A adoção de animais é um gesto de amor e empatia, mas nem todos os animais têm as mesmas chances de encontrar um lar. Apesar de milhares de cães e gatos esperarem por uma nova família em abrigos e ONGs, há um grupo que enfrenta barreiras adicionais: animais mais velhos, cães pretos e, em alguns casos, aqueles com deficiências ou características consideradas “menos atraentes”.
Cães de pelagem preta frequentemente enfrentam rejeição devido a crenças culturais negativas e superstições que ainda perduram em algumas culturas. Além disso, cães pretos podem parecer “menos fotogênicos” em comparação com outros, um fator que ganha peso em tempos de redes sociais.
“É triste perceber que um animal é rejeitado apenas por sua cor de pelo. Temos cães pretos amorosos, carinhosos e muito brincalhões que esperam meses, até anos, para serem adotados”, conta Rita de Cássia do Projero ‘Gatorrosemapuros’, no complexo do Lins, Zona Norte do Rio.
No quintal de sua casa, Cássia construiu um abrigo improvisado, que hoje abriga mais de 200 cães e um número incontável de gatos. Entre os animais sob seus cuidados, pelo menos 40 são cães pretos, que enfrentam grande dificuldade para encontrar um lar definitivo.“Já tentei de tudo: coloco laços, faço fotos bonitas, mas parece que as pessoas simplesmente não os enxergam. E isso dói, porque sei o quanto eles têm amor para dar”, lamenta Rita.
Entre os maiores desafios enfrentados por Rita está o preconceito contra os cães de pelagem preta. Mesmo sendo carinhosos, brincalhões e cheios de energia, eles continuam sendo ignorados por adotantes. Durante as campanhas de adoção, é comum que filhotes de outras cores sejam rapidamente escolhidos, enquanto os cães pretos permanecem invisíveis.
O projeto Anjos.de4patas, cuida apenas de gatos abandonados, mas abriu uma exceção ao se deparar com uma situação que não poderia ser ignorada. Um filhotinho de cachorro preto foi encontrado no lixo, sozinho, a noite e em estado de abandono. O resgate contou com a juda de um policial militar que estava nas proximidades, e por se char Leonardo, o cãozinho foi batizado com o nome do policial. Leozinho foi acolhido pelas protetoras, mas, como o projeto tem espaço apenas para abrigar gatos, a solução foi colocá-lo em uma hospedagem.
Leonardo já está com dois anos e durante todo esse tempo está nessa hospedagem, e o custo mensal é de 450 reais para mantê-lo seguro. Apesar dos esforços para divulgá-lo nas campanhas de adoção, e redes sociais, Leonardo ainda não conseguiu um lar – e já sofreu o trauma de uma devolução.
Patrícia Marins, uma das voluntárias do projeto, conta que Leonardo chegou a ser adotado, mas foi devolvido duas semanas depois, com uma desculpa que a deixou revoltada. “Disseram que ele havia derrubado os porta-retratos da casa. É algo tão pequeno comparado ao que ele poderia oferecer. Foi muito triste vê-lo passar por isso”, desabafa Patrícia.
A devolução foi um golpe duro para Leonardo. “Ele visivelmente entrou em depressão e ficou muito triste após ser devolvido. Hoje, ele ainda está na hospedagem e, o mais triste, é que, por causa da pelagem preta, continua sendo ignorado nas campanhas de adoção”, explica Patrícia.
O apelo por um final feliz
Enquanto Leonardo segue esperando, as protetoras continuam divulgando sua história e apelando por um adotante que enxergue além da aparência. Para elas, cada mês que passa representa mais um desafio financeiro e emocional, mas elas não desistem de acreditar em um final feliz para ele.
“O Léo merece, ele é um cachorro dócil, adora brincar, se dá bem com outros animais, com crianças. Ele recebe o melhor tratamento na hospedagem, ração, vacina, tudo que for necessário, mas não existe nada melhor para um bichinho que foi abandonado, do que um lar para chamar de seu, uma família, muito amor e dignidade. Quem quiser mudar a vida dele – e, sem dúvidas, a sua própria – pode entrar em contato com o nosso projeto Anjos.de4patas. Afinal, amor verdadeiro não tem cor”, conclui Patrícia.
Em uma noite chuvosa de 2023, uma pequena cadelinha foi encontrada vagando pelas ruas, sozinha e desamparada. Era Belinha, que seria resgatada pela ONG Ajuda Patas, em mais uma ação de amor e cuidado da organização. Aos sete anos, uma idade já considerada idosa para adoção, Belinha enfrentava ainda mais dificuldades para encontrar um lar definitivo.
No dia do resgate, Belinha ainda produzia leite, o que fez os voluntários acreditarem que ela tivesse dado à luz recentemente. No entanto, após ser levada à clínica veterinária para exames, descobriram que ela havia passado por uma gestação psicológica – uma condição que também pode ocorrer em mulheres humanas. Depois de receber todos os cuidados médicos, Belinha foi castrada, vacinada e colocada para adoção responsável.
“Por ser uma cadela idosa, tínhamos poucas esperanças de encontrar um lar para ela, mas nunca desistimos. Sabíamos que ela merecia uma chance de ser feliz”, Bruna Saraiva, presidente da ONG Ajuda Patas.
O encontro que mudou tudo
A esperança virou realidade quando Adafnes Freitas, de 32 anos, e Fagner Sant’Anna, de 43, moradores da Ilha do Governador, se depararam com a publicação da cadelinha nas redes sociais da ONG. O casal, que na época estava noivo, viu em Belinha a chance de completar sua família.
“Quando vimos a foto dela, foi amor à primeira vista. Não tivemos dúvidas de que ela era a cadelinha que queríamos em nossas vidas”, relata Adafnes, emocionada.
Belinha foi recebida com muito amor e, desde então, passou a fazer parte da vida do casal. Tanto que, no grande dia de Adafnes e Fagner, ela teve um papel de destaque.
“No nosso casamento, Belinha foi nossa daminha de honra. Ela participou de tudo, recepcionou os convidados e encantou a todos com sua simpatia. Foi um dia ainda mais especial por tê-la ao nosso lado”, conta Fagner.
Após o casamento, Belinha se tornou oficialmente a filha de quatro patas do casal e, com o tempo, ganhou mais duas irmãs humanas: Elisa e Ana Clara. Hoje, a cadelinha vive cercada de amor, carinho e aventuras.
“Belinha é uma filha maravilhosa e amada por toda a família. É impossível explicar como ela nos completa e a incrível sensação de que ela sempre fez parte das nossas vidas. Ela é muito esperta, nos acompanha em quase todos os eventos, como viagens e idas à praia. Ela é nossa princesa”, relata Adafnes.
A necessidade de conscientização
É fundamental conscientizar as pessoas sobre a importância de olhar além da aparência e da idade. Cães mais velhos têm temperamentos definidos, são mais tranquilos e, em geral, demandam menos energia dos tutores. Da mesma forma, animais com deficiência ou necessidades especiais possuem uma incrível capacidade de adaptação e oferecem laços de amor e gratidão únicos.
Para adotar, basta entrar em contato com os projetos @anjos.de4patas – @gatorrosemapuros e @ajudapatas.
Maltratar animais é crime previsto em lei ( Lei nº 14.064/2020) com pena de até cinco anos de reclusão.
Fonte: O Dia