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Por questões éticas, ambientais e de saúde, cada vez mais pessoas eliminam a carne de seu cardápio

13 de julho de 2011
6 min. de leitura
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Enquanto o Pavilhão da Bienal do Ibirapuera se prepara para receber mais de 22 mil visitantes na NaturalTech, única feira internacional de produtos naturais do País, que abre suas portas no dia 21, adeptos da dieta sem carne celebram uma onda de ofertas. Publicações, filmes, restaurantes, serviços, sites e blogs trazem à tona um tema ainda repleto de estigmas e, muitas vezes, alvo de piadas: o vegetarianismo. Ao mesmo tempo, mitos a respeito da alimentação que exclui do cardápio itens de origem animal estão ruindo.
João Gordo tornou-se vegetariano há 6 anos. Foto: Felipe Rau/AE

O mais polêmico é o conceito de que o consumo de carne é essencial para a saúde. “Estudos científicos provam que não há nenhum único nutriente essencial que só exista na carne ou que dependa dela para ser bem aproveitado pelo organismo”, avisa o paulistano Eric Slywitch, especialista em nutrologia e nutrição clínica.

A notícia é um alívio para vegetarianos que sempre escutaram que sua dieta era deficiente. A proteína animal pode se equivaler, por exemplo, a leguminosas como feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha, diz Slywitch, que também é coordenador do Departamento de Medicina e Nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira e professor de pós-graduação do Ganep (Grupo de Nutrição Humana). Porém, os vegetarianos costumam cometer um erro grave: substituir carne por ovos e queijos.

Para vegetarianos ou onívoros – aqueles que consomem carne – que desejam melhorar sua alimentação, o médico escreveu dois livros que têm se tornado referência: Alimentação sem Carne e Virei Vegetariano – E Agora? (ambos pela Editora Alaúde). O primeiro ensina a obter os nutrientes e como combiná-los de forma segura para otimizar todo o potencial que a alimentação vegetariana pode proporcionar. Já no segundo título, lançado ano passado, Slywitch responde às principais perguntas de adeptos ou não e fala sobre 60 mitos que rondam o tema. “As publicações têm o objetivo de ensinar, sem fazer patrulhamento ideológico”, ressalta o especialista em dieta vegetariana, de 36 anos, que parou de consumir alimentos de origem animal na adolescência.

Entre as fontes que tratam do vegetarianismo está o livro recém-lançado A Cozinha Vegetariana, da catarinense Astrid Pfeiffer (Editora Alaúde) – que já caminha para a 2ª edição. São 60 receitas sem lactose, quase todas sem glúten e com ingredientes naturais. A nutricionista e Eric Slywitch são casados e, assim como o médico, ela é vegana. Juntos, atendem em sua clínica, uma ampla casa com direito à mini-horta orgânica, na Vila Mariana, zona sul da cidade.

Em um levantamento feito entre 644 pacientes que passaram pela clínica do casal em 2010, mais da metade segue a dieta vegetariana por razão ética, ou seja, em respeito aos animais. Saúde e questões ambientais também entram como justificativas, especialmente a que está diretamente relacionada ao impacto da pecuária. Segundo relatório emitido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de todas as atividades humanas, a pecuária é a maior responsável por problemas ambientais, principalmente a contaminação de mananciais.

Até “bad boys” como o ex-pugilista Mike Tyson abraçaram a causa. Vegano há quase dois anos, o campeão de boxe – que arrancou um pedaço da orelha de Evander Holyfield numa luta – promoveu em abril uma campanha junto com a ONG Last Chance for Animals (LCA) em prol do vegetarianismo. Em cartazes, foi fotografado beijando uma pomba ao lado da frase: Love animals, don’t eat them (Ame os animais, não os coma).

“Desde que me tornei vegano, os benefícios foram tremendos”, testemunhou para a campanha realizada pela LCA. “Tenho mais energia e equilíbrio mental. Eu nunca me senti 100% até que tirei a carne da minha dieta. Agora, não me imagino comendo carne de novo.”

O apresentador João Gordo, de 47 anos, que tem um quadro no programa Legendários, exibido pela Rede Record, e é vocalista da banda de metal hardcore Ratos de Porão, se diz aliviado em não compactuar com a matança e crueldade que envolve a indústria da carne. “Eu era o rei do bacon e da feijoada”, brinca. “Mas, quando se conhece como tudo é feito, a gente começa a pensar de outro modo.”

Casado e pai de dois filhos, ele é o único da família a seguir dieta vegetariana. E conta que, após se submeter à cirurgia de redução de estômago, em 2004, a carne se tornou indigesta. Inspirado em dois integrantes da banda que são veganos, mergulhou no tema. Mas o marco da virada veio um ano depois: “Em um programa que fazia, rolava uma luta no ringue, sempre cheio de gosmas. Um dia misturaram línguas de bois com groselha. Isso revirou meu estômago e vomitei. A partir daí, nunca mais comi animais.”

Documentários e livros também funcionaram como gatilho. João Gordo encerrou de vez seu lado onívoro ao assistir ao vídeo “A Carne é Fraca”, produzido pelo Instituto Nina Rosa (ONG em prol dos animais) em 2004. De lá para cá, vários outros surgiram no You Tube. Em março, o documentário “Carne e Osso” foi exibido no festival “É tudo Verdade”. O filme revela as condições insalubres às quais os empregados de frigoríficos são submetidos.

Muita pesquisa em internet, leitura de livros e revistas especializadas formaram a base do conhecimento da personal trainer Perla Góes, de 34 anos. Ela se programou para se tornar vegetariana ao longo de um ano. Primeiro parou de comer carne vermelha, depois, frango e, finalmente, peixe. “Tinha receio de perder massa muscular por falta de proteína animal”, diz.

Com a virada na dieta, há 7 anos, e orientação médica, seu corpo ficou ainda mais definido. E o que é melhor: sem suplementação alimentar de proteína. Além das novas formas, Perla ganhou uma pele mais viçosa e mais disposição física.

Longe do estereótipo que associa vegetarianismo à moçada alternativa está Maria Emília Ascenção Guedes, de 63 anos e há quase 30 adepta da alimentação sem carne. Casada e mãe de cinco filhos, todos seguem a dieta. “Não sei se posso atribuir a isso e ao leite de soja que substituí pelo de vaca, mas passei ilesa pela menopausa.”

Sua filha Ana Lúcia, de 35 anos, conta que o interesse das pessoas sobre sua alimentação vegana é grande. “Todos elogiam minha pele”, diz ela, que é formada em administração e trabalha no ramo imobiliário.

Já sua irmã, a engenheira Denise, de 29 anos, reclama dos interrogatórios. “A gente vira o centro das atenções”, diz. Mas o pior é ouvir que um prato não tem carne porque só foi temperado com bacon ou porque tem pedacinhos de presunto. “Vai explicar que não é bem assim!”

Ovolactovegetariano: inclui na dieta sem carne itens de origem animal, como ovos e laticínios

Lactovegetariano: não come ovos, mas aceita laticínios

Vegetariano estrito ou vegano: exclui todos os derivados animais do cardápio. Também rejeita vestimentas e produtos de procedência animal ou que foram testados em animais

Crudívoro: só come alimentos crus ou aquecidos no máximo até 24°C, além de alimentos germinados

Vegetariano frugívoro: se alimenta de frutos, cereais, legumes e frutas oleaginosas (nozes, amêndoas, etc)

Fonte: Estadão

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