Frequentada por tutores de cães que gostam de deixar os animais circularem sem coleira, a Praça Amundsen, na zona oeste de São Paulo, será transformada em espaço para a terceira idade. A iniciativa é da Sociedade Amigos do Bairro City Boaçava (SAB). No último fim de semana, os visitantes foram surpreendidos pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) na entrada da praça informando que cachorros só circularão com guia.
A medida atende a determinação da Lei Municipal 13.131/01, que estabelece a obrigatoriedade da guia para todo animal conduzido em local público. Os frequentadores, porém, defendem a vocação “cachorreira” do lugar, que já é conhecido informalmente como “Praça dos Cachorros” e, por ser cercado de grades, ofereceria mais segurança para o passeio.
“Aquele sempre foi um lugar de convivência canina e as pessoas sabem disso. Que se criem espaços para idosos, mas sem mudar a orientação do que já está lá”, afirma a apresentadora de TV Penélope Nova, que mora no Sumaré e leva suas cinco cachorras para brincar diariamente na praça.
Portas fechadas
Desde o último sábado, três das quatro entradas da praça estão fechadas. No único portão lateral aberto, placas recém-instaladas indicam que aquela, agora, é a Praça da Longevidade, “espaço dedicado aos idosos para relaxar, meditar e se exercitar”. A Subprefeitura de Pinheiros vai doar para a SAB equipamentos de ginástica especiais para a terceira idade.
A subprefeitura informou também que a presença da GCM foi solicitada pela associação de moradores para “orientar os tutores de animais a utilizar os equipamentos”. A previsão é instalar os aparelhos até o próximo mês.
Para a moradora do Alto de Pinheiros, a artista plástica Sônia Heloísa Müller, de 66 anos, a decisão foi feita de maneira arbitrária. “Faltou comunicação. De uma hora para outra, quem vinha com cachorro solto teve de voltar da porta porque se sentiu reprimido”, conta.
Sônia considera-se parte dos dois grupos – os idosos e os que têm cachorro. “Esse praça não é boa para a terceira idade: é desnivelada, não tem banheiro, bebedouro ou pronto-socorro. O Villa-Lobos tem tudo isso”, diz, referindo-se ao maior parque do bairro, na frente da Amundsen.
Medo
O diretor de Urbanismo da SAB, Sérgio Giannini, avisa que não existe autorização legal para que o lugar seja utilizado como reduto canino. “Alguns sites na internet até indicam como “praça para cachorro”. Infelizmente, já recebemos reclamações de pessoas que se sentem ameaçadas, até já foram mordidas, mas nada grave.”
A polêmica mobilizou a empresária Camila Masetti, de 23 anos, que está reunindo assinaturas em favor dos cachorros sem coleira na Praça Amundsen. Uma das propostas da petição que será entregue à Prefeitura é que os aparelhos de ginásticas sejam colocados na praça vizinha, a Barão Pinto Lima, onde já existe um playground para crianças e o terreno é mais plano.
No dia da visita do Estado, a Praça Barão Pinto Lima estava repleta de idosos fazendo caminhada, entre eles o casal Leonor Maria Jorge e Jamil Jorge, de 67 e 76 anos, respectivamente. “Sou contra cachorro solto. Se essa outra praça tiver estrutura para terceira idade, podemos até ir lá para conhecer”, conta Leonor, que mora nos Jardins, zona sul, mas frequenta a casa da filha em City Boaçava.
Giannini não sabe precisar quais os critérios de escolha da nova Praça da Longevidade. A presidente da SAB, Silvia Maria Padin, não comentou o assunto.
Reação
“É meu lugar preferido em SP. Saio todos os dias da minha casa, a uns 5 km da praça, para andar com minhas cachorras lá. O cão tem uma experiência diferente quando fica solto, ele precisa desse espaço. Não conheço outro lugar assim na cidade.” — Penélope Nova (apresentadora de TV)
Fonte: Estadão