O Syros Cats não resolve tudo, nem promete finais perfeitos, ainda assim, mostra que pequenas ações constantes fazem diferença. Ao trocar alguns dias de descanso por cuidado e responsabilidade, voluntários mostram que os gatos em situação de rua fazem parte da paisagem, e sim, animais tentando sobreviver.
Entre o azul intenso do mar Egeu e as ruelas ensolaradas de Syros, a vida não é feita só de férias perfeitas e fotos bonitas. A ilha grega, famosa entre turistas, também é casa de milhares de gatos que cresceram longe de qualquer conforto, disputando comida, abrigo e atenção. Foi desse contraste que nasceu o Syros Cats, um projeto de voluntariado para cuidar dos animais da ilha.
Pessoas do mundo inteiro se inscrevem para ajudar no abrigo, dedicando cerca de cinco horas por dia, cinco vezes por semana, à rotina de alimentação, limpeza e acompanhamento dos gatinhos. Em troca, recebem hospedagem e café da manhã. Quem passa por lá relata que o convívio com os gatos muda o jeito de olhar para o lugar e para o próprio turismo.
A britânica Nila Marino ficou dois meses na ilha e acabou conquistando seguidores ao mostrar o cotidiano ao lado dos animais. Ela contou que o trabalho era intenso, mas recompensador. Havia tempo para conhecer praias, trilhas e vilarejos, porém os momentos mais marcantes vinham do contato diário com os gatos, muitos ainda desconfiados, outros carentes de afeto.
“Fiquei por dois meses e amei! Meu tempo por lá, sendo voluntária com os gatos, foi maravilhoso. Com certeza recomendo. Gostei de conhecer a ilha, que é linda, de passar tempo com os gatos… Tinha muito tempo livre pra explorar. Quando eu não estava trabalhando, eu saía pela ilha e ia às trilhas, praias. Tem muito para ver”, explicou Nila.
O interesse pelo voluntariado cresceu tanto que o projeto anunciou que as vagas para 2026 já foram preenchidas.
Syros tem cerca de 25 mil moradores e, segundo estimativas locais, algo em torno de três mil gatos vivendo nas ruas. No verão, turistas ajudam como podem, deixando restos de comida e ração, o que garante a sobrevivência temporária de muitos animais, mas também alimenta um ciclo de reprodução sem controle. Os filhotes nascem e crescem em meio a lixo, doenças e perigos constantes. A maioria não chega à velhice e muitos não passam dos três anos.
Não há uma estrutura pública dedicada à proteção animal nas ilhas gregas. O que existe são iniciativas independentes, mantidas por doações, esforço pessoal e muito improviso. Veterinários atendem na ilha, mas trabalham em clínicas particulares e nem sempre conseguem absorver os custos de tantos animais abandonados. Em um cenário econômico apertado, cada castração, cada tratamento e cada saco de ração contam.