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AÇÃO HUMANA

Poluição de praias aumenta incidência de tumores em tartarugas; entenda o que é fibropapilomatose

11 de abril de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Robson Guimarães Santos

Após observação e estudo de tartarugas-marinhas com saliências semelhantes a verrugas, decorrentes de contaminação por um tipo de herpes-vírus, pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa concluíram que a poluição nas praias tem relação direta com isso.

Embora benignos, os tumores causados pelo vírus Chelonid alphaherpesvirus 5 (ChHV-5) , característicos da fibropapilomatose (FP), podem atrapalhar a alimentação e o deslocamento dos répteis aquáticos. Na natureza, essa falta de agilidade pode significar a morte do animal.

De acordo com Robson Guimarães dos Santos, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e autor de artigos sobre o tema, a prevalência da doença pode ser usada como indicador da qualidade ambiental, já que uma está diretamente ligada à outra.

“Tartarugas-verdes costumam se alimentar bem perto da costa, nas mesmas áreas que nós costumamos utilizar, por isso são bons indicadores da saúde do ambiente para captura de pescados e frutos do mar”, afirma o coordenador do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno (ECOA Lab).

Segundo Robson, a FP é multifatorial, ou seja, além da infecção pelo vírus, outros fatores favorecem a manifestação da doença, como: idade do indivíduo (ela afeta mais os juvenis), nível de degradação do habitat, águas mais quentes, dentre outros.

“Encontramos uma relação entre os índices de saneamento básico e a ocupação humana com a doença. Quanto menor o saneamento maior a prevalência da doença e quanto maior a presença humana maior a prevalência da doença”, acrescenta ele.

Embora a razão para esta alta prevalência seja desconhecida, foi sugerido que a redução da qualidade da água dos centros urbanos e a poluição térmica pelas indústrias metalúrgicas costeiras podem estar associados com a incidência de animais doentes nas proximidades.

“O que a gente pode afirmar nesse momento é que existe uma uma associação entre a usina e a presença desses tumores. Agora, o que é a causa, o que é a consequência e como esse mecanismo se desenrola é uma pergunta bastante complicada”, comenta Ralph Vanstreels, primeiro autor de um artigo publicado em agosto do ano passado.

Estudos sobre o tema

O Laboratório de Patologia Comparada de Animais Silvestres (Lapcom) da USP avaliou 2.024 tartarugas-verdes (Chelonia mydas) no Espírito Santo, entre 2018 e 2021, e 41% delas apresentavam tumores. Foi encontrada também uma relação entre a presença de sanguessugas e a doença, mas não se sabe se é como causa ou consequência.

Em outro estudo, cientistas do Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM) verificaram que 13,5% de 672 tartarugas marinhas observadas no litoral sul do Rio Grande do Norte, entre 2014 e 2022, tinham tumores cutâneos associados à fibropapilomatose. A tartaruga-verde (Chelonia mydas) foi a espécie mais afetada (97%).
Outro levantamento, feito pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC/UFPR), analisou 9 mil indivíduos encalhados no litoral entre os estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina. Sobre a fibropapilomatose (FP), a proporção média de indivíduos com a doença em relação ao total de indivíduos (prevalência média) na área foi de 18%.

Um estudo mais antigo (feito em 2010), comparou a prevalência da doença no ES (alta degradação) e em Fernando de Noronha (baixa degradação). Após avaliação de 660 tartarugas, dos 500 animais Fernando de Noronha, nenhum tinha a doença (em 2010); enquanto dos 160 animais avaliados em Vitória (ES), 60% dos animais estavam doentes.

Ciclo das tartarugas-verdes

No Brasil, segundo Robson, os animais costumam nascer em ilhas oceânicas isoladas, como a Ilha de Trindade (ES). Ao sair das praias, os filhotes vão para a zona oceânica e permanecem nela por 2 a 5 anos e, depois vêm para as regiões costeiras se alimentar.

Nessas regiões, estão as áreas mais degradas onde a doença costuma a aparecer. O fibropapiloma não é um câncer, mas o animal pode acabar morrendo porque não consegue realizar atividades simples como antes.

Uma mesma tartaruga pode ter centenas de tumores ao longo de todo o corpo, inclusive nos olhos, nas nadadeiras, na boca e em órgãos internos.

“De maneira geral, nós temos que os juvenis tem maior prevalência da doença e nos adultos nós praticamente não encontramos. Isso pode ser por regressão do vírus ou porque animais com FP morrem antes de atingir a idade adulta. Ou ainda a interação entre as duas coisas”, finaliza Robson.

Fonte: G1

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