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ESPÉCIE RARA

Primeira onça melânica é fotografada pelo Projeto Onça Preta, no Cerrado

18 de agosto de 2024
Suzana Camargo
3 min. de leitura
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Foto: Edu Fragoso

Há dois anos a equipe do Onçafari começou um projeto de monitoramento de grandes felinos na região do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia, no bioma Cerrado. Um dos braços desse desafio é uma pesquisa científica inédita sobre as onças melânicas. Popularmente chamados de onças-pretas, esses indivíduos raros na natureza, que não possuem a pelagem tradicional, pintada, possuem uma variação genética responsável pelo aumento da produção de melanina, o que dá a seu corpo a tonalidade escura.

No ano passado, houve a primeira captura de um macho melânico, que recebeu um rádio-colar com GPS/VHF, e passou a ser acompanhado pelos biólogos do Projeto Onça Preta. Ele foi batizado de Guirigó, em homenagem a um dos personagens do famoso romance “Grande Sertão: Veredas”, do poeta mineiro João Guimarães Rosa.

Além de Guirigó, a equipe já conseguiu colocar um colar também em Simplício, outro macho de onça -preta (todos os animais monitorados com esse equipamento ganham carinhosamente o nome de algum personagem de Grande Sertão).

Mas há poucos dias, pela primeira vez o time do projeto conseguiu ver pessoalmente e fotografar uma fêmea melânica. “Estávamos seguindo o sinal do colar de um dos machos de onças-pintadas que monitoramos, o Joca Ramiro e já no caminho encontramos pegadas dele com uma fêmea, então sabíamos de antemão que provavelmente ele estava acasalando”, conta Edu Fragoso, biólogo de campo do Onçafari.

Todavia, quando encontraram o casal, veio a surpresa. A fêmea era uma onça-preta!

“Ainda não tínhamos visto com nossos próprios olhos nenhuma fêmea de onça-pintada com coloração preta, o que deixou esse encontro ainda mais especial”, diz Edu.

O Onçafari já tinha conhecimento da presença de uma fêmea melânica (ou mais de uma) no parque nacional. Ela havia sido registrada outras vezes por armadilhas fotográficas, como em junho de 2023, quando contamos aqui nessa outra reportagem, quando inclusive, aparecia ao lado de um filhote.

Edu explica que diferente das pintadas, identificadas individualmente através de suas rosetas (as pintas), as melânicas são mais difíceis de serem diferenciadas. ”Por isso temos uma incerteza sobre o número total de onças já registradas. Porque é praticamente impossível ver as rosetas da grande maioria das onças-pretas durante a luz do dia. Porém, as rosetas são aparentes nas imagens noturnas de armadilhas fotográficas por causa da luz infravermelha.”

Além disso, o biólogo afirma que as fêmeas na região apresentam um hábito muito mais elusivo e raramente são documentadas, por isso pouco se sabe ainda sobre o comportamento e a movimentação delas.

As imagens belíssimas do encontro de Joca Ramiro e a onça-preta foram feitas com drone. Em duas delas, a fêmea aparece em cima de uma árvore. O comportamento é comum no período do acasalamento.

“É uma estratégia utilizada pelas fêmeas para descansarem e “escaparem” dos machos, que ficam esperando embaixo e raramente sobem. Elas fazem isso porque o período de acasalamento das onças-pintadas pode durar até sete dias, sendo um tempo bem exaustivo para ambos, que ficam sem caçar e concentram toda a energia na reprodução”, destaca a equipe do Onçafari.

A mãe melânica pode ter filhotes pintados, assim como a mãe pintada pode ter filhotes melânicos.

Onças melânicas no Cerrado

A vegetação do Cerrado não é tão fechada como a de biomas como a Mata Atlântica e a Amazônia e animais como onças-pintadas, ainda mais como as melânicas, se tornam alvos mais fáceis para caçadores.

Além disso, a expansão agropecuária tem colocado uma pressão gigantesca sobre a fauna e a flora do Cerrado. Estima-se que nos últimos 25 anos, a população desses felinos sofreu um declínio de 50% ali.

O principal objetivo do Projeto Onça Preta é descobrir se existe algum comportamento diferente entre as melânicas e as pintadas e se a pelagem preta interfere de alguma maneira na vida e movimentação desses indivíduos.

Foto: Conexão Planeta

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