As populações de insetos como abelhas, formigas, borboletas, besouros e vespas, estão diminuindo em biomas do Brasil. Essa é a conclusão de um estudo publicado no periódico “Biology Letters” e conduzido por pesquisadores de três universidades brasileiras (UFSCar, UFRGS e Unicamp).
A pesquisa consistiu na revisão de 45 estudos previamente publicados a respeito do tema, além da aplicação de questionários a cerca de 150 cientistas que pesquisam esses animais no Brasil.
A análise foi relativa à tendência de declínio dessas populações de insetos nos últimos cinco anos. Foram analisados diferentes biomas do país; a maioria das espécies era nativa da Mata Atlântica, enquanto nenhuma vinha do Pantanal ou da Caatinga.
“Em grupos terrestres, amostragens repetidas e avaliações de especialistas mostraram significativamente mais casos de declínio de populações de insetos e/ou perda da diversidade de espécies do que casos de aumentos”, diz um trecho do estudo.
As causas apontadas como possíveis responsáveis por essa redução foram o uso de agrotóxicos, mudanças climáticas, manejo diferente da terra (com agricultura substituindo a vegetação nativa), além da introdução de espécies exóticas, que podem competir com os insetos nativos por recursos e ocasionar seu desaparecimento gradual. Esta causa, porém, foi apontada como a menos comum.
“Combinadas, a intensificação da agricultura (incluindo perda de habitat natural e uso difundido de pesticidas) e as mudanças climáticas estão destinadas a ter impactos profundos sobre insetos, e seus efeitos estão profundamente interligados”, afirmam os pesquisadores.
O estudo sugere, ainda, que os resultados encontrados no Brasil podem ser similares aos de outros países que tenham “dimensões de biodiversidade semelhantes”.
Fenômeno é considerado global
Uma pesquisa publicada em 2019 na revista “Biological Conservation” conclui que mais de 40% das espécies de insetos em todo o mundo podem ser extintas nas próximas décadas. Segundo os pesquisadores, a taxa de redução da massa total de insetos é alarmante: 2,5% ao ano, o que significa que, em um século, caso as taxas se mantenham, eles poderão desaparecer.
O problema, de acordo com o estudo, é global. Os pesquisadores analisaram 73 relatórios históricos de declínio da população de insetos principalmente em países do oeste da Europa, dos Estados Unidos, Brasil, Austrália, China e África do Sul. Assim como o estudo brasileiro, esse também destaca a intensificação da agricultura como uma das principais causas do fenômeno.
“Os principais causadores dos declínios das espécies parecem ser, em ordem de importância: perda de habitat e conversão para agricultura intensiva e urbanização; poluição, principalmente por pesticidas sintéticos e fertilizantes; fatores biológicos, incluindo patógenos e espécies introduzidas; e mudança climática”, diz um trecho da pesquisa.
Os autores sugerem, como solução, uma reavaliação das atuais práticas agrícolas, como uma redução significativa no uso de pesticidas e sua substituição por práticas mais sustentáveis e ecológicas. “É urgentemente necessária para frear ou reverter as tendências atuais, permitindo a recuperação da população de insetos em declínio e protegendo os serviços vitais que elas provêm para o ecossistema”, concluem.
Consequências para o ecossistema
A redução ou desaparecimento de espécies de insetos pode ter sérias consequências para diversos ecossistemas.
Isso se deve à importância desses seres para a manutenção do ambiente. Eles atuam como polinizadores e recicladores de nutrientes — atividade que auxilia no reabastecimento do solo, na reprodução de espécies vegetais e, portanto, na própria produção de alimentos para o ser humano. Além disso, eles servem de alimento para diversas espécies de aves, répteis, anfíbios e peixes.
Fonte: Terra