Na contramão do avanço ético e da luta global pelos direitos dos animais, a Prefeitura de Manaus anunciou, nesta sexta-feira (18/07), a construção do primeiro aquário da cidade. O projeto, parte do programa “Nosso Centro”, será instalado em frente ao porto da capital, com a justificativa de revitalizar o centro histórico com novos atrativos culturais e de lazer.
Mas para quem os animais, como sujeitos de direito e não como objetos de exibição, não há o que celebrar.
Não importa o tamanho, o design ou a tecnologia utilizada: aquários são prisões. São espaços que ignoram a complexidade emocional, social e comportamental de peixes e outros animais aquáticos, confinando vidas inteiras em tanques minúsculos, estéreis e completamente alheios às necessidades naturais de seus habitantes.
É profundamente revoltante ver a capital da Amazônia, um dos maiores santuários de biodiversidade do planeta, escolher capturar e exibir a vida que deveria proteger. Enquanto comunidades ribeirinhas convivem com os rios de forma respeitosa, a Prefeitura aposta em jaulas aquáticas para entreter turistas.
O que há de educativo em ver um peixe nadando em círculos sem estímulo? O que há de cultural em silenciar a natureza dentro de um vidro?
Defensores dessa iniciativa podem argumentar que o aquário “conscientiza” ou “preserva”. Mas essa retórica já não convence. Não se preserva a vida retirando-a do seu habitat natural. Não se ensina respeito usando cativeiro como ferramenta.
A realidade por trás dos aquários é cruel: peixes estressados, com comportamentos estereotipados; animais que morrem precocemente por não suportarem o confinamento; indivíduos que, muitas vezes, foram arrancados da natureza, deixando rastros de desequilíbrio ecológico.
E o que dizer do uso de dinheiro público para construir uma vitrine de sofrimento? Quando o mundo clama por políticas de proteção à fauna silvestre, combate ao tráfico de animais, educação ambiental crítica e apoio a projetos de conservação em campo, a resposta da gestão municipal é erguer mais um símbolo da nossa dominação sobre os outros seres.
É preciso dizer com todas as letras: aquários não devem ser reformados, ampliados ou modernizados, devem ser abolidos.
É possível fazer diferente. A própria Amazônia oferece alternativas vivas, éticas e verdadeiramente educativas. Expedições responsáveis, turismo de base comunitária, centros de reabilitação e observação em vida livre. O que falta não é biodiversidade, é vontade política de protegê-la sem explorá-la.
Enquanto países e cidades pelo mundo encerram suas atividades com aquários e parques marinhos, reconhecendo o sofrimento animal que eles representam, Manaus opta por repetir o erro e transformá-lo em atração turística.
Nota da Redação: A ANDA repudia com veemência essa iniciativa e convoca toda a sociedade consciente a se manifestar. Porque a vida dos animais aquáticos não vale menos por ser silenciosa. Porque privar um ser senciente da liberdade nunca será lazer. Ainda há tempo de reverter essa decisão e investir em ações que realmente valorizem a fauna aquática da Amazônia sem precisar engaiolá-la.