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TRAGÉDIA

Projeto já resgatou mais de 2 mil animais afetados por enchentes na BA e MG

25 de janeiro de 2022
5 min. de leitura
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O Grad (Grupo de Resgate de Animais em Desastres) socorre animais afetados por desastres naturais na BA e MG. | Foto: Divulgação

O salvamento de um cão idoso, que acabou ilhado por alguns dias sobre um pedaço de telha, está entre os momentos mais dramáticos vivenciados por uma equipe de voluntários que atua em cidades arrasadas pelos recentes temporais em cidades da Bahia e Minas Gerais. “Resgatamos com muita dificuldade, com água na altura do peito. Dias depois, conseguimos encontrar sua família, que não acreditava que ele estava vivo”, diz a médica veterinária Carla Sássi, 41, ao relembrar do caso ocorrido na zona rural do município baiano de Ilhéus.

Ela coordena o Grad (Grupo de Resgate de Animais em Desastres), que desde o início do mês está a postos para socorrer e proteger os animais afetados pelos desastres naturais. Até agora, cerca de 2.500 animais já foram acolhidos pelo projeto nos dois estados. Na Bahia, 13 profissionais se dividiram entre cidades do sul, sudoeste e extremo sul. Em Minas, até o momento, são 20 voluntários em campo em Congonhas, Pará de Minas, Raposos e Nova Lima e Itabirito.

Eles lidam contra toda sorte de adversidades. Há, por exemplo, dificuldades de locomoção, seja por causa de estradas interditadas ou pela falta de acesso por terra a locais que poderiam receber os animais. Diante dos gargalos logísticos, os próprios voluntários se veem obrigados ao trabalho braçal. Carregam caixas de isopor com vacinas e gelo, pacotes de ração, medicamentos de primeiros socorros e equipamentos de captura.

Atualmente é em Conceição do Pará, no centro oeste mineiro, que as equipes encaram uma situação complexa na tentativa de resgatar um grande número de animais desalojados ou desabrigados. Isso porque há uma barragem sob o risco de rompimento na região. “A comunidade terapêutica que foi evacuada em Conceição do Pará tem cerca de 100 animais, entre aves, cães, porcos, cavalos e bois. Há dias estamos tentando levar alimentação para todos. Porém a barragem está em nível 3, e a comunidade totalmente isolada. O futuro desses animais ainda é incerto”, detalhou Sássi a Ecoa.

Depois do resgate

Além de realizar o trabalho de resgate, o grupo também é responsável por todo tratamento de saúde e alimentação dos animais. Eles cumprem um protocolo sanitário, com a aplicação da vacina V10 — que protege de dez doenças — e contra a leishmaniose e de antiparasitários.

Foto: Divulgação

De acordo com a veterinária, entre as várias espécies atingidas estão os cães, gato, suínos, aves, equinos e bovinos. “Os cães são a espécie mais assistida com o protocolo sanitário, por serem os animais mais próximos das pessoas, principalmente porque muitos são levados para os abrigos. Mas todas as espécies recebem o protocolo, que inclui desparasitação interna e externa e vacinação específica quando necessário. Os cães também recebem coleira repelente”, diz Sássi.

Embora recorram a abrigos, criadouros de mantenedores e ao Cetas (Centros de Triagem de Animais Silvestres) do Ibama, o projeto sempre busca que os animais permaneçam com suas famílias. “Quando não é possível, geralmente são encaminhados a lares temporários ou locais que possam alojá-los por um período, como parque de exposições. Quando é necessário internar para algum tratamento, buscamos clínicas e hospitais veterinários parceiros na região, para realizarem todo o tratamento que precisarem”, afirma a veterinária.

Ao ser questionada sobre a rotina dos profissionais, a voluntária conta que os trabalhos começam assim que o dia amanhece. E não tem hora para acabar. “As situações são muito emergenciais, trabalhamos contra o tempo”, ela diz.

Além das jornadas extenuantes, também não há garantias de que as poucas horas de descanso sejam com o mínimo de conforto. “Já nos alojamos em vários locais diferentes, como em galpão de escola de samba, boate, igreja. Muitas vezes ficamos alojados onde estão as pessoas desabrigadas também. Às vezes conseguimos ficar em hotel ou pousada. Depende muito da estrutura da cidade e dos recursos arrecadados.”

Apesar do improviso na hora de recarregar as baterias, trabalhar com segurança é algo prioritário. Todos os membros utilizam os EPIs necessários. Nos resgates, o material empregado, contudo, depende do cenário. “Geralmente utilizamos cordas, caixas de transporte, mantas aluminizadas, medicação de emergência, tudo o que for necessário para segurança do animal”, detalha Sássi.

Nova Friburgo e Brumadinho

De acordo com a veterinária, a semente do que mais tarde viria a se tornar o Grad foi plantada em janeiro de 2011, por ocasião da tragédia de Nova Friburgo, na região serrana do Rio. À época, 918 pessoas morreram em decorrência das enchentes e 30 mil moradores ficaram desalojados. O episódio é considerado um dos maiores desastres socioambientais do Brasil.

Foto: Divulgação

“Fui pra lá dois dias após o ocorrido e fiquei 29 dias. Ali decidi que iria me dedicar profissionalmente nessa área, para dar assistência aos animais e suas famílias. E, desde então, fui me capacitando. Lá o Grad teve início, comigo e mais dois veterinários, Arthur e Luciana, que estão até hoje também”, relata.

O batismo do Grad, no entanto, só seria oficializado em 25 de janeiro de 2019, quando as equipes atuaram no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), onde uma barragem da Vale se rompeu. A tragédia deixou 270 mortos.

Tal como a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, o grupo faz parte do chamado SCI (Sistema de Comando de Incidentes) e conta hoje, em diversas partes do país, com quase 60 voluntários, incluindo veterinários, biólogos, auxiliares, bombeiros, estudantes, zootecnistas e engenheiros, entre outros.

“Nosso trabalho é totalmente voluntário, sendo necessário recurso financeiro para deslocamento e manutenção das equipes, compra de insumos para resgate e tratamento dos animais, pagamento de internação e manutenção. Não temos vínculo com o governo. Nossa arrecadação é apenas através das pessoas que acreditam e entendem a importância desse trabalho”, diz Sássi.

Fonte: UOL

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