Então hoje é o fatídico 25 de Dezembro, uma espécie de 11 de Setembro para aqueles que têm patas, guelras, nadaderias ou demais acessórios não humanos. Alguém elegeu uma data para fazer de conta que houve o nascimento de uma figura mitológica para determinada parcela da humanidade, mas os animais é que voltam à pira de sacrifício. É patética a tentativa de procurar qualquer fiapo de paz, harmonia, compreensão ou whatever em uma mera refeição com familiares ou conhecidos. Muita pretensão para uma barriga cheia, e azar daquele que nasceu neste planeta na configuração ‘porquinho’.
O aumento de trabalho em frigoríficos, durante o mês de dezembro, para dar conta dos pedidos extra para as ‘boas festas’ só faz aumentar o termostato do inferno onde devem arder os animais comestíveis, segundo o voto dos humanos-padrão. Jesus não é Jesus sem peru assado, sem farofa, champanha, castanhas, lombo assado ou arroz à grega. Para todos aqueles que têm à cabeceira da cama um livro antigo com palavras sobre humildade e tal. Que se emocionam com embustes travestidos – só falta a gilete no céu da boca – de imagens de bondade, compreensão superior e milagres merecidos. Que colocam uma maçã na boca do leitão, para enfeitar a mesa e melhor receber os familiares.
Tentar ver o mundo a partir dos olhos de um desses animais eleitos como fonte de alimento é um insight e tanto. ‘Alguém contou tal lenda para outrem, e dois mil anos depois, cá estou eu rumo ao verdugo. Os poderosos invisíveis precisam de nossa carne, nosso sangue, nossa vida e nossa dor, caso contrário os humanos estarão sujeitos ao sofrimento’.
Onde entra o espírito natalino nisso, e por qual buraco exatamente, é algo que nunca entendi, e não vou conseguir explicar a nenhum dos meus irmãos de quatro patas, guelras etc.