Nem nas profundezas dos oceanos os mamíferos marinhos estão livres da contaminação pelos chamados “produtos químicos eternos”, substâncias sintéticas que demoram até séculos para se degradar no meio ambiente. Segundo estudo publicado na revista científica Science of the Total Environment, baleias e golfinhos apresentaram níveis de acúmulo de PFAS (substâncias per e polifluoroalquiladas) nunca antes observados.
Esses químicos, que se acumulam ao longo de cadeias alimentares, podem afetar os sistemas imunológico, endócrino e reprodutivo dos animais, colocando a saúde de muitas populações de cetáceos em risco.
“Baleias e golfinhos são considerados espécies indicadoras porque refletem seu ecossistema. Esperávamos que espécies que se alimentam principalmente em águas profundas (…) tivessem menor contaminação por PFAS do que espécies costeiras. (…) Nossas análises mostram que não é esse o caso”, afirma Katharina Peters, ecóloga e uma das autoras do estudo, em comunicado.
Bioacumulação em mamíferos marinhos
No total, tecidos de 127 animais de 16 espécies de baleias e golfinhos com dentes (odontocetos) foram analisados pelos pesquisadores. Os espécimes estudados são de águas próximas à Nova Zelândia e incluem golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus), orcas (Orcinus orca) e cachalotes-pigmeus (Kogia breviceps).
Algumas espécies, inclusive, nunca tinham sido avaliadas em níveis de PFAS anteriormente, como é o caso do golfinho-de-hector (Cephalorhynchus hectori), endêmico da Nova Zelândia. Sexo, idade e habitat foram fatores considerados durante a investigação.
A partir das amostras, os cientistas puderam afirmar que o habitat marinho é um fraco indicador de PFAS em odontocetos, já que mesmo espécies oceânicas e de mergulho profundo estão expostas aos químicos eternos em níveis semelhantes a espécies costeiras.
Tanto o sexo quanto a idade do animal foram fatores mais determinantes no que se constatou ser uma poluição generalizada da biodiversidade marinha.
Substâncias eternas, consequências permanentes
Os PFAS são substâncias formadas com ligações de carbono-flúor muito fortes e capazes de resistir à degradação natural. Usados em diversos produtos e utensílios industriais por suas propriedades de repelir água e gordura, eles permanecem em ambientes ou organismos vivos por muito tempo, causando problemas de desenvolvimento e até o aumento de certos tipos de câncer.
“As principais fontes e vias de liberação de PFAS no ambiente marinho incluem escoamento urbano e agrícola, descargas de processos industriais e de manufatura, (…) com níveis mais elevados tipicamente relatados perto de áreas industriais, pontos de descarga de esgoto e regiões costeiras urbanizadas. Devido à persistência dos FPAS, presume-se que os oceanos sejam o destino final desses compostos no ambiente”, descrevem os autores no estudo.
Fonte: Revista Galileu