A matança de mais de 30 gatos em Capim Macio, bairro de Natal, está em investigação pela Delegacia Especializada em Proteção ao Meio Ambiente (DEPREMA). A suspeita é de envenenamento em massa, que teria ocorrido entre junho e julho de 2024, período em que a universidade próxima estava em recesso.
Conforme relatado por moradores, uma colônia de aproximadamente 60 gatos habitava o local, distribuída entre as ruas Orlando Silva, Estudante José Francisco de Souza Filho e Dr. José Xavier da Cunha. Desses, ao menos 30 desapareceram ou foram encontrados mortos, evidenciando possíveis sinais de envenenamento. Os primeiros sinais surgiram com o desaparecimento repentino dos animais e, logo em seguida, com a descoberta de corpos rígidos pelas ruas.
Uma moradora, que preferiu não se identificar, compartilhou o choque com a situação: “Eu alimentava e castrava esses gatos. De repente, eles começaram a sumir, até que vi alguns convulsionando e agonizando nas calçadas.” Além dos corpos, o forte odor de decomposição próximo à universidade e à loja Ferreira Costa levou à suspeita de que alguns dos cadáveres estivessem sendo removidos, dificultando a coleta de evidências.
Julimar Gonçalves, protetora animal e ex-coordenadora de um projeto de convivência com a colônia de gatos, também percebeu o desaparecimento gradual dos animais. “Achei que estavam se escondendo por causa das chuvas, mas depois comecei a encontrar filhotes mortos em condições suspeitas”, relatou. Julimar acredita que sua demissão da universidade onde trabalhava pode estar ligada à exposição dos casos de envenenamento. “A instituição aprovou o projeto de convivência com esses animais no início do ano, mas houve silêncio total sobre as mortes ocorrendo ali. Fui afastada e enfrento agora o impacto financeiro e emocional de perder esses animais e o trabalho”, desabafou.
Para Julimar, a falta de políticas públicas de proteção animal, como controle de reprodução e campanhas educativas, agrava tragédias como essa. “Enquanto não houver políticas sérias para castração, educação ambiental e punição exemplar, essas tragédias vão continuar”, lamentou, apontando também a falta de ação da Coordenadoria de Proteção Animal do município.
A comunidade também se mobiliza. Com faixas de protesto (embora removidas rapidamente) e campanhas de castração voluntária, moradores buscam evitar novos casos e preservar os gatos restantes. “Reconhecemos que a superpopulação de gatos pode gerar incômodos, mas o envenenamento nunca será solução”, pontuou um dos organizadores da campanha.
A DEPREMA segue ouvindo testemunhas e recolhendo provas, incluindo vídeos, fotos, boletins de ocorrência e pedaços de sardinha que podem ter sido usados como isca envenenada. Em entrevista, a delegada Daniele Filgueira informou que a Polícia Civil está conduzindo autópsias para identificar a substância responsável pelas mortes. O crime de maus-tratos agravado por envenenamento pode resultar em até cinco anos de prisão.
Enquanto a investigação prossegue, a comunidade de Capim Macio clama por respostas e justiça para os animais brutalmente mortos.