A duplicação das vias da rodovia Manuel Urbano (AM-070) e as recentes invasões na rodovia têm dispersado os animais silvestres e provocado acidentes no decorrer da pista. A observação é dos próprios moradores que vivem às margens da AM-070.
Do início da rodovia Manoel Urbano até o km 15, as atividades de duplicação da via não param. Em vários trechos da pista que compreendem esses quilômetros é possível ver o desmatamento da floresta e maquinário pesado trabalhando na via que dará acesso à Cidade Universitária da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). As obras foram autorizadas esta semana pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), após ter “segurado” o projeto por mais de quatro meses.
A prefeitura de Iranduba (AM) registrou ainda o surgimento de três invasões nos quilômetros 4, 6 e 8 daquela rodovia. A estimativa é que exista aproximadamente mil invasores morando nessas áreas.
Morador há dois anos do quilômetro 54 da rodovia, o agricultor Enerstro Pereira afirma ter encontrado mais animais silvestres próximo à casa dele depois no início das obras. “Na minha casa aumentou a quantidade de cobras. Aqui próximo, na comunidade Santa Luzia, já viram até onça! Era por volta das 23h quando viram o animal por lá. Perigoso demais”, disse.
A fuga dos animais, segundo o agricultor, também é atestada no crescimento no número de acidentes. “Daqui de casa eu já vi amanhecer tamanduás, mucuras e tatus atropelados aqui na via. É compreensível, porque as pessoas andam muito rápido nas rodovias, não é? Mas desde que as obras começaram o número de acidentes também aumentou bastante”, avaliou.
Romoaldo Guimarães, 56, mora no quilômetros 67 da AM-070. Ele conta que da varanda de casa é comum ver os acidentes envolvendo animais. “Venho sempre ver se não é um dos meus bichos. Hoje mesmo de manhã teve um acidente e pensei que era um dos meus patos, mas era uma mucura da mata mesmo”, afirmou.
Há 20 anos morando na rodovia, Romoaldo disse que já acompanhou várias vezes a movimentação dos animais dentro da floresta e perto da pista. “Eles não têm para onde ir e procuram a terra firme mais próxima, nossas casas. Se estão desmatando lá no começo da rodovia é natural que eles venham para cá, que ainda tem mata fechada”, disse.
‘Fuga dos animais’ na área urbana
A invasão de animais silvestres também é registrada dentro da área urbana de Manaus. Em cinco meses, o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam) registrou o resgate de 150 animais silvestres em residências de Manaus.
O órgão é o responsável pelo resgate e destinação de animais silvestres que estão, de forma inadequada, em locais urbanos. Entre os animais recuperados estão aves, macacos e jacarés.
Segundo dados da Fundação de Medicina Tropical o número de atendimentos feitos na unidade também aumentou em comparação com o ano passado. Entre janeiro e junho de 2013 foram registrados 251 pacientes atendidos por acidentes causados por contato com animais peçonhentos, como serpentes, aranhas e escorpiões.
Conscientização de motoristas
Uma campanha publicitária prevista para ser lançada no fim do mês pretende diminuir a quantidade de acidentes na rodovia. A ideia da campanha veio do administrador Edivaldo Ramos, que presta consultoria a uma empresa em Manacapuru.
Edivaldo conta que teve a ideia da campanha publicitária após resgatar uma preguiça na estrada. “Ela estava prestes a ser morta, mas conseguimos tirá-la da via. Encontrei outra na semana posterior, que não teve a mesma sorte e já havia sido morta por atropelamento”, conta.
A intenção é desenvolver placas chamando a atenção dos condutores. “Pedi que um especialista fizesse uma arte de uma preguiça com um filhote e uma frase que lembrasse a existência deles no local. Sei que as pessoas não vão diminuir a velocidade na rodovia, mas espero que elas prestem mais atenção no trânsito e evitem novos acidentes”, disse.
A campanha está em fase de confecção e aguardando patrocínios. O projeto prevê a distribuição de placas e um outdoor na rodovia e a intenção é que o projeto seja lançado em 15 dias.
Fonte: A Crítica