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EXTERMÍNIO

Pombo-da-madeira: associações ambientalistas denunciam matança de espécie protegida ao parlamento europeu

2 de setembro de 2023
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O pombo-da-madeira (Columba trocaz) é uma espécie que ocorre exclusivamente na floresta Laurissilva da Ilha da Madeira. Há vários anos que os agricultores se queixam dos prejuízos sofridos por causa do aumento da abundância dessas aves, mas os ambientalistas dizem que o abate indiscriminado não é a solução. Foto: Erik Wahlgren

Um grupo de oito organizações não-governamentais (ONG) de defesa do ambiente e dos animais apresentaram esta semana uma queixa junto da Comissão Europeia contra a morte de pombos-da-madeira (Columba trocaz), que dizem violar a legislação comunitária em vigor.

Há 12 anos que na Ilha da Madeira permite o abate anual desta espécie, protegida pelo Anexo I da Diretiva Aves da União Europeia. O Governo Regional diz que se trata de uma medida extraordinária necessária para controlar a população de pombo-da-madeira, também conhecido como pombo-trocaz, e atenuar os danos causados à agricultura.

Num relatório divulgado em janeiro do ano passado, as autoridades madeirenses dizem que “como consequência de uma elevada plasticidade alimentar, o pombo trocaz usa de forma regular, por vezes intensiva, habitats agrícolas onde provoca danos, muitas vezes, bastante relevantes e lesivos para os agricultores”. Para minimizar os prejuízos, o Governo Regional implementou um programa de “abate seletivo de indivíduos que estejam comprovadamente provocando estragos nos campos agrícolas”, tendo em 2021 autorizado o abate de pombos-da-madeira fora do seu habitat natural.

Nessa altura, a Associação dos Jovens Agricultores da Madeira e Porto Santo (AJAMPS) afirmou, em nota, que “esta medida é de extrema importância, uma vez que os prejuízos causados nas explorações agrícolas, têm sido elevados, pondo em causa a sua viabilidade económica”.

No entanto, as ONG ambientalistas consideram que esta medida “não tem um caráter extraordinário ou pontual de correção de efetivos como argumenta a Administração Regional”, argumentando que “não sendo uma situação extraordinária ou pontual, o abate é um incumprimento da Diretiva Aves da União Europeia”.

“Passados 12 anos sem respostas satisfatórias da Administração Regional e sem fim à vista para o abate ‘extraordinário’ do pombo-da-madeira, oito associações de ambiente viram-se obrigadas a reportar o problema à Comissão Europeia, através de uma queixa enviada esta semana”, dizem as associações em nota enviada às redações. Fazem parte do grupo a Sociedade para a Proteção e Estudo das Aves (SPEA), a ANP|WWF, a GEOTA, a FAPAS, a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a Quercus, a Sociedade Portuguesa de Ecologia e a ZERO.

Explica Domingos Leitão, presidente da LPN, que “estamos perante um abate contínuo e regular, que retira mais de 5% dos efetivos populacionais todos os anos”. Para o responsável, “trata-se de um abate em tudo semelhante a uma atividade extrativa e cinegética, e cujo impacto na população desta espécie protegida nem sequer está sendo adequadamente monitorizado”.

O pombo-da-madeira é uma espécie que existe exclusivamente na Madeira e uma personagem indissociável da floresta Laurissilva, atuando como dispersor de sementes e, assim, para a diversidade e manutenção desse ecossistema singular.

As ONG alertam que nos últimos anos “a situação agravou-se”, pois “em 2021, 2022 e 2023, o Governo Regional da Madeira autorizou que o abate do pombo-da-madeira fosse efetuado por caçadores, sem estabelecer devidamente as condições e os limites desse abate, tratando esta espécie protegida como se fosse uma espécie cinegética a controlar”.

E defendem que o abate só deve ser considerado uma medida de último recurso, quando “ficar claramente demonstrado que as outras medidas não funcionam”, e deve ser limitado e não colocar em risco a espécie.

“Acontece que a Administração Regional não cumpriu nenhum destes pressupostos, e decidiu matar pombos-da-madeira sem justificação nem salvaguardas”, critica Domingos Leitão.

“Não é pelo simples facto de uma espécie se alimentar de cultivos agrícolas numa dada altura, que existe um prejuízo que justifique o seu controlo”, diz o dirigente da LPN, salientando que “a Diretiva Aves da UE é muito clara, e exige que o alegado prejuízo seja avaliado e quantificado com rigor”.

Apresentada a queixa à Comissão Europeia, as oito ONG portuguesas querem que o executivo europeu “interpele o Estado Português e a Administração Regional da Madeira, e faça cumprir a Diretiva Aves, impedindo o abate ilegal e desnecessário desta espécie única e endémica, que é uma das joias da ilha da Madeira e da floresta Laurissilva, património mundial da UNESCO”.

 

O pombo-da-madeira é uma espécie protegida pela Diretiva Aves da UE e pela Convenção de Berna.
Foto: Erik Wahlgren

 

Fonte: Greensavers

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