A população ocidental da borboleta-monarca, espécie icônica e ameaçada, caiu para um dos menores níveis já registrados, com menos de 10.000 indivíduos avistados na Califórnia durante o inverno de 2023. A contagem anual, realizada pela Xerces Society for Invertebrate Conservation, registrou apenas 9.119 borboletas, o segundo menor número desde o início do monitoramento, em 1997. O recorde negativo foi em 2020, quando menos de 2.000 monarcas foram contabilizadas.
O declínio alarmante reforça a urgência de medidas de conservação. Em dezembro de 2024, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA propôs incluir a borboleta-monarca na lista de espécies ameaçadas de extinção, uma decisão que pode ser finalizada até o fim deste ano. A população ocidental, que já chegou a 4 milhões de indivíduos na década de 1980, diminuiu mais de 95% desde então. Sem ações urgentes, estima-se que a espécie tenha 99% de chance de desaparecer até 2080.
Causas do declínio
A destruição de habitats, o uso de pesticidas e as mudanças climáticas são apontados como os principais responsáveis pelo colapso populacional. Condições climáticas extremas, como o outono quente e seco de 2023, também prejudicaram a reprodução e o desenvolvimento das borboletas, segundo Emma Pelton, bióloga da Xerces Society. Além disso, incêndios florestais recentes na região de Los Angeles destruíram áreas críticas de hibernação, como o Lower Topanga Canyon, onde mais de 100 monarcas foram registradas no ano anterior.
Outro exemplo preocupante ocorreu no Condado de Santa Barbara, onde a população caiu de 33.200 borboletas em 2022 para apenas 198 em 2023. A contagem é realizada por cerca de 400 voluntários em 257 locais ao longo da costa da Califórnia e da Baixa Califórnia, no México, áreas onde as monarcas ocidentais se reúnem para hibernar antes de migrar para o oeste dos EUA na primavera.
Diferença entre populações ocidental e oriental
Enquanto a população ocidental enfrenta um declínio drástico, a população oriental, que hiberna no centro do México e migra para o leste dos EUA, também registrou uma redução de mais de 80% desde os anos 1980. Ambas as populações são afetadas por ameaças semelhantes, mas a ocidental está em situação ainda mais crítica.
Esforços de conservação
Além da proposta de listar a monarca como espécie ameaçada, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA sugeriu a designação de 4.395 acres como habitat crítico em sete condados da Califórnia. A Xerces Society também pressiona a Agência de Proteção Ambiental (EPA) a considerar os impactos de pesticidas sobre borboletas e outros polinizadores. Atualmente, apenas abelhas adultas são incluídas nos testes obrigatórios para aprovação de pesticidas.
Estudos da Xerces Society e da Universidade de Nevada-Reno revelaram que 64 pesticidas contaminam a serralha, planta essencial para a alimentação das lagartas-monarca. Um desses pesticidas, a metoxifenozida, foi detectado em 96% das amostras analisadas, mas seu uso é permitido por não ser tóxico para abelhas.
Chamado à ação
“A borboleta-monarca é um símbolo de resiliência e beleza, mas precisa de nossa ajuda para sobreviver”, afirmou Martha Williams, ex-diretora do Serviço de Pesca e Vida Selvagem. A Xerces Society enfatiza a necessidade de políticas públicas mais robustas e da participação da sociedade no debate sobre a proteção da espécie. Comentários públicos sobre a proposta de listagem como espécie ameaçada podem ser enviados até 12 de março.
Enquanto isso, especialistas alertam que, sem uma redução significativa das ameaças e um esforço coordenado de conservação, o futuro da borboleta-monarca permanece incerto. “Como podemos proteger essas espécies essenciais se não temos as informações básicas para tomar decisões informadas?”, questionou Rosemary Malfi, diretora de política de conservação da Xerces Society.