Hansen e seus coautores disseram que o efeito de resfriamento dos aerossóis foi subestimado. No novo artigo, os pesquisadores argumentaram que os aerossóis tiveram um impacto de resfriamento muito maior quando liberados em ar relativamente puro em locais suscetíveis a mudanças nas nuvens.
Os pesquisadores preveem que as temperaturas globais permanecerão em níveis recordes ou próximos a eles este ano, uma tendência que apoiaria sua teoria sobre a diminuição da prevalência de aerossóis de transporte marítimo.
“As temperaturas da superfície do mar permanecerão anormalmente altas, fornecendo combustível para tempestades poderosas e chuvas extremas”, acrescentaram.
Os cientistas dizem que o aquecimento global nos próximos 20 anos provavelmente será de cerca de 0,2°C a 0,3°C por década, com temperaturas atingindo 2°C acima dos níveis pré-industriais até 2045.
No Acordo de Paris, quase 200 países concordaram em limitar o aumento das temperaturas globais a bem abaixo de 2°C e, idealmente, a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O presidente dos EUA, Donald Trump, iniciou o processo de retirada de Washington do pacto pela segunda vez.
“A meta de 2°C está morta”, disse Hansen, citando a contínua alta demanda de energia de combustíveis fósseis convencionais.
O aquecimento global acelerado levaria a um derretimento adicional do gelo polar e fluxos de água doce no norte do oceano Atlântico, o que, por sua vez, poderia levar ao desligamento da Amoc (“circulação meridional invertida do Atlântico”) dentro de algumas décadas, disseram os pesquisadores.
Este é um grande sistema de correntes oceânicas que ajuda a garantir que lugares como o Reino Unido sejam muito mais quentes do que outras áreas em latitude semelhante.
“Se o Amoc for desligado, isso trará grandes problemas, incluindo uma elevação do nível do mar de vários metros”, escreveram os autores, descrevendo tal cenário como o “ponto sem retorno”.
O artigo também analisou outras chamadas forçantes climáticas que podem alterar as temperaturas do planeta, mas apontou que questões como radiação solar e erupções vulcânicas tiveram um impacto muito menor do que os aerossóis ligados ao transporte marítimo e às emissões de gases de efeito estufa.
Alguns cientistas questionaram a pesquisa. Piers Forster, professor de mudanças climáticas físicas na Universidade de Leeds, disse que o efeito dos aerossóis apenas “contribui com uma pequena quantidade”.
Ele acrescentou: “Outros estudos mostram que efeitos de variabilidade como o El Niño causaram as altas temperaturas nos últimos dois anos, e o componente induzido pelo homem do aquecimento global está em torno de 1,3-1,4°C, ainda abaixo do marco de 1,5°C do Acordo de Paris.”
Richard Allan, professor de ciência climática na Universidade de Reading, disse que o relatório era “abrangente”, mas argumentou que as descobertas pareciam “excessivamente sombrias em comparação com o crescente corpo de pesquisa científica”.
Fonte: Folha de S.Paulo