Os pangolins são animais enigmáticos que, apesar de sua singularidade, continuam sendo amplamente negligenciadas. Duas características os tornam especialmente notáveis: são os únicos mamíferos do mundo revestidos por escamas e ocupam o primeiro lugar na lista dos animais mais traficados globalmente.
De acordo com a ONG Traffic, entre 2017 e 2019, mais da metade das apreensões na Ásia envolveu espécies africanas, evidenciando a gravidade da situação. Atualmente, todas as oito espécies existentes — quatro da África e quatro da Ásia — enfrentam risco de extinção.
Perseguição aos pangolins
A principal razão para o tráfico de pangolins é a grande procura por suas escamas, amplamente utilizadas na medicina tradicional asiática, especialmente na China e no Vietnã. Mesmo sem respaldo científico, há quem acredite que elas ajudam no tratamento de doenças como artrite e auxiliam na amamentação.
Na China, mais de 200 indústrias farmacêuticas fabricam medicamentos com escamas de pangolim, consumindo cerca de 26,6 toneladas por ano — o que representa aproximadamente 73 mil animais. Apesar das restrições internacionais, o comércio ilegal persiste. Somente em 2017, autoridades chinesas apreenderam quase 12 toneladas de escamas, enquanto milhares de pangolins seguem sendo caçados, sobretudo na África Ocidental e Central.
Criação em cativeiro
Manter pangolins em cativeiro é um grande desafio, principalmente por causa de sua alimentação altamente específica e da vulnerabilidade ao estresse. Poucos especialistas, como Lisa Hywood, no Zimbábue, e Angelia Young, nos Camarões, conseguiram cuidar deles com êxito. Em seus centros de reabilitação, o foco está em preparar os animais para um retorno seguro ao ambiente natural.
Embora existam projetos de criação em cativeiro, alguns com apoio do governo chinês, os resultados têm sido limitados, e há indícios de que certas iniciativas sirvam, na verdade, como disfarce para o tráfico. Mesmo ilegais, a caça e o comércio de pangolins ainda são frequentes em mercados e restaurantes de países como os Camarões.
Documentário
O documentário da Netflix “Pangolim: A Viagem de Kulu”, dirigido por Pippa Elrich, acompanha a reabilitação de Kulu, um filhote de pangolim resgatado do tráfico ilegal na África do Sul. Sob os cuidados do voluntário Gareth Thomas, o animal enfrenta um rigoroso processo de readaptação à natureza.
Mais do que contar a história de Kulu, o filme denuncia o comércio internacional de pangolins e destaca iniciativas de proteção, como leis de proteção e centros especializados. A produção busca sensibilizar o público sobre a importância de preservar essa espécie ameaçada.
Fonte: Tribuna de Minas