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Poluição urbana afeta jacarés em Manaus

31 de dezembro de 2013
3 min. de leitura
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No reino animal, os jacarés são vistos como grandes predadores que esperam pacientemente para dar o bote em suas presas. Presentes em vários igarapés localizados na zona urbana de Manaus, esses répteis vem sofrendo mudanças físicas e se adaptando, de forma equivocada, a situações trazidas por problemas urbanos como acúmulo de lixo nesses canais hídricos e a presença do ser humano que, em alguns casos, se sente mais seguro matando esses animais.

No reino animal, os jacarés são vistos como grandes predadores (Foto: Divulgação)
No reino animal, os jacarés são vistos como grandes predadores (Foto: Divulgação)

O professor do curso de Zoologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ronis da Silveira, tem um projeto que avalia a população dos 12 maiores vertebrados nativos em processo de urbanização na Amazônia Central. Nessa análise, segundo ele, foi possível identificar pelo menos quatro espécies de jacarés nos igarapés.

“Estamos falando de aproximadamente mil animais em 30 pontos da cidade. Ainda não é possível obter um levantamento exato de quantos crocodilianos existem nessas áreas, pois todo o trabalho de apuração deve ser feito à noite e existem limitações na equipe que nos impede”, explicou.

As espécies encontradas na capital até a última atualização do projeto foram: jacaré-coroa, jacaré-tinga, jacaré-paguá e jacaré-açu, no qual a última não está incluída na análise pelo fato da mesma aparecer com menos frequência, apontou o biólogo. Segundo Ronis, os répteis existem há mais de 200 milhões de anos e necessitam da interface água-terra para sobreviverem, mesmo ficando vulneráveis aos avanços da urbanização.

“Esses animais sempre viveram aqui, porém, à medida que vamos destruindo as matas ciliares no entorno dos igarapés, acabamos nos deparando com eles. Os jacarés sempre estiveram lá, eles não são migrantes e não pretendem sair”, avisou Ronis.

Mudanças

Algumas alterações físicas foram notadas nos jacarés que habitam os igarapés da capital, entre elas está a obesidade e a disfunção no crescimento dos reptilianos. “Eles estão cada vez mais gordos e crescendo menos, contudo isso não acontece pela variedade na alimentação, mas muito pelo lixo que eles confundem com comida”.

De acordo com Ronis, na cidade, os jacarés se alimentam principalmente de ratos e baratas, que existem em abundância, decorrentes da poluição. “A oferta de comida é diferenciada. Também constatamos a presença de pedras de construção civil no estômago desses animais, sacos plásticos e vidro”, explicou o biólogo.

Outro problema encontrado principalmente entre as fêmeas da espécie é a carência de lugares para as mesmas depositarem seus ovos. “As fêmeas são extremamente exigentes no que diz respeito à reprodução. Elas não fazem seus ninhos em qualquer lugar. Isso poderá impactar na quantidade de animais e talvez na extinção deles da zona urbana”, alertou.

Resgate

O jacaré é considerado um bem da união desde a Constituição de 1988. Apesar dos impasses entre o Município e o Estado para criar políticas que busquem zelar pelo animal, o professor aconselha a população a não tentar abater os répteis.

“Os jacarés nunca atacarão o ser humano, tendo comida ou não. O que pode ser feito pela sociedade é tentar conviver de forma harmoniosa com esses animais ou, na melhor das hipóteses, chamar o resgate para que eles sejam removidos com segurança”, explica.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) possui um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas). Para acionar o resgate de um animal em situação de risco, é necessário ligar para o número 190, onde o Batalhão Ambiental será deslocado e encaminhará o réptil para outra área da cidade.

Fonte: A Crítica

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