A ambientalista Denise Rambaldi pode se orgulhar de ter sido uma das responsáveis pelo “baby boom” que salvou o mico-leão-dourado da extinção. “Havia, em 1972, apenas 250 micos soltos na natureza. Ele estava praticamente extinto.”
Em 1974 o governo federal criou a Reserva Biológica do Poço das Antas, para proteger o mico-leão, e criou com a ONG americana Smithsonian Institute um programa para reprodução em cativeiro. O curioso é que isso só foi possível graças a animais que estavam em zoológicos nos Estados Unidos. Eles tinham sido contrabandeados para lá antes da Lei de Proteção à Fauna, que é de 1967.
“Nos primeiros dez anos, não conseguíamos reproduzir o animal. A Devra Kleiman, uma bióloga americana que morreu recentemente e teve papel crucial no processo todo, já tinha tentado de tudo”, conta Denise. “Até que, finalmente, conseguimos estudar o animal em seu ambiente natural. Descobrimos que ele era monógamo! Mudamos os métodos e, em 1983, conseguimos o ‘baby boom’’.”
A essa altura, o mico-leão-dourado já tinha virado bandeira do movimento ambientalista. Espécie endêmica das florestas de baixada, ele se tornou uma espécie de símbolo da devastação da mata atlântica. Como parte do esforço para preservá-la, a espécie hoje estampa a nota de R$ 20,00.
Em 1984, os animais nascidos em cativeiro começaram a ser reintroduzidos na mata atlântica pela Associação Mico Leão Dourado. Até 2000, foram 176 micos. Hoje a população já é de cerca de 1.600 exemplares.
Diretora-executiva da Associação Mico Leão Dourado desde 1994, Denise mudou-se de São Paulo para o município de Casimiro de Abreu, no Rio, para acompanhar mais de perto o trabalho de preservação, que já valeu à ambientalista prêmios em países como Alemanha e Estados Unidos. “Para que a espécie seja considerada livre do risco de extinção, tem de haver 2 mil animais, vivendo em 25 mil hectares de florestas protegidas e conectadas”, afirma Denise.
O problema é que o que restou da mata atlântica – 7,9% da área original – está fragmentado. “Nosso desafio agora é conectar essas áreas, para manter a variabilidade genética. Hoje ainda precisamos levar populações dispersas de um núcleo para outro da floresta. Para isso, temos de capturar famílias inteiras, o que pode demorar semanas”.
Fonte: Estadão