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MAUS-TRATOS

Polícia investiga denúncia de matança de cães por eletrocussão em CCZ de Barras (PI)

O delegado responsável pelo caso afirmou que o veterinário do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Barras "chegou a confirmar que eles [os animais] são mortos eletrocutados depois de serem sedados". O sacrifício de animais por meio de eletrocussão configura crime de maus-tratos

26 de julho de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Local destinado a receber animais para sacrifício em Barras (Foto: Reprodução)

A Polícia Civil investiga uma denúncia de que cachorros estão sendo mortos por meio de choques elétricos no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Barras, no Piauí. A prefeitura do município nega as acusações.

Por meio de nota, a administração municipal afirmou que o CCZ “obedece a um protocolo legal recomendado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, que tem por objetivo evitar que cães que precisam ser sacrificados passem por sofrimentos”. Disse ainda que o procedimento é feito com o animal previamente anestesiado “através da utilização do pré-anestésico Acepran. Depois com o anestésico Ketamina, composição esta que impossibilita o animal a sentir qualquer dor mínima, como também impede que passe por sofrimento”.

Em entrevista concedida ao portal Barras É Notícia, o médico veterinário do CCZ, Elivelto Luís, afirmou que no passado podem ter ocorrido casos de animais mortos sem sedação, mas que eles passaram a ser sedados na atual gestão, do prefeito Capote (PSD).

“O animal não pode sofrer, não pode sentir dor e com a gente não faz isso”, afirmou o veterinário ao se referir à denúncia. “São sedados sim, antes não era, mas quando começamos essa administração agora, foi uma das coisas que mudamos de início, a gente só faz eutanásia após a sedação dos animais”, completou.

Ao ser questionado sobre documentos que pudessem comprovar suas alegações, Elivelto respondeu que “a ação de sedação é um protocolo dentro do CCZ”  e que quando é realizada “não precisa fazer um documento porque isso é rotina na medida da necessidade de se fazer essa atividade”. O profissional, porém, teve seus argumentos rebatidos por um morador da cidade que não teve a identidade revelada ao conceder entrevista ao portal local. O homem afirmou que ouve os cachorros gemerem de dor e disse que as afirmações do veterinário são falsas.

De acordo com o delegado Ayslan Magalhães, responsável pelo caso, há indícios de que os animais são mortos eletrocutados. “A prefeitura nega, mas o veterinário chegou a confirmar que eles são mortos eletrocutados depois de serem sedados. Nós vamos investigar tanto a conduta deste profissional quanto a situação do Centro de Zoonoses”, informou o delegado ao G1. O veterinário também concedeu entrevista ao portal da Globo e afirmou que se a eletrocussão de animais acontecia “era antes”. “Agora, o procedimento é todo regulamentado. Não há sacrifício de animais eletrocutados. Nós seguimos protocolos e usamos a medicação recomendada”, disse. O profissional afirmou ainda que apenas animais que tiveram dois testes positivos para leishmaniose são sacrificados.

O caso gerou revolta após fotos circularem nas redes sociais. Em uma delas, é possível ver a parede externa de um imóvel com os dizeres “sacrifício de animais”. A prefeitura, no entanto, afirma que as imagens divulgadas são antigas e não condizem com a realidade atual do CCZ.

Com as diligências em andamento, uma equipe de investigadores da Polícia Civil já cumpriu mandado de busca e apreensão no Centro de Controle de Zoonoses e informou que, caso as denúncias sejam comprovadas, os autores dos crimes serão punidos.

‘O choque elétrico já foi abolido, é maus-tratos aos animais’

Médico veterinário e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do Piauí, Anísio Ferreira informou ao G1 que sacrificar animais por meio de choque elétrico configura crime de maus-tratos.

“O manual de eutanásia recomenda as drogas para o processo. O choque elétrico já foi abolido, é maus-tratos aos animais. Nós fiscalizamos isso e há muitos colegas que denunciam, porque muitas prefeituras, não todas, ainda adotam essas práticas, o que não deixa de ser um crime de maus-tratos. Hoje, os medicamentos utilizados são o cloreto de potássio e a ketamina, recomendados pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária”, disse.

Como o cloreto de potássio gera dor extrema ao animal ao fazer seu coração parar de bater, o CFMV exige que o medicamento seja utilizado somente após a sedação por meio da ketamina. Apesar disso, ainda existem casos de animais mortos através da eletrocussão por se tratar de um procedimento mais barato e rápido do que a medicação, embora cruel e criminoso.

Não mate, trate: o direito à vida dos animais com leishmaniose

O Ministério da Saúde e a Vigilância Sanitária indicam o sacrifício de animais com leishmaniose por se tratar de uma zoonose – isso é, doença transmitida para humanos – com tratamento de alto custo. E embora seja exigido que o procedimento de morte induzida siga um protocolo para impedir que o animal sofra, ativistas reforçam a necessidade de respeitar o direito à vida dos animais, possibilitando o tratamento ao invés de matá-los.

Se tratados, os animais param de transmitir a doença e de sofrer os efeitos negativos da leishmaniose sobre a própria saúde. Para o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do Piauí, Anísio Ferreira, o sacrifício de animais com a doença não resolve o problema, já que não é eficiente no controle à leishmaniose, que, segundo ele, só pode ser controlada através da “garantia de saúde da sociedade”.

“Para o cuidado com a saúde humana, devemos nos preocupar com saúde ambiental e animal. É um tripé. Muitos aspectos levam à proliferação do mosquito vetor [da leishmaniose]. Com coleta de lixo frágil, sem esgotamento sanitário, isso se agrava. Não adianta continuar sacrificando animais. Ações pontuais só geram resultados pontuais, não sólidos”, alertou ao G1 o médico veterinário.

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