O novo hospital veterinário gratuito já pode entrar em funcionamento em julho deste ano em São Paulo se depender de Denis Prata, vice-presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa). É a essa entidade que o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), entregou a tarefa de colocar o novo complexo de pé.
“Temos edifícios na zona norte já avaliados, todos no bairro de Santana. Eles já estão pré-desenhados para uma possível unidade de atendimento especializada em cães e gatos. Podemos iniciar o atendimento em um mês”, afirma Prata. “Mas quem vai decidir sobre isso é a prefeitura, que planeja entregá-la até o final do ano.”
O hospital em Santana será o segundo a sair do papel no Brasil. O primeiro, no Tatuapé, na zona leste, é bem avaliado pela população , mas, segundo especialistas, a expansão do serviço abre uma nova discussão: o poder público deve se responsabilizar pela saúde de animais de estimação?
Para Prata e para os usuários do serviço ouvidos pelo iG , cães e gatos já são tratados em casa como membros da família, o que justifica a atenção da prefeitura, que investe R$ 600 mil por mês na unidade do Tatuapé.
“Minha filha foi atropelada. Parece que ela quebrou a bacia”, explica Thais Prado (28) sobre a cadela Blanca. Ao pé da maca, ela aguardava um exame de raio-x enquanto denuncia “o déficit nessa área” por parte dos governos. “A Blanca vive comigo há dez anos. É parte da minha família. Como eu pago impostos, o governo deve se responsabilizar pelo tratamento dela.”
O sociólogo José Carlos Rassier, diretor do Instituto de Educação e de Gestão Pública, acredita que “o homem não está sozinho” e que “toda diversidade da vida deve ser protegida”, mas que o investimento em hospital veterinário não pode tirar o foco de uma das maiores necessidade brasileiras: a oferta de saúde de qualidade para os seres humanos. “O Sistema Único de Saúde [SUS] ainda não atende a população com o padrão de qualidade exigido pela Constituição“, diz ele. “Se é possível fazer um centro de excelência para animais, por que isso ainda não ocorre para as pessoas?”
Para a cientista política da Universidade Estadual de São Carlos (UFSCar), Maria do Socorro, Haddad sabe que a iniciativa pioneira terá “retorno eleitoral garantido”. “Quando ficar demonstrada a eficácia do serviço, a medida atrairá apoios políticos para o prefeito.” A professora considera a comparação com o SUS inevitável, mas o prefeito terá sucesso se o hospital acabar protegendo a saúde humana ao cuidar dos animais abandonados. “Tem animal de rua que transmite doenças e causa mais gasto ao poder público.”
Para Rosângela Ribeiro, gerente da WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de Proteção Animal), “esse hospital foi uma grande conquista de proteção animal e ajuda a população carente que não tem acesso”. Mas ela alerta para necessidades ainda mais urgentes: “A prefeitura não deve descuidar dos programas de saúde preventiva e controle populacional dos bichos.”
Rosângela acredita a população ainda precisa aprender sobre a necessidade de esterilizar seu animal, vaciná-lo anualmente, passear com ele e recolher suas fezes. “Alguns municípios, como Manaus, querem implantar hospitais públicos, mas falta a eles esse histórico de prevenção.”
Como a medida tem grande alcance popular, a cientista política não teme que os sucessores do atual prefeito abandonem a ideia. “É como o Bolsa Família: como ele é muito popular, ninguém vai extingui-lo.”
Fonte: Folha de S.Paulo