Encantar-se com golfinhos nadando e fazendo rodopios na frente do barco, ou com a observação deles por meio de binóculos do alto do mirante, é fácil. Difícil é estudar e preservar este verdadeiro fenômeno que é a alta concentração de golfinhos-rotadores (Stenella longirostris) no arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. E é exatamente isso o que fazem há 21 anos os pesquisadores e educadores ambientais do Projeto Golfinho-Rotador.
Nesta semana, o projeto, coordenado pelo Centro de Conservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos (CMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e executado pelo Centro Golfinho-Rotador, completa mais um aniversário. E, ao atingir a maioridade, apresenta números impressionantes, que mostram a grandiosidade do trabalho e conferem o reconhecimento e o respeito de autoridades e especialistas em conservação do Brasil e do exterior.
Nesses 21 anos, os pesquisadores e educadores do projeto somaram 5.323 dias e 35.589 horas de observação e 1.278 mergulhos com os cerca de 10 mil golfinhos existentes em Fernando de Noronha, atenderam a 232 mil turistas, promoveram mais de 610 oficinas teóricas e práticas de educação ambiental para estudantes e capacitaram cerca de 7,5 mil alunos. Realizaram ainda 45 cursos profissionalizantes em ecoturismo para a comunidade noronhense, atingindo 1.975 ilhéus.
Por conta das ações de preservação desenvolvidas pelo projeto, a quantidade de golfinhos no arquipélago permanece praticamente a mesma desde 1990, quando foi iniciado o projeto. Na Baía dos Golfinhos, o local de preferência desses cetáceos (eles entram em 95% dos dias do ano na baía), os animais descansam, comunicam-se, reproduzem e amamentam seus filhotes.
Patrocinado desde 2001 pela Petrobras, o projeto conta ainda com apoio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direito Difuso (Ministério da Justiça) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
História
O Projeto Golfinho-Rotador foi criado em 23 de agosto de 1990 pelo analista ambiental José Martins, do ICMBio. “A alta frequência de golfinhos-rotadores, a falta de conhecimento sobre estes animais, a iminência do crescimento desordenado do turismo náutico em Fernando de Noronha, bem como a aspiração de mais de dez anos para viver no arquipélago e minha situação de recém-formado em Oceanografia, me levaram a criar o projeto”, lembra Martins.
De lá para cá, o projeto acumula vários resultados positivos para os rotadores, para a população noronhense, para os visitantes e para a comunidade científica. Martins destaca os ganhos econômicos – divulgação e estímulo ao turismo de observação de golfinhos –; turísticos – aumento do grau de informação sobre golfinhos dos condutores de visitantes; educativos ambientais – aumento da consciência dos ilhéus e visitantes quanto à necessidade de se preservar os golfinhos e o planeta de maneira em geral; e conservacionistas – proposição, divulgação e fiscalização da criação de normas de conservação a cetáceos e de Fernando de Noronha, como a Portaria do Ibama n° 05/1995, que define normas específica para evitar o molestamento dos golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha.
Além disso, reforça Martins, há os resultados científicos, como a descoberta de que o descanso é a principal utilização da Baía dos Golfinhos pelos rotadores; a descrição para a espécie Stenella longirostris dos comportamentos de descanso, reprodução, guarda e amamentação em ambiente natural; a definição e correlacão de parâmetros ambientais com a presença de golfinhos na baía; a qualificação e quantificação da taxa de ocupação da Baía dos Golfinhos pelos golfinhos-rotadores ao longo de 20 anos, relacionando essa taxa com parâmetros ambientais e com as perturbações do turismo náutico.
“Em função desse trabalho, a probabilidade de se encontrar golfinhos em Fernando de Noronha é a mesma desde 1990, demonstrando que os esforços de conservação do Ibama, agora ICMBio, e do Projeto Golfinho-Rotador têm dado certo, apesar de já começar a surgir algumas alterações quanto ao tempo de permanência dos rotadores na Baía dos Golfinhos”, alerta Martins.
Além disso, o Projeto Golfinho-Rotador deu importante contribuição para a criação do Santuário de Baleias e Golfinhos do Brasil, que tem grande significado político quanto à posição conservacionista do país perante à Comissão Internacional da Baleia, de valorização do uso não-letal de cetáceos.
