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Principais áreas para conservação da vida marinha no país estão desprotegidas

2 de setembro de 2010
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Informações acumuladas ao longo de décadas resultaram no que pode ser o mapeamento mais completo sobre a fauna de peixes brasileiros elaborado até hoje. O trabalho – desenvolvido por seis cientistas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) – identificou 819 espécies de peixes raros de água doce no país. Além disso, com base nas distribuições das espécies, foram mapeadas 540 bacias hidrográficas que podem ser consideradas áreas-chave para a conservação (ACB) dos ecossistemas aquáticos brasileiros.

O estudo, porém, trouxe um alerta: apenas 26% das 540 ACBs podem ser consideradas razoavelmente protegidas. “Desse total, 40% das áreas se encontram em estado crítico, devido ao impacto direto de hidrelétricas ou por apresentarem uma combinação de baixa proteção formal (unidades de conservação) e altas taxas de perda de habitat”, enfatiza o documento. Os especialistas também chegaram à conclusão de que as áreas críticas estão passando por um rápido processo de degradação ambiental. Segundo informações, elas abrigam cerca de 344 espécies endêmicas de peixes, ou seja, aquelas que só ocorrem naquela região.

O cientista da UFRJ Paulo Buckup conta que a pesquisa teve como ponto de partida a avaliação de todas as espécies de peixes de água doce ocorrentes no Brasil e conhecidos em 2007. “A partir dessa lista, foram selecionadas as espécies cuja ocorrência é conhecida apenas em áreas restritas. Elas são importantes, pois são mais vulneráveis e, se desaparecerem daqueles locais, estarão extintas”, enfatiza. De acordo com ele, a partir da lista inicial, os pesquisadores passaram três anos debruçados sobre o tema, verificando dados e mapeando a ocorrência de espécies em mapas digitais.

“Descobrimos muitas áreas onde ocorrem espécies de distribuição restrita”, destaca Buckup. Segundo ele, as áreas mais críticas estão situadas no Sudeste do Brasil. O Pimelodella kronei, um bagre cego que vive nas águas das cavernas do Rio Iporanga, está ameaçado devido ao avanço das cidades. Já a espécie Heptapterus multiradiatus, que habitava o curso superior do Rio Tietê, não é vista há quase um século. Em Altamira (PA), nas margens do Rio Xingu, os pesquisadores identificaram quatro áreas críticas que abrigam pelo menos nove espécies de peixes de distribuição restrita, como os das espécies Pituna xinguensis e Plesiolebias altamira.

Conservação

Na opinião do especialista da UFRJ, em primeiro lugar é necessário que sejam realizados estudos que descubram a melhor maneira de conservar as espécies ameaçadas. “Paralelamente, é necessário intensificar a fiscalização e o cumprimento da legislação ambiental. De nada adianta criar novas áreas de proteção se elas não estão efetivamente protegidas ou se as leis são alteradas à medida que a destruição avança”, destaca.

Conforme Buckup, as primeiras consequências da falta de proteção já começaram a aparecer, tanto é que algumas espécies descritas no século passado não existem mais. “Quase 6 mil espécies de peixes de água doce estão catalogadas no país. Se as mais vulneráveis não forem asseguradas, teremos um grande número de extinções, uma grande tragédia”, diz. Alguns dos grandes rios brasileiros, segundo o cientista, também podem seguir o mesmo caminho de cursos d’água como o Tietê, que foi substituído por um sistema de lagos separados por barragens e apenas algumas espécies sobreviveram.

Thais Kasecker, coordenadora da CI-Brasil, recomenda que o conteúdo do estudo publicado seja levado em consideração durante o planejamento de qualquer obra de infraestrutura no Brasil, como no caso das hidrelétricas. “É preciso que os responsáveis pela obra conheçam a biodiversidade que será afetada”, defende. Para o especialista Alexandre Marco da Silva, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a alteração vegetal desenfreada influencia diversos fatores. “Não somente na qualidade da água relacionada a parâmetros químicos e físicos, mas na geometria do leito do curso d’água devido ao processo de assoreamento, no regime hídrico, alteração da comunidade fitoplanctônica e zooplanctônica, dentre outras”, afirma.

Fonte: Diário de Pernambuco

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