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CRISE HÍDRICA

Poluição e mudanças climáticas agravam crise dos rios brasileiros, alerta especialista

Geógrafo Gustavo Veranese defende parques lineares e monitoramento comunitário para recuperar rios e critica omissão do poder público e de empresas

23 de fevereiro de 2025
Beatriz Bevilaqua
3 min. de leitura
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Rio Paraná. Foto: Erick Caldas Xavier | Wikimedia Commons

Os rios brasileiros enfrentam uma crise alarmante, marcada por secas severas, enchentes devastadoras e um aumento da poluição, exacerbados pelas mudanças climáticas. Neste episódio do “Brasil Sustentável”, da TV 247, entrevistamos Gustavo Veranese, geógrafo, educador e ambientalista. Ele coordena grupos de monitoramento da qualidade da água na bacia hidrográfica do Alto Tietê e lidera o Programa Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica.

“Nenhum rio é sujo; nós sujamos os rios”, enfatiza o especialista. Se os rios estão contaminados, isso é responsabilidade humana. Segundo Gustavo é necessário trabalhar de forma mais harmônica com o meio ambiente, considerando os rios como recursos valiosos para as cidades, como a pesca e o lazer, por meio da criação de parques lineares.

“Um parque linear é um espaço ao longo do rio que oferece áreas para atividades recreativas e esportivas, promovendo a conexão ambiental e criando corredores ecológicos. Esses parques ajudam a absorver a água da chuva e a filtrar a água nos rios, trazendo benefícios para todos”, explica.

Entretanto, a construção de avenidas nas margens ou em cima dos rios tem causado problemas. Com chuvas mais intensas, resultantes das mudanças climáticas, os rios transbordam, e os problemas aumentam. “As soluções propostas pelo poder público muitas vezes são ineficazes, e a situação parece sempre ser uma surpresa, com desculpas que se tornam repetitivas”, alerta Gustavo.

O Observando os Rios é um projeto que reúne comunidades e as mobiliza para monitorar a qualidade da água de rios, córregos e outros corpos d’água das localidades onde elas vivem. O monitoramento da água é realizado com uma metodologia desenvolvida pela SOS Mata Atlântica e que utiliza um kit de análise e indicadores de percepção para levantar o Índice de Qualidade da Água (IQA).

“Os grupos voluntários fazem a coleta e a medição da qualidade da água uma vez por mês e disponibilizam os resultados em um banco de dados na internet. Os indicadores levantados por todos os grupos de monitoramento são reunidos em relatórios técnicos anuais que formam o retrato da qualidade da água dos rios dos 17 estados da Mata Atlântica”, explica Gustavo.

Hoje sabemos que a quantidade de plásticos no ambiente é cada vez maior, especialmente no oceano. Mas como esses resíduos chegam ao mar? Eles vêm do continente, e os rios servem como vias de transporte para esses materiais. Encontramos plástico em praticamente todos os lugares do planeta, inclusive em nossos corpos. Já foram detectados microplásticos em tecidos e órgãos humanos, o que é extremamente preocupante.

Mais de dois mil voluntários participam do projeto de monitoramento da qualidade da água dos rios. “Durante conversas frequentes com esses voluntários, um problema comum identificado de norte a sul do país foi a presença de plásticos”, disse Gustavo. Diante desse cenário, a SOS Mata Atlântica lançou a campanha Rio Sem Plástico, com o objetivo de diagnosticar a quantidade de plástico que chega aos rios.

“Estamos realizando uma primeira aferição sobre a presença de plásticos no Rio Tietê e agora pensamos em dar outros passos para entender melhor a situação, incluindo plásticos maiores, menores e outros componentes muitas vezes invisíveis ou difíceis de quantificar. Essa mobilização da sociedade em prol dos rios nos leva a considerar novas atividades”, disse.

Como parte do trabalho da SOS Mata Atlântica, todas as ações visam a incidência política, buscando influenciar decisões em níveis municipal, estadual e federal. “Nosso objetivo é propor e melhorar leis, além de impedir a criação de legislações prejudiciais ao meio ambiente. A responsabilidade maior nesse contexto é do poder público, que deve implementar a logística reversa dos resíduos”, avaliou.

Segundo o especialista, a responsabilidade pelos resíduos é colocada muitas vezes apenas nas costas dos cidadãos. Precisamos também responsabilizar as empresas que produzem e comercializam embalagens. “Elas lucram com o uso de suas embalagens, mas raramente se responsabilizam pelo destino final delas. Assim, a responsabilidade recai sobre a população, que acaba tendo que lidar com a destinação inadequada. No final das contas, quem paga essa conta são os cidadãos”, aponta Gustavo.

Fonte: Brasil 247

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