É praticamente impossível encontrar alguém que não conheça Paul, o polvo que chamou atenção por escolher suas refeições nas caixinhas cujas bandeiras representavam os países que, posteriormente, ganharam aos jogos da Copa. Como em época de Copa do Mundo, o mundo, claro, fica abobado, eis que o polvo ficou famoso, ganhou flashes em seus olhos, luzes e muito falatório. Ainda que ninguém tenha dito o quanto é absurdo manter um animal em um aquário. O quanto é absurdo fazer com que ele se torne um atrativo comercial.
Em um aquário em Oberhausen, na Alemanha, enquanto outros polvos eram degustados, Paul se safou por ser, hã, vidente?
Comparado ao golfinho no quesito inteligência, o polvo merecia mais créditos para não ser devorado. Deveria bastar, por exemplo, sua espécie ser considerada a mais inteligente entre os invertebrados, com aprendizado de memória comparável à de vertebrados tidos como mais avançados pela classe cientista. Dados comprovados em estudo de 2008, pelo neurobiólogo Benny Hochner, surpreso com a complexidade dos cérebros dos moluscos.
Não há relação entre a boa memória de Paul e suas refeições escolhidas como palpites futebolísticos. Mas há relação entre as lentes focadas para Paul e a alienação que o povo insiste em ampliar quando é época de jogos, falta de trabalho e excesso de bagunça. Juro que não entendo como pode ser tão fácil entreter o ser humano. Enquanto centenas de pessoas ficavam desabrigadas no Nordeste, nossas maiores redes de televisão transmitiam o polvo no aquário, com imagens intercaladas de outros polvos fatiados, dizeres de muita ironia e nenhum bom senso.
Mais uma vez perdemos a chance de falar do grotesco hábito de manter animais em gaiolas de vidro para serem comidos ali, saídos do aquário para o prato.
Não bastasse o sucesso de Paul, ele seria, sim, grelhado sem dó. Mas ficará, como honra ao mérito, esperando a morte cercado de olhos curiosos e paredes.