Por Danielle Bohnen (da Redação)
Por meio de uma denúncia, em 2008, veio a público a matança indiscriminada de cãe em plena via pública, no município de San Joaquín, da comuna de Santiago, no Chile. As imagens chocaram o país e o mundo. As ONGs ProAnimal e CEFU (Controle Ético da Fauna Urbana) entraram com processos criminal e administrativo para punir os responsáveis, segundo informou a PrensAnimalista.
Muitas testemunhas do próprio município explicaram o que ocorre com frequência na cidade, desmentido as alegações do então prefeito, Sergio Echeverría, de que as imagens de matança de animais foi um fato isolado, declarando ao jornal “La Tercera” que “é desumano desenvolver políticas de controle canino baseadas em matança”.
Porém suas declarações serviram de base às críticas e geraram uma série de emails e declarações de funcionários e ex-empregados do município, que asseguraram que as mortes de animais não foram um caso isolado, mas, ao contrário, são uma prática habitual.
Através de um email ao jornal PrensAnimalista, um funcionários do município, que pediu anonimato, relatou que a morte massiva de cães começou quando o ex-ator e atual deputado Ramón Farías, era prefeito da cidade (1992-2004). Relata ainda que a situação se agravou quando o atual chefe de comunicações do município, Javier Cornejo, assumiu a direção do “Desenvolvimento Comunitário”.
A justificativa das mortes é que os cães abandonados “davam má imagem” ao Centro Cívico de San Joaquín, local de reuniões políticas e atos públicos.
Ao ser indagado sobre s acusacões, Ramón Farías desmentiu categoricamente. O deputado disse ao PrensAnimalista que “nunca houve extermínio de cães enquanto fui prefeito em San Joaquín. Ao contrário, realizamos um convênio com uma universidade e o município montou uma clínica de animais gratuita com castração grátis e a preço baixo (dependendo da situação financeira do tutor)”.
Testemunho
Um funcionário, que trabalha atualmente para a prefeitura e também pediu anonimato, contou que esse tipo de ordem parte dos chefes de forma oral a fim de evitar documentos de prova.
“Estou consciente da brutalidade empregada por alguns de meus colegas, mas eles apenas cumprem ordens. É pedido a eles que façam rápido [matar cães] para evitar problemas. É bom que saibam que os funcionários municipais são obrigados a cumprir tais ordens e se calar, senão corremos risco.”, disse o denunciante. Agregou ainda que “qualquer vereador, se assim quiser, pode exigir as notas de compras de eutanásia e outros produtos para matar animais, adquiridos pelo Departamento de Higiene. Mas não o fazem porque se ficarem contra o prefeito, perdem seus benefícios”.
ONGs querem a destituição do prefeito
No dia 26 de outubro, a organização ProAnimal entrou com uma queixa criminal por delito de maus-tratos animais e manejo indevido de produtos farmacêuticos e danos à propriedade privada contra todos aqueles responsáveis pela eliminação massiva de cães abandonados na cidade.
A dirigente Patrícia Cocas conta que foram apresentados documentos que deixam evidências que as autoridades tinham conhecimento do que estava acontecendo. “Com esta investigação, queremos assegurar a destituição do prefeito de suas funções”, disse.
Ela conta ainda que, no próprio site do município, houve uma época em que a prefeitura oferecia aos habitantes de San Joaquín, a eliminação como método de controle populacional de cães e gatos. “Contamos com uma cópia desse oferecimento, que já foi entregue como prova”.
Por sua parte, a diretora da CEFU, relembra que “até 2009, as Secretarias Regionais Ministeriais (SEREMIS), assinavam convênios com os municípios para ‘ajudar com o problema de cães abandonados’. Eram entregues produtos eutanásicos e se fomentava, indiretamente, a entrega voluntária de animais, violando a legislação vigente até então e não respeitando as regras da Controladoria, que diz sobre a ilegalidade da eliminação de animais por parte dos municípios.”
Outros municípios
O extermínio de cães e gatos abandonados não é exclusivo de San Joaquín. Essa prática também é executada por outros municípios de Santiago e outras regiões, segundo a Alejandra Cassino, da CEFU.
“Há alguns anos vimos como em Cartagena uma funcionária eutanaziava animais e os jogava – alguns ainda vivos – em caminhões de lixo. Burlava a legislação pedindo a entrega voluntária de animais e recolhia outros indiscriminadamente nas ruas. Hoje, alguns municípios, como Temuco, se associam a universidades para manter canis que vão contra o bem-estar animal e que são soluções que só beneficiam terceiros e não os afetados”, completa.