Na segunda-feira (15/09), um conjunto de ipês-rosas foi podado em frente ao Instituto de Previdência do Estado, em Porto Alegre (RS). A intervenção, realizada por equipes da CEEE Equatorial com autorização de órgãos ambientais, ocorreu justamente no período de floração da espécie, um dos momentos mais simbólicos da primavera na Capital. A decisão não só desagradou moradores e ambientalistas, como tem impacto direto sobre a fauna que depende dessas árvores para sobreviver.
Diversos galhos foram cortados, muitos deles ainda repletos de flores, comprometendo o abrigo e a alimentação de aves, insetos polinizadores e outros animais que encontram nos ipês um refúgio em meio ao concreto da cidade. Especialistas lembram que a poda em plena floração interrompe o ciclo natural das árvores e prejudica espécies que utilizam flores e sementes como fonte de alimento.
A repercussão do caso ganhou força após a divulgação de um vídeo publicado pelo vereador Jonas Reis (PT), que registrou a poda em andamento. As imagens, inicialmente compartilhadas pelo ativista Fernando Berthold na plataforma X (antigo Twitter), geraram indignação nas redes sociais.
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Em resposta às críticas, a equipe do prefeito Sebastião Melo afirmou que a poda foi executada pela concessionária de energia, com base em uma licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) válida até 2027, isentando a prefeitura de responsabilidade direta.
Contudo, em abril de 2024, a própria administração municipal havia firmado um acordo com a CEEE Equatorial e com o Governo do Estado para organizar um cronograma de podas. Na ocasião, foram definidos 15 bairros prioritários, incluindo áreas de hospitais, estações de tratamento e até unidades prisionais.
Pelo plano, quando as árvores não estivessem em contato direto com a rede elétrica, caberia à prefeitura avaliar e executar eventuais intervenções. A prática segue protocolos burocráticos, mas ignora os efeitos sobre a biodiversidade urbana.
Em nota, a CEEE Equatorial alegou que o manejo vegetal é “essencial para reduzir riscos à rede elétrica e garantir o fornecimento de energia”, ressaltando que as equipes são treinadas para seguir normas técnicas. Mas até que ponto a preservação da paisagem natural e da fauna pode ser sacrificada em nome de medidas preventivas que poderiam ser planejadas de forma menos agressiva?
Enquanto a cidade perde parte da beleza dos ipês em plena primavera, aves e polinizadores também perdem alimento e abrigo. O caso mostra a falta de sensibilidade ambiental de uma gestão que, embora amparada em licenças, parece ignorar que árvores não são apenas obstáculos à rede elétrica, mas elementos vitais para a vida em Porto Alegre.