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INTOXICAÇÃO

Polícia investiga morte de cães em abrigo; suspeita da causa é ração contaminada

Exames laboratoriais apontaram fungo em grãos usados no alimento. Ainda não está claro se problema se deu na fabricação ou no armazenamento do produto

30 de agosto de 2022
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Flora, uma das cadelas que morreu no abrigo para animais em Viamão. Foto: Sandra Mara Kischeloski / Arquivo Pessoal

A misteriosa morte de 10 cães em um abrigo para animais em Viamão (RS), em menos de um mês, virou caso de polícia. Exames apontam como provável causa das mortes a ingestão de ração mofada. No intuito de dar explicações aos tutores dos cães, que são tutelados mas moram no abrigo, o proprietário do local encaminhou a comida seca dada aos animais para exames de laboratório e o resultado das análises aponta provável contaminação por aflatoxina, um tipo de toxina gerada por fungo em alimentos velhos ou mal acondicionados. As necrópsias dos cachorros também apontaram o mesmo problema como possível causa da morte.

O abrigo de Viamão, num sítio, é especializado em cuidar de cães que foram adotados, em situação de rua. Os protetores resgatam os animais, os entregam ao abrigo e contribuem financeiramente com os cuidados deles. Eram mais de 40 cachorros, antes das 10 mortes. O dono do local recebe uma ajuda para cuidar dos animais.

O dono do abrigo de cães, Marcelo Artigas, registrou queixa na Polícia Civil na sexta-feira (26/08) e pretende exigir ressarcimento da indústria de rações, além de interdição dos lotes de comida suspeitos. Ele assegura que a loja onde compra o alimento armazena o material em boas condições e acredita que a contaminação se deu no processo de fabricação da ração. Ainda não está definida qual delegacia vai investigar o episódio.

Camomila, outra cadela morta no abrigo para animais da Região Metropolitana
Foto: Sandra Mara Kischeloski / Arquivo Pessoal

— É possível que tenham usado farinha armazenada há muito tempo, restos mofados, para compor a ração. Pedi à polícia exames no material produzido pela fábrica — pondera Artigas.

Ele relata que todos os cães estavam bem e, subitamente, começaram a ficar apáticos, apresentar fezes com sangue e olhos amarelados. Morreram em horas, apesar dos esforços dos veterinários chamados às pressas. Outros cães adoeceram e estão em tratamento

Um veterinário que atendeu alguns dos animais conversou com a reportagem, sob anonimato. Ele suspeita que grãos armazenados durante muito tempo possam ter espalhado mofo na ração.

— Em poucos dias, vários animais demonstraram o mesmo sintoma. Pelo exame clínico (aparência), desconfiamos de contaminação da ração. Os exames laboratoriais feitos após as mortes confirmaram outras manifestações compatíveis com envenenamento por fungo. Uma tristeza — lamenta o veterinário.

A reportagem teve acesso a duas necropsias de animais diferentes, feitas por dois laboratórios, um público e outro particular. Os tutores dos cães pediram para que os nomes deles fossem omitidos. Os exames post-mortem de um dos animais foram feitos pelo Axys Análises, um estabelecimento privado.

O outro teste, em outro cão, foi feito pelo setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele também apresentou olhos e pele amarelados, sangue nas fezes e falta de apetite. Morreu em dois dias. Os patologistas localizaram também três úlceras estomacais, que provavelmente causaram hemorragia. O diagnóstico foi de úlcera gástrica perfurada e insuficiência hepática crônica, provavelmente causadas por aflatoxina. A aflatoxina é uma toxina produzida por um mofo que aparece em grãos colhidos e armazenados em locais úmidos.

O caso de Viamão foi revelado ao portal GZH pela protetora de animais Regina Becker Fortunati, ex-deputada, para quem chegaram as queixas dos tutores dos cãezinhos.

Os responsáveis pelos cães estão inconsoláveis. A funcionária pública aposentada Sandra Mara Kischeloski perdeu três animais intoxicados, que estavam no abrigo: Camomila, Flora e Quindim.

— Estou muito abalada, choro ao ver as fotos deles. Recolhi do abandono, tratei, encaminhei para o abrigo e acontece isso…Desconfiamos de leptospirose, jamais da ração, mas era a comida mofada.

A veterinária Andréa Lumertz Saffi perdeu quatro cães no abrigo, que tinham sido adotados por ela e pela irmã, Kelly. Encaminhou para o abrigo porque ela já não tinha espaço em sua clínica. Ela dava contribuição financeira para que os cachorros fossem cuidados.

— Está comprovado que é a ração. Agora tem de saber se o mofo aconteceu no armazenamento ou na fabricação — comenta Andréa.

O dono do abrigo de cães encaminhou a ração dada aos que morreram, ao Laboratório de Análises Micotoxicológicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os testes apontaram presença de aflatoxina em duas amostras, de uma ração comum e uma premium, conforme análise de veterinários.

Como age a aflaxotina

A reportagem ouviu veterinários a respeito da aflatoxina. Essa substância é originada por fungo, normalmente o Aspergillus flavus, que pode crescer no milho e outros grãos usados como ingredientes na ração para animais domésticos. Em níveis elevados, a aflatoxina pode causar doença e morte em animais. As toxinas podem se acumular no organismo do animal, na medida em que eles continuam a ingerir a mesma comida.

Os sintomas de envenenamento por aflatoxina nos animais incluem lentidão, perda de apetite, vômitos, tonalidade amarelada dos olhos, gengivas ou pele devido a danos no fígado e ou diarreia. Todos estes sinais apareceram nos animais mortos em Viamão.

Os animais domésticos são altamente suscetíveis ao envenenamento por aflatoxina porque, ao contrário das pessoas, que comem uma dieta variada, eles geralmente ingerem a mesma comida por longos períodos de tempo.

 

Fonte: GZH

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