Nem mesmo a participação ativa do promotor público Jorge Alberto de Oliveira Marum, especializado em meio ambiente, tem sido suficiente para o prefeito de Sorocaba, José Crespo (DEM), cumprir a decisão unânime do Tribunal de Justiça de SP que determina a imediata transferência do chimpanzé Black do zoológico municipal ao Santuário dos Grandes Primatas, ambos no mesmo município. O prazo para a transferência termina no domingo, 5 de maio.
Logo após a decisão, as entidades de defesa animal que ajuizaram a ação se reuniram, na sede do Ministério Público, com o promotor Jorge Alberto de Oliveira Marum, corpo técnico do zoológico e com o secretário Jessé Loures, que representou o prefeito. Deveria ter ocorrido uma segunda reunião para acertar os detalhes técnicos da transferência, porém ela não aconteceu porque a prefeitura se manteve inerte.
Por meio de recurso judicial, a prefeitura ainda tentou reformar a decisão dos desembargadores por meio de um recurso impróprio que não foi julgado, e o Tribunal de Justiça manteve sua decisão.
Nesse período, funcionários do zoológico promoveram manifestações dentro do zoológico e em frente à jaula do chimpanzé Black conforme divulgado em alguns veículos de comunicação locais, causando grande estresse aos animais do zoológico e principalmente ao Black.
Foi então que, novamente, na última terça-feira, dia (30) o promotor convocou uma nova reunião para definitivamente acertar os detalhes técnicos da transferência. Mais uma vez, não houve resultados e a prefeitura protelou os acertos técnicos da transferência.
“Até o momento continuaremos sendo colaborativos, porém não se brinca com o bem-estar e a vida do chimpanzé Black . Não me lembro de ter visto tamanho descaso em minha trajetória como ativista pelos animais. Somos obrigados a informar a sociedade e a justiça estadual das ações e omissões do prefeito Crespo sobre o caso”, relata o representante das entidades autoras da ação, Leandro Ferro.
Situação protelada
Em 2001, Black esteve temporariamente no santuário, a pedido do próprio zoológico, para manutenção de sua jaula. Naquele ano, ele se socializou com outros membros de sua espécie e conquistou até uma companheira, a chimpanzé Margarete. Contudo, o zoológico exigiu sua volta, e o mantenedor do santuário, Pedro A. Ynterian, iniciou uma campanha pública pela permanência de Black, sem ter obtido sucesso naquela época.
“Apesar dos esforços empreendidos pelo movimento GAP, juntamente com a sociedade civil e até outra ONG vinculada diretamente à Organização das Nações Unidas, o GRASP – GREAT APES SURVIVAL –, por uma disputa política e de vaidade, o chimpanzé Black acabou não sendo transferido para o santuário”, relata Leandro Ferro.
Parentes mais próximos
Entre as espécies com mais semelhanças à humana, o chimpanzé chega a ter 98% do DNA em comum. Vários testes confirmam inteligência significativamente elevada desse animal, comparada por vezes com a das crianças de até três anos. Na natureza, comem durante o dia todo e, à noite, descansam em ninhos nas copas das árvores.
Em um zoológico, seu ciclo biológico de alimentação e sono são alterados. Na maioria desses locais, ficam oito horas em exposição e 16 horas dentro de cubículos fechados. Em vez de comer várias vezes durante o dia, como é recomendado para primatas humanos, só são alimentados antes de anoitecer, após serem forçados a entrar nesses cubículos, no fim do expediente, onde comem e ficam trancafiados.