Filhotes de peixes-boi órfãos resgatados no Pará são levados para o Projeto Peixe-boi da ZOOUNAMA, que há 14 anos realiza o trabalho de reabilitação para que possam, em seguida, ser devolvidos para a natureza. A iniciativa já recebeu mais de cem filhotes resgatados por órgãos ambientais do município de Santarém, no oeste do Pará.
De acordo com o site O Liberal, o resgate desses filhotes está cada vez mais comum, isso porque a pesca tem aumentado o índice de morte dos peixes-boi; o crime ambiental acontece principalmente na captura dos mamíferos adultos, que são de grande porte.
O resultado disso é o aumento de filhotes órfãos e que, caso não sejam resgatados, acabam morrendo por não terem condições de se manterem sozinhos.
A equipe do projeto informou que desde 2008 atua com o objetivo de deixar esses animais em condições de voltar ao seu habitat. Normalmente os nascimentos dos filhotes ocorrem no primeiro semestre do ano e coincidem com o aumento do nível das águas dos rios, muito embora exista registro de resgate no segundo semestre.
Segundo o médico veterinário do projeto, Jairo Moura, em 2021, houve o registro de cinco filhotes salvos que foram levados para o projeto. Já em 2022, no mesmo período, foram quatro. “Os animais recebidos ficam em piscinas adequadas e preparadas para os peixes-boi, e são acompanhados por uma equipe de biólogos, veterinários e tratadores, em tempo integral”, explicou.
Espécie ameaçada
De acordo com o veterinário, o peixe-boi é uma das espécies mais caçadas na região Norte do Brasil. Nos registros históricos datam desde o período da borracha e, diante do tempo em que esse crime ocorre, existe o perigo de extinção.
A caça do peixe-boi é ilegal no Brasil, no entanto, algumas comunidades usam do animal como fonte de alimentação e para outros fins diversos, como por exemplo, confecção de lamparinas, utilização da banha para culinária do dia a dia.
Em geral a caça é feita com a captura em rede de pesca, que impede que o mamífero realize o processo de subida até a superfície para fazer a troca gasosa, que consiste em respirar e descer.
“Geralmente os filhotes resgatados chegam ao projeto magros, com ferimentos e com problemas digestivos e respiratórios, dificultando ainda mais o processo de recuperação”, afirmou o biólogo Hipócrates Chalkidis.
Esse integrante da fauna selvagem brasileira possui características morfológicas, fisiológicas e reprodutivas diferenciadas, quando comparadas com a maioria dos integrantes da classe dos mamíferos. Ao começar pelo período gestacional que oscila de 11 a 13 meses, geralmente nasce um filhote por gestação, cujo cuidado parental dura pelo menos dois anos. Com isso o intervalo entre partos de uma mesma fêmea, varia de cinquenta e cinco a sessenta meses.
Os filhotes se alimentam apenas de leite até os dois anos. Diante da falta da mãe, eles precisam receber uma mistura de leite em pó sem lactose, suplemento vitamínico e óleo. Esse óleo simula a substância que deveria sair da mãe.
Após esta idade, o capim é inserido na alimentação dos mamíferos, que são preparados para a segunda fase do projeto, que é a soltura na comunidade de Igarapé do Costa, às margens do Rio Amazonas.
Nesta etapa, os animais são levados de barco em colchões molhados até um tanque flutuante com tambores de madeira. Essa viagem dura aproximadamente uma hora, e é acompanhada por médicos veterinários, tratadores, além do Corpo de Bombeiros.
“A segunda fase é chamada de aclimatação. Nela, os animais vão se adaptar à água corrente, às ondas e à turbidez das águas. Tudo diferente do que era no zoológico”, explicou o veterinário Jairo Moura.
Os mamíferos ficam aproximadamente um ano na aclimatação e diariamente os tratadores acompanham a adaptação dos animais. Após este período, os peixes-boi vão seguir para a terceira e última fase do projeto: a soltura.
Importância do peixe-boi para o ecossistema Amazônico
A presença do peixe-boi no ecossistema da Amazônia é de suma importância pois o animal controla a população de plantas aquáticas. O animal adulto come até 14% do seu peso de capins flutuantes.
Além do controle do crescimento das plantas, as fezes dele servem como nutrientes para microrganismos que vão alimentar outros animais. Ao se alimentar, o peixe-boi impede que haja o crescimento excessivo de matéria orgânica, o que pode ocasionar a mortandade de algas e animais.
“Não é por acaso que em margens de rios e igarapés amazônicos as plantas aquáticas se concentram em maior quantidade”, destaca o veterinário, Jairo Moura.
Sobre o projeto peixe-boi
O projeto é uma iniciativa sem fins lucrativos que tem por intuito básico acolher animais, tratar e posteriormente fazer a soltura dos que estiverem aptos. O biólogo enfatiza que as pessoas não podem simplesmente fazer a doação desses animais, pois deve se seguir um protocolo.
“Existe um regulamento próprio para isso, a pessoa que porventura encontrou um animal silvestre ao redor da casa onde mora deve acionar os órgãos ambientais”, destacou. O projeto conta com 10 piscinas para receber os filhotes. No momento, 41 animais passam pelo processo de reabilitação. Sendo 29 em piscinas e 12 no Igarapé do Costa.