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CRIME ORGANIZADO

Polícia Civil do Rio de Janeiro realiza maior operação de combate ao tráfico de animais silvestres do país

Mais de mil policiais estão nas ruas para cumprir 40 mandados de prisão e 270 de busca e apreensão

16 de setembro de 2025
Roberta de Souza e Márcia Foletto
7 min. de leitura
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Tucano apreendido durante a operação. Foto: Marcia Foletto

Mais de mil policiais civis do Rio realizam, nesta terça-feira (16/09), a Operação São Francisco, classificada pela corporação como a maior ação da história do país no combate ao tráfico de animais silvestres. Coordenada pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), a ofensiva é fruto de um ano de investigações que revelaram a maior organização do Estado do Rio especializada nesse crime e suas conexões interestaduais. Entre os alvos, segundo o colunista Lauro Jardim, está o deputado estadual TH Joias, preso há duas semanas, acusado de manter relações diretas com traficantes de fauna: segundo a Polícia Civil, em pelo menos quatro ocasiões ele negociou e adquiriu primatas brasileiros, além de ter apresentado novos compradores ao esquema.

Ao todo, as equipes cumprem mais de 40 mandados de prisão e 270 de busca e apreensão na capital, Região Metropolitana, Baixada Fluminense, Região Serrana, Região dos Lagos e também em São Paulo e Minas Gerais. Quarenta e cinco pessoas foram presas e mais de 700 animais, resgatados.

Segundo revelou o colunista Lauro Jardim, as investigações apontam que TH Joias esteve diretamente envolvido no esquema: em pelo menos quatro ocasiões, ele teria negociado e comprado macacos. Os animais teriam sido dado de presente para traficantes, aponta a investigação. Em áudios obtidos pela Polícia Civil, um dos traficantes chega a exaltar a proximidade com o deputado, dizendo que o parlamentar não só adquiria os animais como também o ajudava a encontrar novos compradores.

A operação tem o apoio de delegacias dos Departamentos-Gerais de Polícia Especializada (DGPE), da Capital (DGPC), da Baixada (DGPB) e do Interior (DGPI), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte), além da Secretaria estadual do Ambiente e Sustentabilidade (Seas) e do Ministério Público. Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ibama colaboraram com as investigações.

Ao todo, 145 suspeitos foram identificados. O grupo, de acordo com a polícia, explora há décadas o tráfico de animais silvestres no estado, sendo o principal responsável por fornecer espécimes vendidos em feiras clandestinas. Um dos núcleos da organização criminosa é composto pelos caçadores, responsáveis pela caça em larga escala de animais silvestres em seus habitats naturais. Após serem sequestrados da natureza, os animais eram transportados por integrantes do chamado núcleo de atravessadores: eles tinham a função de entregar os espécimes nos centros urbanos para a comercialização.

Havia ainda um núcleo especializado em primatas, que caçava, dopava e vendia macacos para outros integrantes do grupo. Muitos dos animais eram retirados das matas fluminenses, como o Parque Nacional da Tijuca e o Horto.

Outro núcleo identificado é o dos falsificadores, que vendia anilhas, selos públicos, chips e documentos falsos para mascarar a origem ilícita dos animais. O grupo também tinha um núcleo de armas, responsável pelo fornecimento de armamento e munição para a organização. Os investigadores também identificaram diversos consumidores finais, que adquiriram animais silvestres de forma ilegal, alimentando a cadeia criminosa.

Os animais eram oferecidos e negociados em grupos de redes sociais. Numa das conversas flagradas pela polícia, um macaco mão-de-ouro (Saimiri sciureus), também conhecido como macaco-de-cheiro, é oferecido por R$ 3.500. “Macaco mão de ouro, raridade no Rio”, diz a mensagem, frisando que o preço do animal é “pra sair hoje”.

Foto: Reprodução

Em outra postagem, um filhote de macaco-prego (Sapajus apella) é oferecido por R$ 4.500, com retirada do animal nos complexos do Alemão ou da Penha.

Foto: Reprodução

Relações próximas com facções

O inquérito aponta ainda que os traficantes de animais se utilizam de relações próximas com facções criminosas, garantindo a venda em feiras clandestinas realizadas em áreas exploradas pelo tráfico de drogas.

— A organização criminosa que foi alvo hoje não trabalhava só com tráfico de animais, atuava também no tráfico de armas e munições com aliados do Comando Vermelho. Era um esquema complexo que movimentava milhões de reais — disse o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.

O delegado André Prates Fraga, da DPMA, destacou que a quadrilha tinha atuação interestadual e uma estrutura complexa, com transportadores, falsificadores de documentos e fornecedores de armas e munições, abastecendo feiras clandestinas de várias regiões do país.

— É importante que a população tenha consciência de jamais comprar qualquer animal silvestre em feiras, porque é isso que alimenta toda a cadeia criminosa: o tráfico de animais, os maus-tratos e muita crueldade. A grande maioria desses animais morre no trajeto — afirmou Fraga.

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