Você já parou para pensar que, há uma década atrás, era comum encontrar vaga-lumes brilhando pela cidade durante a noite? Talvez quem tenha nascido no início dos anos 2000 não tenha vivido a experiência de assistir aos shows de luzes em ambiente urbano promovido pela espécie, por um motivo real: os vaga-lumes estão desaparecendo.
Cientistas têm dado atenção a esse fenômeno e uma das principais hipóteses é que a iluminação artificial noturna está interferindo na comunicação por meio da bioluminescência. Um estudo publicado na revista BioScience, da Oxford Academic, aponta ainda a perda do habitat natural e uso de pesticidas como ameaças à espécie.
“A iluminação artificial pode confundir os vaga-lumes, dificultando a localização de parceiros para o acasalamento, por exemplo. Além disso, outros fatores decorrentes da ação humana, como uso de pesticidas e herbicidas, desmatamento e consequente fragmentação de habitats, bem como a poluição de rios, podem contribuir significativamente para esse desaparecimento da espécie”, reforça Maria Cecília Fiordoliva Ferronato, bióloga e gerente de Projetos na ECCON Soluções Ambientais.
O professor Allan Pscheidt acrescenta ainda o impacto das mudanças climáticas na vida e reprodução dos vaga-lumes. Quando há desmatamento, por exemplo, esses insetos não encontram fontes de alimento ou condições necessárias para se reproduzir. O aumento da degradação ambiental em áreas úmidas, como observado na Mata Atlântica, Pantanal e Amazônia, contribuiu para o desequilíbrio ambiental e menor diversidade de insetos.
Enquanto isso ocorre, insetos que estavam restritos passam a encontrar novos espaços e oportunidades para reprodução e sobrevivência, como é o caso do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
“Esses insetos são uma importante fonte de alimento para diversas espécies, como pássaros, sapos, lagartos e outros insetos, e a extinção da espécie, pode levar à escassez de alimentos para esses predadores, afetando negativamente toda a cadeia alimentar e diminuindo suas populações”, acrescenta Maria Cecília.
Os vaga-lumes, por si só, também desempenham papel crucial na ecologia, colaborando na polinização de plantas noturnas e no controle de pragas agrícolas. Suas larvas, que geralmente vivem no solo, alimentam-se se lesmas, caracóis e minhocas. Já os adultos são predadores e se alimentam do pólen ou néctar de plantas.
Mais informações sobre vaga-lumes
O que são vaga-lumes
Os vaga-lumes são insetos pertencentes à ordem coleóptera, a mesma dos besouros, e por isso também podem ser chamados de “besouros fluorescentes”. Existem mais de 2 mil espécies de vaga-lumes no mundo. Mas no Brasil são conhecidas cerca de 200 espécies.
De acordo com Valéria Kaminski, bióloga e professora na Universidade Anhembi Morumbi, os vaga-lumes adultos apresentam uma estrutura corporal distinta, composta por cabeça, tórax e abdômen. Eles possuem três pares de patas, além de duas asas: um par anteriormente rígido, que protege o par posterior de asas membranosas, essenciais para o voo.
Características dos vaga-lumes
Os vaga-lumes são conhecidos pela bioluminescência, ou seja, a capacidade de produzir luz fria e visível pelos seres vivos. Essa luz é emitida na parte inferior do abdômen, e, segundo Allan Pscheidt, a espécie utiliza essa luz para atração sexual e defesa contra predadores.
Por que os vaga-lumes brilham?
A capacidade de produzir bioluminescência, definida como a emissão de luz visível por organismos vivos, ocorre devido à oxidação da luciferina, catalisada pela enzima luciferase, resultando em oxiluciferina excitada, que emite luz ao retornar ao estado fundamental. Esse processo converte energia química em fótons.
Além disso, os ovos de algumas espécies também são bioluminescentes, emitindo um brilho fraco quando encontrados no solo.
Como os vaga-lumes se reproduzem
Os vaga-lumes se reproduzem sexualmente, começando com a postura de ovos pelas fêmeas após o acasalamento. Cada ato resulta em cerca de 100 ovos, que são depositados em locais úmidos, muitas vezes sob matéria orgânica. Após três a quatro semanas, os ovos eclodem em larvas, também chamadas de pirilampos, que se alimentam à noite e vivem no solo por mais de um ano, dependendo da espécie.
Quando prontas para a pupa, as larvas constroem uma câmara no solo ou se fixam em árvores.
“A metamorfose da larva para o inseto adulto pode levar de 10 dias a várias semanas. Os adultos emitem luz para atrair parceiros, usando padrões específicos de piscadas para encontrar indivíduos compatíveis do sexo oposto, em um processo intimamente ligado à bioluminescência”, explica Valéria Kaminski.
Fonte: Terra