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ALÉM DO ESTIGMA

Pombas estão entre os animais mais inteligentes e afetuosos do mundo

21 de julho de 2025
Redação ANDA
2 min. de leitura
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Foto: Pexels

Elas estão entre nós, discretas, muitas vezes invisibilizadas. Caminham entre os carros, abrigam-se em marquises e monumentos, e convivem com a indiferença urbana. As pombas, frequentemente vistas com desprezo ou associadas injustamente a “pragas urbanas”, são, na verdade, seres de profunda sensibilidade, lealdade e inteligência. E sua história com os humanos diz muito mais sobre nossa negligência do que sobre sua presença.

Essas aves, que formam casais para a vida inteira, dividem tarefas parentais, produzem um “leite” rico em nutrientes para alimentar seus filhotes — chamado leite do papo — e se comunicam por meio de arrulhos que expressam carinho, medo, proteção ou saudade. Não se trata apenas de instinto, mas de vínculos emocionais reais e observáveis, reconhecidos inclusive pela ciência comportamental.

Inteligência além da imaginação

Pesquisas científicas vêm desvendando capacidades cognitivas surpreendentes nas pombas. Elas:

  • Reconhecem a própria imagem no espelho — um feito raríssimo no reino animal.
  • Lembram de rostos e imagens por anos.
  • Aprendem a identificar vozes humanas e seus significados.
  • Compreendem conceitos abstratos e números.
  • Tomam decisões baseadas em probabilidades com eficiência comparável (ou até superior) à de crianças pequenas.

Elas enxergam o mundo de forma diferente: possuem visão tetracromática, que inclui o ultravioleta — algo que os olhos humanos não captam. E possuem literalmente um GPS embutido. Dentro de seus bicos há cristais magnéticos que, junto com a leitura da luz solar e de sons de baixa frequência, guiam seus voos por milhares de quilômetros com precisão espantosa.

Heroínas esquecidas

Na Primeira Guerra Mundial, o pombo Cher Ami salvou 194 soldados levando uma mensagem crucial sob fogo inimigo, mesmo ferido gravemente. Foi condecorado e lembrado como herói. Mas hoje, quantas pombas feridas, doentes ou famintas passam despercebidas sob os nossos olhos, em plena luz do dia?

Vítimas do abandono humano

Muitas das pombas que vivem nas cidades descendem de aves domesticadas. Fomos nós, humanos, que as trouxemos para perto, criamos, reproduzimos e depois simplesmente as descartamos. E mesmo após serem abandonadas à própria sorte, elas seguem tentando sobreviver entre o concreto, o barulho e o descaso. Aprenderam a viver conosco, mas nunca tiveram de nós o cuidado ou o respeito que merecem.

O preconceito contra pombas alimenta negligência, maus-tratos e até extermínios. Mas não há nada de “praga” nessas aves. O que existe é resiliência diante do abandono, afeto diante da hostilidade e uma impressionante capacidade de adaptação.

Um convite à empatia

Da próxima vez que cruzar com uma pomba na rua, lembre-se de que você está diante de uma vida com sentimentos, memória e laços afetivos reais. Um ser que ama, cuida, sofre e resiste. Um ser que merece compaixão.

É hora de revermos o olhar que lançamos sobre as aves urbanas. Em especial, sobre aquelas que seguiram conosco mesmo quando viramos as costas.

 

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