Luz Vermelha
Apesar do trabalho do Projeto Golfinho-Rotador, o turismo náutico tem impactado no deslocamento dos rotadores para uma nova área: a Baía de Santo Antônio e Entre Ilhas. Entre 1991 e 2005, os golfinhos ocupavam a Entre Ilhas em 30% dos dias do ano; enquanto que em 2006 e 2007, essa frequência passou a ser de 50% dos dias do ano. Em 2008 e 2009, esse percentual subiu ainda mais: 90% dos dias.
Em 2010, foram registrados golfinhos-rotadores descansando na região Entre Ilhas em 95% dos dias, enquanto que na Baía dos Golfinhos o tempo de permanência caiu para menos de 3 horas por dia em média, contra 8 horas nos primeiros dez anos do Projeto Golfinho-Rotador. “Esse é um primeiro alerta de que os rotadores podem ir embora de Fernando de Noronha. Se não fosse o Projeto Golfinho Rotador, que protege essa população, os rotadores já teriam saído da ilha”, diz José Martins.
Segundo o coordenador do projeto, observou-se uma clara diminuição do tempo de permanência dos rotadores na Baía dos Golfinhos ao longo dos anos de estudo, principalmente a partir de 2003. Diminuição esta com correlação negativa (r=-0,120; p=0,005) com o tráfego de embarcações de turismo defronte à enseada, principalmente nos dias em que Fernando de Noronha é visitada por cruzeiros turísticos.
Agora, com a perspectiva do atracamento de um novo navio maior, o Ocean Dream, com capacidade para 1.350 passageiros, ao invés dos 700 dos navios que operavam anteriormente, os impactos sobre os golfinhos certamente aumentarão.
Sustentabilidade
O modelo de construção do prédio-sede do Centro Golfinho-Rotador ganhou o Prêmio Procel nacional pela preocupação com o consumo de energia mais consciente. O projeto prevê a melhor circulação de ar cruzada, para evitar o uso de condicionadores de ar; aberturas para amenizar a incidência solar; projeto hidrossanitário com reuso das águas pluviais por calhas e cisterna; e projeto elétrico com aquecimento solar das águas dos chuveiros, entre outras preocupações sustentáveis.
Na construção, foram usados materiais certificados e reciclados, cobertura de telha Tetrapak (reciclagem de tubos de pasta de dentes), forro de painel OSB (madeira de reflorestamento) e caixa de descargas econômicas.
“Conforme diretriz da Política Ambiental do Projeto Golfinho-Rotador, por meio do programa de sustentabilidade, foi estimulado o emprego de práticas sustentáveis nas hospedarias domiciliares e nos supermercados, bem como na sede e nas rotinas de trabalho, como exemplo da viabilidade de uma vida mais sustentável em Fernando de Noronha”, diz o coordenador do Projeto-Golfinho Rotador, José Martins.
Ainda segundo Martins, o projeto arquitetônico da sede atende às legislações locais e federais e outros requisitos, com o gerenciamento correto dos seus aspectos e impactos significativos de sustentabilidade. “Usamos processos construtivos e materiais sustentáveis em nossas instalações, como máximo da luz natural, da ventilação e da captação de água de chuva, telhado branco de embalagem tetrapak (reciclado), contribuindo para a diminuição do aquecimento global, separação do nosso lixo ”, lista ele.
Além disso, destaca o coordenador, o Projeto Golfinho-Rotador adota em suas instalações produtos de limpeza biodegradáveis, elaborados pela própria equipe a partir de componentes naturais, monitoramento e registro do consumo de energia elétrica, água e da produção de resíduos, consumo racional de energia elétrica, com aquecimento solar nos chuveiros, utilização de equipamentos, acessórios e lâmpadas de baixo consumo energético, projeto paisagístico e de recomposição ambiental com plantas endêmicas e frutíferas, emprego das podas e varrição do jardim na compostagem, assim como restos dos alimentos consumidos pela equipe, política de compra de produtos e serviços ecologicamente adequados e que ajudem a promover uma sociedade mais justa e saudável. Para completar, toda a madeira do prédio é certificada e de reflorestamento, e o projeto arquitetônico do prédio minimiza a impermeabilização do solo.
