Na cidade de Ezhou, na província de Hubei, China, dois gigantescos arranha-céus estão redefinindo o que significa “confinamento animal”. Com 26 andares cada, esses edifícios chamaram atenção mundial por abrigarem porcos.
Aproximadamente 1,2 milhão de porcos são criados anualmente nesses prédios, em um sistema mecanizado e milimetricamente controlado. A construção é parte de um projeto da empresa Hubei Zhongxin Kaiwei Modern Husbandry, que transformou prédios aparentemente residenciais em verdadeiras fábricas de carne.
Alimentação, banho e resíduos dos animais são gerenciados por sistemas automatizados. Mas a aparência tecnológica não mascara o essencial: milhões de vidas confinadas em andares e privadas de qualquer forma natural de existência.
Desde o nascimento até serem mortos, todo o ciclo de vida dos porcos acontece dentro dessas estruturas fechadas. Elevadores os transportam entre andares como se fossem peças de uma linha de montagem. As mães dão à luz em salas específicas, seus filhotes são levados ao berçário após 23 dias e, meses depois, são conduzidos à fase final de engorda, tudo isso sem jamais pisar na terra ou sentir o ar puro.
Mais do que construções, os prédios mostram a intensificação da objetificação dos animais, tratados como produtos em escala industrial. A alegação de que os porcos são naturalmente limpos — usada para justificar os andares organizados por função — ignora que o verdadeiro problema não é a sujeira, mas o aprisionamento de seres vivos.
Esses animais, com capacidade comprovada de sentir dor, medo, alegria e afeto, são reduzidos a números e estatísticas. Cada um dos mais de 800 funcionários da fazenda é responsável por cerca de 1.500 porcos. A lógica produtivista trata vidas como itens de estoque: quanto mais rápido crescem, mais cedo são mortos, mais lucro é gerado.
Este modelo de criação vertical não resolve o problema da exploração animal — apenas o camufla com tecnologia. Por trás das esteiras automatizadas e da engenharia de ponta, continuam existindo vidas interrompidas, corpos abatidos e a persistente recusa em reconhecer os animais como indivíduos que merecem respeito e liberdade.
Não precisamos de arranha-céus para porcos. Precisamos repensar, urgentemente, o nosso relacionamento com os animais e construir um futuro onde eles não sejam criados para morrer, mas livres para viver.