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Por que a intolerância a imitações veganas de alimentos de origem animal pode atrapalhar o entendimento sobre o veganismo

26 de maio de 2016
3 min. de leitura
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Depois que foi noticiado que foi aberto um açougue vegano nos EUA e que abrirá outro em Curitiba, pude ver uma reação contrária de algumas pessoas, que foi além da simples questão do gosto pessoal. Afinal, segundo elas, é inaceitável, imoral, consumir produtos que lembrem sensorialmente (em termos visuais e gustativos) alimentos oriundos do sofrimento animal. A postura tem uma intenção bondosa, mas pode atrapalhar o entendimento de muitas pessoas sobre o veganismo e a essência dos Direitos Animais.
Quando se diz que é “errado” comprar e consumir versões veganas de produtos como linguiças, salsichas, hambúrgueres, bifes, queijos, leites e mel – às vezes referidas como imitações ou mimeses -, promove-se uma confusão sobre o que o veganismo enfoca e considera antiético. Promove-se uma desnecessária dúvida: o veganismo é simplesmente contra a exploração e morte evitável de animais ou também é contra o consumo de produtos que lembrem em visão e paladar os frutos de exploração animal?
Produtos como carne de proteína texturizada de soja, queijo de mandioquinha, leite de aveia, maionese vegetal, vegarela (mussarela vegetal) e mel de engenho (melaço de cana-de-açúcar) não implicam o tratamento de animais como seres inferiores, coisas, recursos, e a consequente morte violenta deles. Apenas parecem alimentos de origem animal. Logo, não há objeções éticas e não subjetivas, no âmbito vegano-abolicionista, a se fazer de seu consumo.
Assim sendo, a imoralidade de ingeri-los é, ou deveria ser algo estritamente individual, de preferência pessoal, de se sentir psicologicamente bem ou mal em pensar em consumi-los. Ou seja, tudo bem alguém dizer que não se sente bem em comer um bife de glúten por parecer muito, em textura e sabor, uma carne vermelha. Passa a ser um problema quando a pessoa diz que comer bifes de glúten é objetivamente errado, antiético, já que essa crítica não se sustenta sob o ponto de vista vegano.
Atribuir desvio de ética ao consumo desses alimentos distorce o conceito do veganismo. O faz deixar de focar a abolição da exploração animal. Torna-o não mais algo de cunho estritamente ético, mas sim um conjunto de ditames moral-culturais, sem implicações éticas obrigatórias, a serem mandatoriamente seguidos, sob pena de reprovações alheias, uma vez que não implica prejuízos à integridade de outrem mas mesmo assim é considerado “inaceitável”.
Além disso, acaba por “interditar” uma generosa diversidade de alimentos vegetarianos (livres de ingredientes de origem animal) muitas vezes saudáveis. E isso pode atrapalhar seriamente o crescimento do veganismo entre a sociedade, uma vez que muitas pessoas teriam muito mais dificuldade na transição vegana se não contassem com a ajuda das imitações de alimentos de origem animal.
É preciso moderação quando se lidar com mimeses veganas de produtos animais. Não há problema em ter nojo pessoal de uma carne vegetal ou de mel de engenho, mas todo cuidado é pouco quando se acredita ser “errado” consumir algo que lembre visualmente frutos de sofrimento animal. Pode-se estar prejudicando o entendimento sobre o que é realmente ser vegan e o que promove e favorece a continuidade da exploração animal. E o que definitivamente não se precisa é de confusões e distorções sobre o veganismo.

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