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ESTUDO

População de leões em cativeiro triplica na Tailândia, impulsionada por selfies de turistas e pelo tráfico

Pesquisadores alertam que a reprodução descontrolada, o hype nas redes sociais e o crescimento do tráfico de animais exóticos estão colocando leões em perigo..

20 de junho de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Amy Jones/WFFT

A população de leões em cativeiro na Tailândia mais do que triplicou em apenas seis anos, segundo uma nova pesquisa.

O relatório, elaborado pela Fundação Amigos da Vida Selvagem da Tailândia (WFFT, na sigla em inglês) e pelo Grupo de Pesquisa sobre Comércio de Vida Selvagem da Universidade de Oxford, revelou que o número de leões em cativeiro aumentou de pouco mais de 131 em 2018 para mais de 444 em 2024.

Entre 2018 e 2024, os pesquisadores visitaram zoológicos públicos em toda a Tailândia para documentar a quantidade de leões e híbridos de leão em cativeiro. Paralelamente, monitoraram plataformas de redes sociais para identificar animais mantidos em residências particulares e fazendas de criação. Esses dois métodos permitiram acompanhar o crescimento da população de leões em cativeiro no país ao longo do tempo e expor a dimensão de um comércio legal, porém mal regulamentado.

As descobertas, publicadas na Discover Conservation, levaram a novos apelos internacionais por ações para acabar com a exploração de grandes felinos.

Os leões são classificados como “vulneráveis” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e não são nativos da Tailândia. Embora tenham sido oficialmente reconhecidos como espécie exótica protegida em 2022, o relatório aponta que a legislação teve pouco efeito sobre a reprodução em cativeiro.

O crescimento da população de leões em cativeiro na Tailândia é parcialmente impulsionado por sua popularidade entre turistas e pela lucratividade de experiências interativas com os animais, segundo os pesquisadores. Zoológicos e instalações privadas atendem à demanda por atividades como alimentar filhotes com mamadeira, tirar selfies e outras interações, frequentemente promovidas nas redes sociais. Essas postagens atraem mais visitantes e também alimentam o crescente comércio de animais exóticos no país, especialmente entre a elite rica.

“Muitas pessoas se encantam com a ideia de ter um leão sem compreender completamente as implicações éticas, financeiras e de segurança,” disse Tom Taylor, chefe de operações da WFFT e coautor do relatório. “Esperamos que este relatório leve o público a refletir sobre de onde vêm esses animais, em que condições são mantidos e o que acontece quando crescem demais e se tornam perigosos.”

Mais de 90% dos leões em cativeiro na Tailândia estão em zoológicos privados e fazendas de reprodução, de acordo com o relatório. O número de estabelecimentos com leões aumentou de 31 em 2018 para 82 em 2024, sendo que alguns abrigam mais de 50 animais. Taylor alerta para “graves problemas de bem-estar animal”, afirmando que “algumas dessas instalações mantêm os leões em recintos apertados e estéreis, sem luz solar, com piso de concreto e alimentação de baixa qualidade, resultando em uma vida miserável.”

O número de residências particulares com leões aumentou de no mínimo duas em 2018 para 28 em 2024.

Quase metade dos cerca de 101 filhotes de leão nascidos por ano na Tailândia são leões brancos, animais criados seletivamente por causa da aparência e frequentemente apresentados de forma enganosa como raros ou ameaçados de extinção. Vistos como símbolo de status entre os ricos, os leões brancos sofrem com má-formações, sistemas imunológicos debilitados e outros problemas de saúde decorrentes da endogamia.

Em média, nascem 101 filhotes de leão por ano na Tailândia, quase metade deles brancos. Um filhote branco de um mês pode ser vendido por até US$ 15.618 — mais que o dobro do valor de um filhote marrom, que pode chegar a US$ 7.500. Os pesquisadores estimam que apenas a venda de filhotes movimenta quase US$ 1 milhão por ano.

Leões também são frequentemente transportados para fora do país com finalidades pouco claras, o que levanta suspeitas de envolvimento com o tráfico ilegal de animais silvestres. “Recebemos relatos confiáveis de comerciantes indicando que leões na Tailândia estão sendo exportados ilegalmente, tanto vivos quanto mortos, para uso de partes do corpo,” disse Taylor.

O relatório alerta que a população de leões em cativeiro na Tailândia continuará crescendo sem mudanças legislativas urgentes. Os pesquisadores pedem reformas legais, como a proibição da posse privada, restrições a interações entre visitantes e animais e exigências mais rigorosas para licenciamento, a fim de proteger o bem-estar animal e a segurança pública.

Traduzido de Species Unite.

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