O Projeto
Missão e Objetivos
A missão do Projeto Golfinho-Rotador é desenvolver ações de pesquisa, educação ambiental e envolvimento comunitário em prol da conservação dos golfinhos-rotadores, de Fernando de Noronha e da biodiversidade marinha. Os objetivos são ampliar o conhecimento científico sobre golfinho-rotador; sistematizar o armazenamento e a gestão de dados pertinentes; promover divulgação dos resultados das pesquisas junto à comunidade científica; promover educação ambiental em Fernando de Noronha; promover capacitação profissional para que a população noronhense se beneficie do turismo; incentivar ações em prol da cultura e do esporte na ilha; subsidiar e implementar políticas públicas e instrumentos de conservação da biodiversidade de mamíferos aquáticos e de ecossistemas recifais; apoiar a gestão do Parque Nacional Marinho e da Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha, bem como de outras unidades de conservação nacionais de relevante interesse para a conservação de mamíferos aquáticos e de ecossistemas recifais; e divulgar as ações junto à mídia e aos demais públicos de relacionamento.
Metodologia do trabalho
Em função de fatores como disponibilidade de recursos financeiros, de equipamentos, de espaço para alojamento e de equipe, o Projeto Golfinho-Rotador foi incorporando aos poucos novas etapas metodológicas. Atualmente, dispõe do que considera o mínimo necessário para ser um programa de conservação da natureza, desenvolvendo atividades de pesquisa científica, orientação à visitação, criação de legislação específica, fiscalização ao cumprimento da legislação, educação ambiental e envolvimento comunitário.
Ações
O Projeto Golfinho-Rotador executa suas ações por meio de três programas: pesquisa, educação ambiental e envolvimento comunitário. Veja, a seguir, o detalhamento desses programas com as informações necessárias para entender como o projeto atingiu os resultados científicos.
A pesquisa
O Programa de Pesquisa do Projeto Golfinho-Rotador consiste no estudo da história natural dos golfinhos-rotadores por meio de setes subprogramas: ocupação e distribuição de cetáceos, ecologia comportamental, catalogação dos golfinhos, caracterização genética, interação do turismo com os golfinhos, comportamento trófico e Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos.
O monitoramento da Baía dos Golfinhos
A Baía dos Golfinhos foi monitorada por meio do registro da ocupação da enseada pelos rotadores entre 10 de janeiro de 1991 e 23 de agosto de 2011, com esforço amostral em 5.323 dias, totalizando 35.589 horas de observação, com uma média diária de mais de 7 horas de estudo em campo. Para este subprograma, são executadas observações ponto fixo do Mirante dos Golfinhos, com análise comportamental de registros escritos, fotográficos, videográficos e bioacústicos.
Os mergulhos livres
Entre janeiro de 1991 e 23 de agosto de 2011, foram realizados 1.278 mergulhos com golfinhos, totalizando 610 horas de observação subaquática dos rotadores em Fernando de Noronha. As observações em mergulho em sua grande maioria (75%) ocorreram dentro da Baía dos Golfinhos ou na Entre Ilhas. Em 80% do tempo de mergulho foi observado diretamente os golfinhos dentro d´água. Também foram realizadas 52 horas de filmagens e tiradas cerca 60 mil fotografias dos golfinhos-rotadores e de seus comportamentos em Fernando de Noronha.
A educação ambiental
A mitigação dos problemas socioambientais de Fernando de Noronha depende da participação da população no uso responsável dos recursos naturais e na execução consciente das atividades turísticas. O Projeto Golfinho-Rotador, em parceria com Parnamar-FN, APA-FN e Escola AFN, executou um amplo programa de Educação Ambiental, com foco na temática marinha e nas inter-relações ecológicas deste ecossistema com o cotidiano da população local e dos visitantes.
Os ilhéus
Com os ilhéus, a educação ambiental consiste na realização de atividades de percepção, sensibilização e conscientização com os prestadores de serviços turísticos e com os alunos da Escola Arquipélago Fernando de Noronha. Um dos objetivos da Educação Ambiental foi sensibilizar quanto à importância da conservação e ao uso sustentável do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e da Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha. A metodologia de trabalho foi organizada em função da segmentação do público-alvo.
