que fazer.
“Pesquisador de tartaruga nunca é 100% bem-vindo”, diz a pesquisadora que lidera a proteção de quelônios nos rios Puru e Negro, no Amazonas. “Muita gente consome pela subsistência, mas existe quem quer traficar e colocá-los à venda”, afirma.
Muita luta daqui pra frente
Samuel Azevedo, 34, filho de Zé do lago, afirma que a ação solidária de seu pai fez sucesso e foi patrocinado pelo comércio da cidade onde vivem 135 mil pessoas. “Toda vez foi por conta dele”, afirma para o Ecoa, editoria do portal Uol.
Em nota, a Polícia Civil do Pará afirma que o caso está em investigação. Samuel nõ suspeita da causa da morte. A Justiça autorizou a exumação dos corpos para perícia e o Ministério Público Federal acompanha o processo para ver se o homicídio triplo tenha, de fato, relação com o trabalho ambientalista.
A Anistia Internacional e outras Ongs ambientais em defesa dos direitos humanos pedem justiça. Samuel não sabe o futuro do projeto, mas confirma o êxito até aqui. “Já tem tracajá reproduzindo por aqui no Xingu”, afirma.
Wildlife Conservation Society Brasil (WCS Brasil)
Para doar, acesse o site da instituição. As doações podem ser avulsas, mensais ou anuais. Os valores são em dólar.
Projeto Quelônios do Juruá (SOS Amazônia)
Para doar, acesse o site da instituição. As doações podem ser avulsas ou mensais.