A ria Formosa, no Algarve, era em 2002 o local do mundo com maior densidade da espécie, com uma população estimada de dois milhões de indivíduos. Seis anos depois, já só havia 300 mil cavalos-marinhos. Um projeto premiado pelo Oceanário vai estudar o problema e propor soluções
Em 2002, quando a investigadora canadiana Janelle Curtis fez a primeira avaliação das populações de cavalo-marinho da ria Formosa, descobriu para grande entusiasmo da comunidade internacional dos biólogos, incluindo dos portugueses da Universidade do Algarve, que lhe deram apoio logístico no trabalho de campo, que aquele ele era o local do mundo com a maior densidade absoluta de populações deste animal marinho. Nessa altura, ela calculou que haveria ali cerca de dois milhões de cavalos-marinhos de focinho comprido (Hippocampus guttulatus).
Em 2007 outro estudo em que se observou populações de Hippocampus guttulatus nos mesmos locais indicou que as populações da espécie tinham sofrido um declínio de 85%. Em seis anos, um curtíssimo período de tempo, os cavalos-marinhos passaram de dois milhões para cerca de 300 mil na ria Formosa. Que se passava? Ninguém sabia responder.
Um projeto de investigação para estudar o problema foi feito pela equipe. Esse projeto, “Cavalos-marinhos em risco na ria Formosa?”, foi agora um dos vencedores do InAqua, um fundo criado pelo Ocenário de Lisboa e o National Geographic Channel para apoiar este tipo de investigações, em que a conservação é pedra de toque . O financiamento, de 10.300 euros para dois anos, vem em boa hora. “Foi a única forma de conseguirmos financiar o trabalho”, sublinha José Pedro Andrade, que é também o seu coordenador.
A equipe vai para o terreno já em dezembro. “Vamos alargar o raio de ação das observações na ria, para além das zonas que os dois biólogos canadianos já estudaram em 2002 e 2007”, explica José Pedro Andrade.
Uma possibilidade para explicar o desaparecimento dos cavalos-marinhos poderia ser uma deslocação das populações, dentro da ria, para outros locais. Por isso, alargar a amostragem também servirá para tirar teimas, mas o coordenador do projeto considera a hipótese “muito remota”. Um outro indício, observado na ria, nos últimos anos, por outros investigadores do Algarve, aponta uma perda de habitat.
Com o seu focinho pontiagudo, o cavalo-marinho tem apenas uma barbatana dorsal e duas peitorais muito pequenas, o que lhe dá uma capacidade de locomoção limitada. Desloca-se muito devagar através das águas, como num filme em câmara lenta. Vale-lhe a cauda, que enrola em torno das plantas marinhas, como Zostera marina e a Cymodocea nodosa, que sobem do fundo em filamentos, e aos quais se fixa, para não ir nas correntes.
Nos últimos anos, no entanto, estas pradarias, como se chamam as extensões de plantas marinhas que constituem o habitat da espécie, sofreram uma diminuição acentuada na ria, e isso poderá estar na origem do declínio das populações de cavalo-marinho. Outra observação, que aponta exatamente nesse sentido, é a de que cada vez mais se encontram estes animais em pontos de fixação que antes não utilizavam, como as amarrações de boias ou ramos imersos, como se procurassem uma alternativa para sobreviver.
“A diminuição das pradarias poderá ter a ver com a própria dinâmica da ria”, diz José Pedro Andrade. Por isso, o projeto, além da observação das populações, estudará também a hipótese de pradarias artificiais, que deverão ser testadas na própria ria, no fim do projeto.
Com informações de DN Ciência