Prestadores de serviços turísticos
Com os prestadores de serviços turísticos do Parque Nacional Marinho e da APA de Fernando de Noronha foram realizados debates ambientais com vários segmentos, como condutores de visitantes, proprietários e motoristas de veículos de transporte terrestre, proprietários e tripulantes de embarcações turísticas e proprietários das empresas, condutores de mergulho autônomo e proprietários e funcionários das pousadas.
Alunos da Escola FN
Com os alunos da Escola Arquipélago Fernando de Noronha (Escola FN), foram promovidas atividades da disciplina Educação Ambiental, oficinas ambientais teóricas e oficinas ambientais práticas. Entre 2001 e 2011, foram 610 Oficinas Teóricas de Educação Ambiental, envolvendo cerca de 7,5 mil alunos. Alguns temas abordados nas oficinas teóricas foram: Aspectos Abióticos e Bióticos do Planeta Terra; Teoria Gaia e Interdependência; Diversidade Biológica e Adaptação; Ecossistemas de Fernando de Noronha; História da Relação do Homem com os Recursos Naturais; Histórico da Ocupação Humana em Fernando de Noronha; Sustentabilidade; Estratégia do Golfinho; Zoneamento e Áreas Protegidas, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Parque Nacional Marinho de FN e Área de Proteção Ambiental de FN.
Como principal resultado alcançado com os estudantes da Escola FN, o projeto obteve a ampliação do conhecimento ambiental sobre o Parque Nacional Marinho e a APA de Fernando de Noronha, o que foi constatado pela análise dos questionários de avaliação, que registraram incremento médio de acerto de cerca de 20% entre os questionários aplicados antes e após as oficinas.
Férias Ecológicas
Nos anos 1996, 2001, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010, o Projeto Golfinho-Rotador realizou as Férias Ecológicas, um programa idealizado em 1990 pelo então chefe do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, Heleno Armando da Silva, e o chefe de Fiscalização, Josivan Rabelo, visando a aproximar a população local das ações de conservação da unidade. O programa proporciona uma série de ações educativas práticas e teóricas desenvolvidas com estudantes da ilha, com o objetivo de sensibilizar crianças e adolescentes frente aos processos naturais e sociais, além de oferecer opções de lazer educativo para as crianças em férias escolares.
Nestes nove anos, 655 alunos e 45 monitores participaram das Férias Ecológicas. As atividades atenderam estudantes da Escola AFN, entre 3 e 17 anos. As turmas foram divididas em faixas etárias, cada qual participando durante seis dias da semana, de segunda a sábado. Assim, foram promovidas apresentações, debates, trabalhos manuais, jogos e saídas de campo. Foram abordados também temas sobre a conservação da biodiversidade, paisagens e comportamento dos golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha.
Anualmente, há oficinas paralelas de capoeira, música, teatro de fantoche e maracatu, bem como atividades de mergulho com golfinhos, mergulho livre orientado em locais fechados à visitação para grande público, trilha do Mirante dos Golfinhos, passeio de barco, escultura de areia e caça ao tesouro na praia, oficina de pipas, “programa de índio”, “trilha cega”, oficina de fotografia, “flanelógrafo”, construção de molduras em papel machê, oficina de reciclagem, “cinemar”, reconstrução de ambientes, mosaicismo e pintura de camisetas.
O Programa Férias Ecológicas vem despertando nas crianças e adolescentes da comunidade noronhense a consciência ambiental que nos dias de hoje é fundamental para a preservação das maravilhas de Fernando de Noronha e a conservação ambiental do planeta como um todo. Além disso, o programa tem melhorado a auto-estima destas crianças e adolescentes, fazendo-os compreender que são os principais responsáveis pela manutenção da biodiversidade e equilíbrio do Arquipélago.
O programa também possui um grande alcance social, à medida que cria oportunidades de diversão e aprendizado para crianças e adolescentes noronhenses e impede que estes estejam entregues ao ócio em pleno verão, quando o turismo atinge seu ápice e a grande quantidade de turistas inevitavelmente implica na entrada de diversas realidades e mentalidades para o convívio com a comunidade. É durante este período que os pais estão mais atarefados e consequentemente menos presentes dentro da estrutura familiar, uma vez que o turismo representa a principal atividade sócio-econômica da ilha.
