O veganismo virou um guarda chuva para as demandas pessoais, isso já era evidente. Agora está também virando palco de outras bandeiras. Algumas pessoas estão aqui buscando qualquer coisa, menos o princípio ético a que ele se propõe. Parece que, para ser vegano, o sujeito precisa ser perfeito. Só que não.
O veganismo é a libertação animal.
Escrevo este artigo por diversos motivos, um por que estou cansada de esoterismo, naturebismo, religião e pseudolibertários (que no fundo são uns carolas) turvando a causa. E porque quando uma celebridade se torna vegana, há uma onda de resistência de veganos que também se creem “celebridades”. Todo mundo precisa dar seu aval negativo. “O fulano não pode ser vegano”, “a ciclana não é vegana”. Existem senões. Só é vegano quem é do partido a, quem é da religião tal, quem não come açúcar branco, quem não toma coca cola. Se o sujeito era “bom ou mau” antes de ser vegano não vai ser aqui que ele vai ser curado. Veganismo não é religião.
Enquanto se colocam todas essas regras de ‘sabedoria’ aos novos veganos e aos que já estão dentro da causa, eu fico me perguntando se estas pessoas que ditam regras se propõe a serem veganas de fato.
Será que elas são veganas no que tem de ser? Ou será que tudo bem comer mel, consumir um ovinho de galinha feliz, ou relativizar traços, couro, escapar no consumo de leite, etc… Até onde vai esse veganismo de araque?
O vegano deveria se aprimorar antes de tudo nas questões básicas do veganismo, na filosofia e prática.
As feministas não aceitam homens na sua causa, imagino que o movimento negro também não aceite outras etnias. Por que os animais precisam aceitar todas essas pessoas enfiando regras, palpites que não tem nada a ver com sua libertação?
E ainda por cima terem que aguentar o peso de uma espera sem fim: só quando toda a humanidade fizer a revolução, quando todos forem feministas, de bem com a natureza (um conceito bem largo) etc, aí sim é que olharão para os animais.
Com licença, aqui não. Essa é uma causa deles.
Quando se começa a aumentar o rol de ‘critérios’ ad infinitum, a ‘exigência’ vai ficando cada vez mais difícil de ser cumprida, e isso vai afastando as pessoas. Vegano não pode comer soja, não pode ser junk food, não pode comprar coisas da China, não pode tomar água da torneira, não pode andar de carro, tem que ter bicicleta, tem que se alimentar de brotos ou do Sol. A lista de pirações foi inventada por qualquer um e precisa ser parada.
Veganismo não é isso. E muitos dos que enfiam regras nessa lista idiota nem são veganos. Pois é interessante ser exigente com os outros.
Ninguém vai ser vegano se, para entrar nesse timinho de gente perfeita, tiver que passar no teste dos arrogantes. E os animais, como sempre, ficam lá, em último plano. É evidente que o veganismo dialoga com outras causas, filosofias e teorias, eu mesmo defendo isso em outros artigos com unhas e dentes, inclusive batendo de frente com pessoas reacionárias aqui mesmo, dentro desta causa.
Mas isso não significa enfiar dentro do veganismo um monte de pressupostos, regras e ranços de outros grupos, turvando o movimento e trazendo prejuízos aos animais.
Eu já era feminista e lia sobre direitos humanos antes de ser vegana, mas já tem bastante causas lutando por isso, considero que as pessoas devem se juntar a outros grupos, assim como eu participo com outras ONGs e ajudo as pessoas fora do veganismo. Misturar e colocar no veganismo o peso de outras causas é só para prejudicar o movimento e estragar o modo como as pessoas veem os veganos e os animais, um modo antropocentrico, como sempre. Os animais ficam em último plano, desfocados em meio a lutas humanas. Atrasa o ativismo e as atitudes que temos que tomar. Se tem tanta gente (e tem sim) lutando pelos humanos, por que enfiar tudo isso dentro de uma causa que se mata para lutar contra todos os humanos que fodem com os animais?
Por que em vez de sermos criteriosos onde realmente interessa, que é no cuidado com os ingredientes de origem animal e no não uso que fazemos dos animais, temos que ser esse tipo de vegano obediente da sociedade, escravizado ainda dos padrões sociais, dessa moral em que tudo é feio só por que não está nos quadrados do politicamente correto, mas que no fundo no fundo nada tem a ver com os animais, mais tem a ver com uma moral antropocêntrica, um medo da morte, uma preocupação mesquinha com a sua própria saúde, um medo da morte, ou da velhice e lá no fundo, um ódio ao outro, disfarçado de “amor” pois é sempre jogado aos quatro ventos de uma forma particularmente insistente. Não caia nisso, desobedeça e encontre um amor mais genuíno, quando quiser, sempre que quiser e, se quiser.