(da Redação)
O condado de Hendry, no estado americano da Flórida, é uma região de fazendas de exploração de diversos tipos de animais, mas uma espécie em particular está chamando atenção de ativistas. Uma empresa pretende criar na região um novo criadouro para reproduzir macacos para pesquisa biomédica, com uma população cativa de 3 mil pequenos primatas em sua primeira fase. As informações são dos sites Naple Daily News, Their Turn, New York Post e Huffington Post Blog.
A pesquisa científica com animais é questionada ao redor do mundo, em particular aquela feita com pequenos primatas. No entanto, os Estados Unidos continuam a ser o único país industrializado a permitir o uso de grandes primatas não-humanos, como chimpanzés, em pesquisas e continua a ser um grande “consumidor” de pequenos macacos para seus laboratórios.
A exportação de macacos para laboratórios já foi proibida em vários países, como Israel, e muitas linhas áreas não aceitam mais transportá-los. Por isso, cresce a pressão para a criação de fazendas de reprodução de macacos no território americano.
Hendry já possui dois criadouros de pequenos primatas para exploração em pesquisas científicas e o novo estabelecimento seria o terceiro do gênero. O projeto foi aprovado sem consulta pública, como seria requerido por algumas disposições legais do estado. O administrador do condado, Charles Chapman, afirmou que o condado não precisa desse tipo de procedimento para a implantação de novas atividades de “agricultura” – o que, segundo ele, incluiria até fazendas de criação de espécies exóticas não-nativas para pesquisas em laboratório.
O novo empreendimento é responsabilidade da PreLabs LLC e irá se chamar Primera Science Center. Ele pretende começar com 3 mil macacos de cauda. Grupos de direitos animais como o Animal Defenders International (ADI) denunciam que a empresa pretende importar seus primeiros espécimes da Maurícia – uma república insular do continente africano mal-afamada por ser um grande centro de sequestro, reprodução e envio de pequenos primatas para pesquisas.
Uma investigação da ADI revelou a brutalidade contra os animais aprisionados na empresa Biodia, parceira da PreLabs na Maurícia. Na fazenda, macacos eram injetados em partes dolorosas, tatuados sem anestesia, manipulados de forma dolorosa ou perigosa – incluindo fêmeas grávidas – submetidos a várias formas de abuso psicológico e estresse, entre outras violências. A empresa nega que irá importar os primatas.
Quando os planos foram descobertos, em 2014, sérias questões foram levantadas por oficiais locais e estaduais, por ativistas e pelo público em geral, criando um longo debate que ainda está em pauta. “É errado, totalmente errado”, diz Keely Cinkota, moradora da região. “A vida para a qual eles [macacos] são criados é totalmente errada”. A se tomar por exemplo as brutais fazendas da Maurícia e outras acusações de maus-tratos contra animais que pesam sobre a PreLabs, as cobaias provavelmente sofrerão bastante mesmo antes de serem submetidas aos experimentos farmacêuticos ou biomédicos aos quais são destinadas.
Documentos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontaram uma série de irregularidades em outro laboratório da empresa chamado Central State Primates Inc. Nos documentos, a inspetora responsável pela visita à fazenda listou uma série de problemas graves, como fêmeas com “90% de perda de cabelo”. A inspetora não encontrou registros de uma avaliação veterinária sobre o estado das fêmeas com queda de pelo, que poderiam ter origem em problemas nutricionais ou endócrinos. Inquirido, o responsável disse acreditar que a condição seria causada por estresse, “mas não oferece aos animais nenhum enriquecimento ambiental além do mínimo dado a todos os animais que ali moram”, escreveu ela.
As condições sanitárias não deixam por menos. Havia fezes em várias gaiolas, além de mofo e outras substâncias; certas áreas do criadouro simplesmente não eram limpas, deixando-se criar um acúmulo de matéria orgânica. Há registros da urina de um animal gotejar na gaiola diretamente inferior. Diversos ambientes eram insalubres, o que prejudica a saúde dos animais. A iluminação era inadequada para diversas jaulas. O projeto de enriquecimento psicológico obrigatório apresentado foi considerado equivocado por parte da inspetora. A sala de quarentena tinha umidade muito elevada e, quando questionado, o diretor disse não ter como regulá-la nem saber qual deveria ser a taxa adequada para as espécies de macacos.
Outro problema apontado é o risco ambiental causado pela possibilidade de fuga e introdução de uma espécie exótica no meio ambiente da Flórida. Isto chegou a acontecer de fato: em 1992, o furacão Andrew causou grandes estragos na região e efetivamente libertou do cativeiro alguns primatas nativos na cidade de Miami. “Espalhou-se um boato de que os animais estavam sendo usados para pesquisas com AIDS; houve pânico e as pessoas começaram a atirar neles no meio da rua”, diz o presidente da ADI, Jan Creamer, em carta contra o projeto. A Primera afirma que seu projeto é altamente protegido contra furacões.
Há também problemas burocráticos. Além da ausência de discussão pública requerida por lei, descobriu-se que a empresa conseguiu sua licença de abastecimento de água alegando tratar-se de uma fazenda de livestock – termo usado para indicar animais explorados na produção de alimento.
Em novembro de 2014, a organização Animal Legal Defense Fund entrou com uma ação na justiça pedindo a revogação da licença de construção dada à Primera. Em um comunicado oficial, a empresa se diz vítima de uma campanha mentirosa de “grupos extremistas de direitos animais”.
Manifeste sua indignação e assine a petição contra o novo projeto de criadouro de macacos na Flórida.