O principal resultado atingido pelas atividades de educação ambiental com os prestadores de turismo foi sua inserção nas discussões de temas relacionados ao funcionamento do Parque Nacinoal de Fernando de Noronha e da APA, sendo um dos temas procedimentos para observação de golfinhos.
A continuidade do programa tem sido fundamental para alcançar os objetivos planejados e desejados de envolver e sensibilizar as crianças e os adolescentes que participaram das atividades, bem como dos monitores, pais e idealizadores.
Os visitantes
Com os turistas, o Projeto Golfinho-Rotador mantém programa de sensibilização e orientação ambiental nos pontos mais visitados de Fernando de Noronha: Porto Santo Antônio, Baía do Sueste e Mirante dos Golfinhos. Além de orientar e distribuir folder interpretativo aos visitantes, os monitores registravam as infrações ambientais às normas do Parque e da APA.
No Porto Santo Antônio, foram 191 dias com 736 horas e 50 minutos de observação, período em que foi registrada a presença de 35.820 turistas (M=189,52; DP=52,87). Na Baia do Sueste foram 67 dias de trabalho, totalizando 253 horas e 48 minutos de observação, quando foi registrada a presença de 4.165 turistas (M=60,36; DP=27,31). No Mirante dos Golfinhos, entre 1991 e 2011, foram 5.323 dias de orientação a visitação e monitoramento do cumprimento da legislação ambiental, totalizando 35.589 horas. Neste período, foram atendidos 232 mil turistas.
Uma vez por semana é ministrada palestra sobre golfinho-rotador aos visitantes e moradores no Centro de Visitantes do Projeto Tamar/ICMBio, com público médio de 75 pessoas.
O envolvimento comunitário
O Programa de Envolvimento Comunitário objetiva estimular o desenvolvimento sustentável de Fernando de Noronha, promovendo capacitação profissional, consolidando representatividade em conselhos locais e apoiando iniciativas culturais e esportivas. Assim, são executados três subprogramas: Capacitação Profissional, Gestão Participativa de Fernando de Noronha e Apoio Esportivo e Cultural.
A capacitação profissional
O método que o Projeto Golfinho-Rotador escolheu para participar com a comunidade na busca do desenvolvimento sustentável de Fernando de Noronha foi a capacitação profissional dos ilhéus em ecoturismo. A capacitação dos jovens locais para o mercado de trabalho em ecoturismo ocorre por meio da realização gratuita de cursos de formação em profissões relacionadas ao turismo local, como instrutor de mergulho autônomo e conversação em inglês.
De 2005 a 2011, o Projeto Golfinho-Rotador realizou 45 cursos profissionalizantes, como Condutor em Mergulho Autônomo, Condutor de Turismo em Observação de Ecossistemas Recifais, Condutor de Turismo de Observação de Aves, Condutor de Turismo e Observação de Golfinhos, Condução de Geoturismo em Fernando de Noronha, Condução de ecoturismo em Unidade de Conservação, Condução de Turismo Histórico em FN, Técnicas em Ecoturismo, Primeiros Socorros, Marinharia, Mecânica Náutica, Produção de Artesanato, Confecção de Pranchas, Conversação em Inglês, Informática Básica, Informática Aplicada, Informática Funcional, Gestão do Empreendimento, Gestão em Ecoturismo, Hotelaria, Gestão de Restaurantes e Hotéis, Qualidade no Atendimento ao Turismo e Apresentação de Maracatu. Ao todo foram 1.975 inscritos, com um índice médio de aprovação por curso de 70%.
O Programa de Capacitação Profissional tem melhorado a qualidade dos serviços oferecidos em ecoturismo e fornece subsídios para a população noronhense construir uma sociedade sustentável em Fernando de Noronha, uma vez que a solução ou mitigação dos problemas ambientais e sociais locais passa pela participação consciente da população na execução das atividades turísticas e nas diretrizes do desenvolvimento, buscando transformar o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha realmente em um polo de ecoturismo, onde a atividade turística seja sustentável.
