Tanto na mitologia como na ótica da religião, anjos são seres que têm asas. Entretanto, em Pinda, o autônomo Celso Hommer iniciou um trabalho denominado “Anjos de Rodinhas”. Ele ajuda cães deficientes a encontrarem uma nova forma de retomar uma vida normal.
Hommer constrói “cadeiras de rodas” adaptadas para animais dométicos sob medida. Esse trabalho é divulgado em uma página nas redes sociais e, por meio dela, inclusive, já conseguiu ajudar animais de outros estados, como Goiás, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
“O tutor (do cão) ajuda com material quando tem condições financeiras. Quando não, temos toda uma equipe que conhece e admira nosso trabalho e acabam colaborando por meio de doações. Eu faço a cadeirinha mas, por trás disso, existem várias pessoas que ajudam indiretamente”, revela.
Como tudo começou
Há dois anos, Hommer era funcionário do pedágio da Água Preta e, um belo dia, avistou uma cachorrinha que apareceu na ciclovia. Ele começou alimentá-la para criar uma relação de amizade, visto que seu objetivo era levar a cadela para casa, pois sabia que aquele ambiente era perigoso, principalmente devido ao trânsito.
Inicialmente, ela era meio arisca então, para essa aproximação, Hommer levava alguns petiscos até que a confiança fosse conquistada.
O acidente
Em meio ao desenrolar dessa nova relação de amizade e confiança, ele planejou um dia em que iria trabalhar de carro a fim de trazer a cadela para sua residência. Porém, foi informado de que não seria necessário ir ao serviço naquele dia.
Mesmo sem a presença de Hommer no local, a cachorrinha foi até lá e, como não encontrou ninguém que lhe oferecesse um petisco, acabou atravessando a pista – momento em que foi atingida por um automóvel. Os passageiros desceram do veículo e colocaram-na no acostamento, mas ela acabou se arrastando e entrando no matagal, onde ficou cerca de oito dias, pois ninguém conseguia encontrá-la.
Hommer escutava os latidos do animal e esperava o dia amanhecer para que a claridade o ajudasse a achar a pequena cadela. No oitavo dia, já sem esperanças, “Vi”, como é chamada, foi encontrada. “Ela estava só pele e osso e a pata traseira já estava em decomposição. Do jeito que peguei o animal, levei ao veterinário, que optou por amputar uma das patas e fazer curativo na outra que, uma semana depois, também foi amputada”, relata.
Convivendo com a deficiência
O autônomo comenta sobre o desafio de ter o primeiro contato com um animal deficiente. Ele comenta que a primeira atitude foi procurar uma cadeira de rodas para o animal. Mesmo assim, ela não se adaptou. “Diante disso, fui pesquisar na internet instruções para construir uma cadeira e acabou construindo a primeira cadeirinha de rodas de cano “pvc”. Hommer fez várias tentativas construindo cadeiras. Embora a cadela Vi não tenha se adaptado com a alternativa, ele acabou descobrindo, ali, uma forma de ajudar animais deficientes.
“As pessoas que sabiam que eu construia cadeiras, me falavam de animais com deficiência e eu me dispunha a ir até eles, tirar a medida e confeccionar as cadeirinhas. E foi assim que a ação começou. Por ajudar a minha cadela, comecei a ajudar os outros cães”, orgulha-se Hommer.
Cães
Apesar de tudo ter começado com a pequena Vi, ela nunca se adaptou às cadeiras. Dessa forma, ela anda se arrastando com o “toquinho” das patas e exige de Hommer um cuidado todo especial, pois tem a saúde frágil, principalmente quando se trata de bactérias.
“Como ela se arrasta mas precisa se exercitar, preciso levá-la sempre onde há grama. Assim, ela não se machuca e consegue brincar um pouco. Não a deixo andar no asfalto ou cimento para não machucar”, revela.
Anjos de Rodinhas
Hommer então, na intenção de ajudar os outros cães deficientes, criou uma página no Facebook. Quando começou a construir as cadeiras, teve o desejo de criar uma forma de divulgar para todo o Brasil. Assim, o trabalho foi disseminado e ele já atendeu pedidos de Goiás, Natal e sul do país, enviando a cadeirinha pelos Correios.
Projeto
Hommer ainda conta que a intenção é criar, a partir desse trabalho, uma associação de amparo ao cão deficiente, objetivo este que vem buscando consolidar. Além disso, também busca parceiros que possam colaborar com a iniciativa. “A causa animal é abrangente. Comecei com a cadeirinha de rodas e, quando vi, já estava me envolvendo com tudo. Os maus-tratos começam com o tutor que não cuida. Também existem os animais abandonados, os animais doentes. Acabei me engajando na causa animal. Infelizmente, não posso resgatar nenhum animal, mas procuramos dar aparato para os tutores que não têm condições, seja com alimentação, cuidados, veterinário entre outros. É cada um fazendo a sua parte para melhorar a vida dos animais”, afirma.
Em defesa dos animais
O autônomo levanta a bandeira pela defesa de cães com deficiência, pois muitas pessoas decidem descartar esses animais, acreditando que só porque não andam mais não podem ter uma vida normal. “Eu tenho uma deficiente em casa e ela convive normalmente. Não é só porque não está andando que deve ser sacrificada”.
Ajuda
Quem tiver um animalzinho deficiente e desejar entrar em contato, pode acessar a página Anjos de Rodinhas.
Fonte: Tribuna do Norte