Desde novembro, autoridades do Reino Unido apreenderam mais de 6.000 ovos em áreas da Escócia, South Yorkshire, Essex, País de Gales e Gloucester, no que foi caracterizado como a maior apreensão do tipo na história do país. Os ovos foram encontrados escondidos em sótãos, escritórios e gavetas, e possuem relação com o contrabando de vida selvagem, que impacta na vida de várias espécies.
Conforme repercute o The Guardian, as batidas de ovos de pássaros selvagens começaram no Reino Unido em novembro, como parte da Operação Pulka. Esta, por sua vez, é um esforço internacional na tentativa de combater o crime organizado contra a vida selvagem, com foco na captura, posse e comércio de ovos de pássaros selvagens.
Estas batidas começaram ainda em junho de 2023, na Noruega, e levaram à apreensão de cerca de 50 mil ovos até agora, além de 16 prisões. Anteriormente, já foram apreendidos cerca de 3.500 ovos na Austrália. Segundo a inteligência do Reino Unido, esta rede criminosa internacional descoberta recentemente é a maior do gênero no Reino Unido em termos de número de ovos e em escala.
Esses criminosos são muito bem organizados e conectados. Quanto mais rara uma espécie é, maior sua demanda e valor para esses criminosos. É provável que alguns dos ovos sejam muito raros”, informou em comunicado o inspetor detetive Mark Harrison, da NWCU.
“A escala desta operação é alarmante”, acrescenta Dominic Meeks, da Universidade de Cambridge, ao The Guardian. “Apreensões anteriores foram o produto de indivíduos obsessivos singulares, mas a complexidade desta operação parece ser muito maior, com vários atores operando em diferentes países. Quanto maior a escala da operação, maior o potencial de impactos negativos nas populações selvagens das espécies-alvo”.
Problema antigo
Ainda segundo o Guardian, a coleta de ovos de animais selvagens era, durante a era vitoriana, um hobby para historiadores naturais, que buscavam adquirir ovos do maior número de espécies possível, em especial as raras. No entanto, isso gerou impactos negativos na biodiversidade global, levando à extinção, por exemplo, do grande auk, um pinguim que habitou o polo norte, que teve seu último pássaro morto na década de 1840.
Foi em 1954 que a maioria das coletas de ovos selvagens se tornou oficialmente em um ato criminoso no Reino Unido. Porém, muitos destes coletores continuaram com o hobby, sendo assim, levados à clandestinidade.
“O roubo de ovos representa uma pressão altamente seletiva, com ladrões frequentemente mirando um punhado de espécies dentro de uma área geográfica restrita”, explica Meeks ao veículo britânico. “Para espécies como o noitibó e a águia-pesqueira, que têm populações regionais precárias em todo o Reino Unido, a emplumação bem-sucedida de uma coorte de filhotes de um único ninho pode ser a diferença entre a existência regional ou a extinção”.
“A captura, posse e comércio de ovos de pássaros selvagens é ilegal e, no geral, acredita-se que esses crimes sejam menos comuns do que eram. No entanto, claramente isso ainda acontece e, como o número geral de pássaros está diminuindo, pode-se argumentar que esse crime tem um impacto ainda maior agora do que anos atrás”, acrescenta Harrison.
Vale recordar ainda que, no começo deste ano, um relatório da ONU apontou que o tráfico de vida selvagem vinha se tornando responsável por muitos “danos incalculáveis à natureza”, tornando alvos mais de 4.000 espécies ao redor do mundo, não só de pássaros mas também de orquídeas raras, plantas suculentas, répteis e peixes. Esse comércio é ativo em mais de 80% dos países, e pode ser responsável pelo fluxo de até US$ 23 bilhões (mais de R$ 142 bilhões, na cotação atual) por ano.
“O comércio de ovos de aves selvagens tem uma dimensão histórica e tem sido uma prática generalizada no passado, muitas vezes impulsionada pelo objetivo de criar coleções extensas”, acrescenta ao Guardian o Dr. Diogo Veríssimo da Universidade de Oxford.
“O crime contra a vida selvagem contribui para a perda de biodiversidade, colocando pressão adicional sobre espécies já vulneráveis devido a fatores como perda de habitat e mudanças climáticas. Além de seus impactos ambientais, o crime contra a vida selvagem é frequentemente conectado a atividades criminosas mais amplas, incluindo tráfico, corrupção e crimes financeiros”, conclui.
Agora, nos próximos meses, especialistas britânicos devem contar os ovos apreendidos recentemente, a fim de identificar a quais espécies eles pertencem e, eventualmente, quanto vale a coleta inteira.
Fonte: Aventuras na História