Ainda em percurso, a investigação sobre o caso das búfalas abandonadas na Fazenda Água Sumida em Brotas, no interior de São Paulo, levantou a suspeita de que o proprietário das terras, na tentativa de esconder provas de maus-tratos, enterrou alguns animais ainda vivos, em valas no terreno.
A equipe de reportagem do Fantástico divulgou nesse domingo (28) a declaração de um funcionário para aos investigadores. “De uns três meses para cá, búfalos passaram a morrer por falta de comida e água. Mais de 100 animais foram enterrados”, revelou o homem.
Luiz Augusto Pinheiro de Souza, o pecuarista responsável pela crítica situação das búfalas, se mostrou indiferente diante da lenta e dolorosa morte dos animais e atribuiu os acontecimentos a causas naturais, como a seca e a falta de chuvas, que assolam o estado de São Paulo. “Que morrer de fome e sede! A Fazenda existe há anos, nunca faltou água nem comida nessa fazenda gigante”, disse o fazendeiro, “Todo o gado do estado está com escore corporal baixo, não chove há oito meses. Quando morrer, morreu”, desdenha ele sobre os animais.
Uma avaliação realizada pelo grupo de veterinários responsáveis pelo caso, apurou que o escore de condição corporal dos animais estava entre 1 e 2, o que representa um índice de desnutrição severa. Presas em um curral e amontoadas, as búfalas, que estão a maioria grávidas, tentavam comer cascas de árvores secas, na esperança de obter algum nutriente.
Não se sabe ainda por quanto tempo os animais permaneceram nessa situação degradante, mas estimativas levantadas pela investigação, aponta que os animais ficaram sem água e sem comida por 20 dias.
O local não tem autorização para atuar como produtor de leite, porém foram encontradas evidências desse tipo de exploração na fazenda. Se os indícios forem constatados, o pecuarista Luiz Augusto, será autuado por crime contra a saúde pública, aumentando sua dívida para cerca de R$5 milhões.
Intimidação
Foram trazidos a público áudios de mensagens trocadas entre o fazendeiro e o prefeito da cidade, Leandro Correa, do DEM. “Oi Leandro, boa tarde, tudo bem? É o Luiz Augusto. Você pode ter ódio de mim, e eu tenho motivo para ter ódio de você. Mas tem um segundo bem em jogo: a imagem de Brotas. Vai sair domingo no Fantástico. Você, como prefeito, pode tirar essa ONG daqui rapidinho. Tá destruindo a cidade”, disse o infrator em uma tentativa de intimidação das autoridades, para que as ONGs fossem retiradas da sua propriedade.
Início
A Polícia Ambiental recebeu uma denúncia da ONG Amor e Respeito Animal (ARA) no dia 6 de novembro. Chegando na Fazenda São Luíz da Água Sumida, foram encontrados muitos búfalos e bezerros deitados em um curral com desnutrição severa e carcaças de animais mortos. “Um cenário de guerra, daquelas pós-batalha, em que ficam soldados caídos, alguns mortos, outros feridos. Foi isso que nós encontramos, um cenário desse jeito”, recorda o delegado responsável pelo caso, Douglas Brandão.
Com divulgação nas redes sociais e mobilizações civis pela vida desses animais, foi possível reunir médicos veterinários, ativistas, advogados animalistas, e quem mais pudesse ajudar de alguma forma.
Porém, após a decisão da juíza Marcela Machado Martiniano, de restringir o acesso dos voluntários a Fazenda, permitindo que apenas entrasse de 10 em 10 pessoas, dificultou muito a realização do trabalho dos profissionais, para que cada animal seja atendido na sua individualidade.
Foram presos, além do pecuarista, o administrador da fazenda e um ex-policial, que realizava as rondas no local. Todos foram soltos no mesmo dia da apreensão sob pagamento de fiança, no valor de R$10 mil cada. Eles irão responder os processos em liberdade.