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Preservação da onça-pintada é um desafio gigantesco e vai além das fronteiras

17 de junho de 2015
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A onça-pintada (Panthera onca), símbolo do Parque Nacional do Iguaçu, permanece na lista dos animais ameaçados de extinção. Hoje existem, aproximadamente, apenas 80 felinos em todo o Corredor Verde. Essa área, considerada um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica, abrange os Parques Nacionais do Iguaçu (Brasil e Argentina), o Parque Provincial Urugua-í (Argentina), outros fragmentos de florestas localizados na província de Missiones (Argentina) e o Parque Estadual do Turvo (Rio Grande do Sul/Brasil). São cerca de 600 mil hectares em unidades de conservação e outros cerca de 400 mil de florestas ainda primitivas ou pouco alteradas.
Esses números são o resultado de pesquisas realizadas pelo Projeto Carnívoros do Iguaçu (Brasil), em conjunto com o Projecto Yaguareté (Argentina), com apoio irrestrito dos Parques Nacionais do Brasil e da Argentina (ICMBio e Administração Nacional de Parques, respectivamente). Para os pesquisadores, o quadro é grave e requer muita atenção, principalmente pelo papel que a onça-pintada exerce na mata: o de equilibrar o ecossistema.
A espécie colabora para regular o tamanho de suas presas, como o veado e a capivara. Outro aspecto interessante é que o animal precisa de extensas áreas preservadas para sobreviver e reproduzir-se. A exigência da onça-pintada engloba as necessidades de todas as espécies. Por esse motivo, o felino é considerado “espécie guarda-chuva” pelos especialistas. Uma diminuição da população do felino resulta no desequilíbrio dos ecossistemas com consequências drásticas nas teias alimentares.
Para Marina Xavier, bióloga e coordenadora de campo do Projeto Carnívoros do Iguaçu, a situação não está ainda mais crítica porque há um esforço de fiscalização, de pesquisadores e de organizações ligadas ao Parque Nacional do Iguaçu (Brasil) e Parque Nacional Iguazú (Argentina). “Os esforços são grandes, porém são necessárias mais ações para que, nos próximos anos, haja uma população maior de onças-pintadas”, afirma Marina.
O chefe do Parque Nacional do Iguaçu, unidade de conservação que tem como sua marca a onça-pintada, Ivan Carlos Baptiston, destaca o trabalho feito. “Nos últimos anos montamos uma estratégia para a maior proteção do Parque Nacional do Iguaçu, com foco e priorização na redução da caça furtiva no interior da unidade, a partir de atividades de inteligência, sistemas de dados georreferenciados, capacitação de agentes de fiscalização e policiais ambientais, sistematização e priorização de áreas de acordo com a criticidade deste sério problema que atinge o parque.”
Para ele, “hoje o programa de proteção está bem definido, com uma forte e estratégica parceria com a Polícia Ambiental do estado do Paraná e ações coordenadas com a Polícia Federal, com direcionamento de equipes para ações de localização e neutralização da caça no interior do parque. A concentração de esforços no interior da unidade tem se demonstrado muito efetiva para a salvaguarda da vida selvagem”, revelou Ivan.
É prematuro supor que esse esforço tem resultado na melhoria da população de onças-pintadas, apontam os pesquisadores, uma vez que os fatores que afetam as populações da fauna selvagem são muito amplos e complexos, mas, mesmo sem dados de estudos científicos específicos, para os agentes e policiais que atuam em campo é perceptível a resposta da fauna selvagem à estratégia de proteção adotada.
Os estudos demonstram que é necessário ampliar e fortalecer não só as ações de proteção com uma maior presença institucional tanto no interior da unidade como em seu entorno, mas também os trabalhos de informação, orientação e valorização da vida selvagem para, principalmente, a população lindeira ao parque, nossos vizinhos mais próximos.
Histórico de pesquisa – O biólogo Peter Crawshaw, um dos pioneiros no estudo de monitoramento de onças-pintadas no Brasil, apontou, no ano de 1995, que existia uma média de três a quatro desses animais em cada cem quilômetros quadrados de área que compõem o Corredor Verde. Para o Parque Nacional do Iguaçu, o pesquisador calculou 68 espécies na época, número já alarmante em termos conservacionistas.
O estudo pioneiro constatou que dezenas de onças-pintadas foram vítimas de caçadores e tutores de bois. A matança no passado desorganizou hoje a pequena população da espécie em todo o remanescente da Mata Atlântica. Há de se considerar que nos últimos 30 anos, uma vasta porção de floresta, habitat dessa e de todas as outras espécies selvagens da região, foi drasticamente substituída por atividades humanas, como lavouras, pastagens, cidades, estradas, lagos, etc., provocando um enorme desequilíbrio na vida selvagem da região, potencializando o impacto da caça sobre a população de onças-pintadas. Cabe uma boa reflexão a esse respeito.
Projeto Carnívoros do Iguaçu – O projeto institucional do Parque Nacional do Iguaçu busca colaborar para a conservação da espécie em seus 185 mil hectares. É um trabalho difícil e de extrema importância. Criado em 2009, com base nos estudos de Peter Crawshaw, o Carnívoros do Iguaçu, apesar do nome amplo, focou suas atividades e esforços na população de onças-pintadas.
A região do Corredor Verde abriga a maior e mais meridional população da espécie no Brasil. O projeto conta com o apoio da rede hoteleira Oriente Express, por meio do Hotel das Cataratas, e com a parceria do ICMBio/Cenap e Pró-Carnívoros. A expectativa do grupo de trabalho é que nos próximos anos possa ser criado um planejamento para a implantação de medidas de conservação da onça-pintada no Corredor Verde, como ações educativas e de manejo para reduzir os conflitos com as comunidades vizinhas, e a criação de uma rede de unidades de conservação adequada à preservação dos felinos e da biodiversidade local.
Fonte: Jornal Dia a Dia

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