EnglishEspañolPortuguês

TORTURA E CRUELDADE

Projeto de lei propõe fim da exportação de animais vivos em até cinco anos no Brasil

16 de agosto de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
A-
A+
Foto: Reprodução

Um projeto de lei apresentado pela deputada Duda Salabert (PDT-MG) propõe o fim da exportação de bois vivos em cinco anos, estabelecendo cotas anuais de redução até o cumprimento total da meta e normas de bem-estar animal durante o transporte. A proposta, registrada como PL 2.627/2025, também prevê limites de funcionamento das embarcações, presença de equipes veterinárias a bordo e fiscalização contínua pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), segundo reportagem de Guilherme Cavalcanti publicada pela Agência Pública em 13 de agosto de 2025.

A prática de exportar animais vivos tem impactos graves, já demonstrados por episódios como o naufrágio de um navio no porto de Vila do Conde, no Pará, em 2015, que deixou cerca de 5 mil bois mortos em rios e mares, com manchas de óleo diesel e forte odor que afetaram comunidades pesqueiras, segundo a Agência Pública. Amontoados em baias metálicas, bois viajam por até 30 dias pelos oceanos Atlântico e Índico, expostos a fezes, urina, calor extremo e concentração de amônia, o que provoca estresse térmico, cegueira e morte de muitos animais antes da chegada ao destino. Em 2024, cerca de 1 milhão de bovinos foram exportados, de acordo com dados do Sistema Comex Stat citados pela Agência Pública.

A deputada Duda Salabert argumenta que a substituição da exportação de animais vivos pela venda de carne agregaria valor econômico ao setor, geraria mais empregos e respeitaria a balança comercial, citando experiências internacionais que indicam crescimento da exportação de carne refrigerada e congelada após restrições à exportação de animais vivos. Salabert destacou à Agência Pública que a prática representa menos de 5% do valor da carne exportada, mas que o argumento econômico é usado para travar avanços.

PL 2627, de Duda Salabert, propõe fim do transporte de animais vivos em cinco anos

Segundo George Sturaro, diretor de Relações Governamentais da ONG Mercy For Animals, a redução gradual do número de animais por embarcação e a melhoria das condições de transporte podem tornar a atividade economicamente inviável, enquanto o confinamento contínuo favorece infecções respiratórias e oculares, muitas vezes sem veterinário suficiente a bordo. Sturaro também observa que projetos semelhantes enfrentam resistência da bancada ruralista nas comissões de Agricultura da Câmara e do Senado.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) mostram que a exportação de gado vivo rendeu R$ 2,4 bilhões em 2023, menos da metade do faturamento com couro (R$ 5,6 bilhões) e muito abaixo da exportação de carne, que alcançou R$ 49,9 bilhões. O Mapa não respondeu questionamentos sobre fiscalização ou diferenças entre normas e práticas observadas.

Uma audiência pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado está marcada para 19 de agosto, convocada pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES), para debater os impactos socioeconômicos, sanitários e ambientais do transporte de animais vivos e discutir projetos de lei relacionados. Contarato afirmou à Agência Pública que práticas brutais, desnecessárias e economicamente questionáveis, como a exportação de animais vivos para abate no exterior, não podem ser toleradas em um país que se pretende moderno e humanitário.

Você viu?

Ir para o topo