Os Golfinhos-rotadores
De acordo com hipótese dos pesquisadores do projeto, os golfinhos-rotadores de Noronha vivem na Cadeia de Montanhas Submarina de Fernando de Noronha. Uma área com forma retangular com as seguintes posições: o Monte Submarino 379 (coordenadas geográficas: 4º10’Sul e 32º00’Oeste), distante 58 km a sudeste de Fernando de Noronha, é a extremidade oeste desta área; o Atol das Rocas (3°50′ Sul e 33°50’Oeste), 159 km a leste de Noronha, é o centro; o Banco Sírius (4º00′ Sul e 36º00′ Oeste), localizado a 400 km de Noronha, é a extremidade leste; a borda do prolongamento da Plataforma Continental defronte ao Cabo do Calcanhar (5º00’Norte e 35º00’Oeste), no Estado do Rio Grande do Norte, é a localização mais próxima do continente, estando distante 316 km de Fernando de Noronha).
Nos 4.725 dias em que foi possível contar os golfinhos entrando na enseada, a frequência máxima diária oscilou entre 2 e 2.046 indivíduos, com média diária de 335,25 e desvio padrão (DP) de 227,47.
Nos 3.193 dias em que foi possível definir o tempo de permanência dos golfinhos na enseada, os valores variaram de 1 minuto até 12 horas e 45 minutos, com média de 5 horas e 44 minutos e desvio padrão de 3 horas e 35 minutos. Os rotadores só foram observados dentro da Baía dos Golfinhos durante o dia. Nas 75 ocasiões em que foram realizadas observações noturnas na Baía dos Golfinhos, em noites de lua cheia, não foi encontrado nenhum rotador na enseada.
A Baía de Santo Antônio/Entre Ilhas passou a ser o local do Arquipélago de Fernando de Noronha preferido pelos rotadores para descansar, enquanto diminuiu o tempo de permanência destes cetáceos na Baía dos Golfinhos.
Nas duas áreas de maior concentração e frequência dos rotadores no Arquipélago de Fernando de Noronha, a Baía dos Golfinhos e Entre Ilhas, notou-se que os animais desenvolvem comportamentos vitais para seu ciclo biológico, com exceção de alimentação. Eles foram vistos descansando, em atividades sexuais, cuidando dos filhotes, de guarda às ameaças, comunicando-se, sendo infectados por agentes patogênicos e interagindo com outras espécies animais. O comportamento de alimentação dos rotadores, que nunca foi observado na Baía dos Golfinhos ou na Entre Ilha, normalmente ocorre no Mar de Fora.
A estratégia sexual dos rotadores de Noronha resulta em uma estrutura social muito fluída, na qual inexiste a figura paterna, os laços familiares são derivações da relação mãe-filho e irmã-irmã. Segundo esses laços, os golfinhos agrupam-se em unidades familiares, sobre as quais se associam os machos adultos, que flutuam entre as diferentes células familiares.
O sistema de comunicação aéreo foi composto por diversos padrões de saltos e batidas com partes do corpo na superfície do mar, as quais produziam turbulências características quando o golfinho reentrava na água. É muito evidente a flutuação horária do grau de agitação dos rotadores na Baía dos Golfinhos ao longo do dia, em função do número de golfinhos na Baía, hora de chegada dos animais e número de grupos que chegaram.
Pesquisadores do projeto observaram em Fernando de Noronha que alguns comportamentos específicos são executados preferencialmente por machos adultos, o que, para animais que têm estrutura social complexa como os rotadores, são definidos como atividades de proteção, realizadas pelos indivíduos que estão “de guarda” protegendo o grupo de ameaças, enquanto que os demais indivíduos podem se dedicar a outras atividades, como descanso, reprodução e cuidado parental.
Esses comportamentos, classificados pelos pesquisadores como “de guarda” são enfrentar tubarões, acompanhar embarcações, cercar mergulhadores e executar atividades aéreas. Os rotadores que estão de guarda são os líderes do momento. Ao deixarem a guarda, executam outro comportamento, como descanso, deixando de ser líder. Neste momento, provavelmente outro rotador vai ficar de guarda e assumir a liderança. Sendo por isto, a liderança temporária e compartilhada.
Os golfinhos-rotadores apresentaram um complexo comportamento social, com vários sistemas de comunicação, como visual, tátil, químico-sensorial, acústicos e por atividade aérea. São estes dois últimos que os pesquisadores conseguem estudar em Noronha
Fonte: Sodoeste