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DESMATAMENTO

População de gorilas-das-montanhas cresce sem território para ocupar

3 de julho de 2021
MIni Ekott (Mongabay) | Traduzido por Luna Mayra Fraga Cury Freitas
5 min. de leitura
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As populações de gorilas-das-montanhas têm crescido constantemente nas últimas décadas, em grande parte graças aos intensos esforços de conservação na Ruanda, Uganda e na República Democrática do Congo.

Mas toda a população da espécie está confinada em parques e áreas protegidas nesses países, com espaço limitado para se expandir, e como a população tem crescido, a densidade populacional também tem.

Um novo estudo que rastreou a incidência e intensidade de infecções parasitárias em toda a gama de gorilas da montanha sugere que uma maior densidade populacional se correlaciona com a maior suscetibilidade a parasitas e outros problemas de saúde.

Foto: Ilustração | Pixabay

Os gorilas-das-montanhas, um dos primatas em extinção no mundo, parecem estar enfrentando uma nova ameaça à saúde depois que uma campanha de conservação bem-sucedida os salvou da extinção iminente, diz um novo estudo.

Graças aos intensos esforços de conservação, a população de gorilas das montanhas (Gorila beringei beringei) subiu para mais de 1.000, contra 620 em 1989, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza. Como resultado, em 2018, a organização mudou o status de conservação dos gorilas das montanhas de “criticamente ameaçados” para “ameaçados de extinção”.

No entanto, o habitat disponível para os gorilas das montanhas não se expandiu na proporção do crescimento populacional. A totalidade da espécie está restrita a parques na Ruanda, Uganda e na República Democrática do Congo. Limitados por assentamentos humanos, os gorilas não podem expandir seu território para além dessas áreas protegidas, levando ao aumento da densidade populacional.

O estudo, liderado pelo biólogo Klára J. Petrželková, da Academia Tcheca de Ciências, constatou que, à medida que a densidade de gorilas-das-montanhas aumentava, as populações se tornaram mais suscetíveis a problemas de saúde.

Depois que doenças gastrointestinais foram relatadas nos primatas, os pesquisadores examinaram a prevalência de dois vermes parasitas (helmintos) — Strongyloides stercoralis e tênias — e descobriram que o padrão de infecção parece ser influenciado pela idade, localização e tamanho do grupo dos gorilas.
Segundo os autores do relatório, as descobertas apontam para possíveis “efeitos colaterais” do sucesso na conservação da espécie e devem orientar futuros esforços de conservação e estudos acadêmicos sobre gorilas.

Padrões e mecanismos

O estudo representa a primeira pesquisa sobre infecções por parasitas abrangendo toda a espécie em toda a gama de gorilas-das-montanhas. “O estudo cobriu as duas populações de gorilas da montanha e foi feito em diferentes estações, a fim de descobrir os mecanismos e padrões de infecções por helminto”, disse Petrželková.

Trabalhando em colaboração com as autoridades da Ruanda, Uganda e Congo, uma equipe internacional de pesquisadores rastreou infecções por Strongyloides stercoralis e tênia procurando seus ovos em fezes de gorilas-das-montanhas. Eles coletaram amostras de abrigos noturnos e amostras de gorilas identificados individualmente durante as estações secas e chuvosas em 2018, e estudaram como a idade, o sexo, o tamanho do grupo, a estação e a localização afetam as infecções. Eles também consideraram fatores como o tipo de vegetação, tamanho da subpopulação de gorilas e estrutura social em uma determinada área.

O estudo encontrou mais infecções (comprovadas através da maior presença de ovos de vermes nas fezes de gorilas) em áreas que tiveram mais relatos de incidentes de doença gastrointestinal, indicando que infecções por vermes parasitas representam um grave risco para a saúde dos gorilas.

Os pesquisadores também descobriram que, em algumas áreas, gorilas de grupos familiares menores tinham mais tênias e ovos de Strongyloides stercoralis presentes em suas fezes. De acordo com o estudo, isso ocorre porque grupos menores passam por mais estresse causado por fatores como o aumento de confrontos entre grupos e ataques de externos de humanos, tornando-os mais vulneráveis a problemas de saúde.

Preocupantemente, os pesquisadores disseram que os resultados sugerem indiretamente que “altas taxas de crescimento de subpopulações de gorilas em algumas áreas nos últimos 40 anos podem estar ligadas a altas intensidades de infecção por Strongyloides stercoralis encontradas nessas áreas hoje”.

A perspectiva de o sucesso de um esforço de conservação ter introduzido um novo desafio para a sobrevivência destes primatas é uma curva de aprendizado para os conservacionistas, bem como para a comunidade acadêmica.

“O número crescente de gorilas-das-montanhas, antes altamente ameaçados de extinção, é uma fonte de otimismo e algo a se comemorar. Mas, como cientistas da conservação e gestores de vida selvagem, temos muito a aprender”, disse Joanna Lambert, bióloga de conservação e professora de estudos ambientais na Universidade de Colorado Boulder, que não participou da pesquisa. “Os dados apresentados indicam que o que está acontecendo atualmente com animais em extinção é uma história ainda em desenvolvimento com consequências inesperadas.”

Limitações do estudo

Mais estudos são necessários para chegar a conclusões definitivas, disse Petrželková. Embora o estudo indique uma ligação entre populações de gorilas mais densas e infecções parasitárias, dados específicos sobre a área onde estão as os contingentes populacionais atualmente são muito limitados para que o vínculo entre estes fatores seja preciso.

Além disso, os pesquisadores descobriram que os machos adultos, o subgrupo mais frequentemente diagnosticado com gastrite fatal, não apresentaram níveis mais elevados de infecções por vermes parasitas do que as fêmeas adultas.

No entanto, as descobertas até agora fornecem insights importantes para a compreensão das populações de gorilas-das-montanhas dentro de seu habitat restrito, disse Anna Behm Masozera, diretora do Programa Internacional de Conservação de Gorilas, com sede em Kigali, ao Portal Mongabay.

“Embora o estudo apresente uma série de áreas que devem ser pesquisadas mais profundamente, as conclusões apontam para a importância de proteger o habitat remanescente destes animais contra o desenvolvimento de infraestrutura para mitigar o impacto humano sobre eles”, disse ela.

“Não há respostas fáceis para os desafios de conservação que enfrentam os gorilas-das-montanhas nas próximas décadas, e podemos nos basear nem um case que sabemos ter oferecido um ambiente propício para a recuperação da espécie: ação e monitoramento informados e integrados, colaborativos e transfronteiriços. Este estudo fornece informações importantes e aprofunda o argumento de que um plano de ação abrangente para gorilas-das-montanhas será um precursor para enfrentar de forma eficaz e colaborativa os muitos desafios que virão.”

Lambert disse que o estudo revela um “caminho claro e acionável” para os profissionais de conservação e autoridades de proteção da vida selvagem, e que sugere que os parasitas gastrointestinais devem ser cuidadosamente monitorados.

“A boa notícia é que esse monitoramento é relativamente barato e pode ser feito de forma não invasiva, sem prejuízo para o animal. Além disso, animais infectados com parasitas podem ser tratados com medicamentos altamente eficazes e bem conhecidos pelos veterinários de animais silvestres”, disse ela em entrevista.

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