“Chamas selvagens e ferozes outros carnívoros, os tigres, os leões e as serpentes, enquanto manchas no sangue as tuas mãos, e em espécie alguma de barbárie lhes ficas inferior.
E para eles, todavia, o assassinato é apenas o meio de se sustentarem; para ti, é uma lascívia supérflua. Aos inocentes, aos mansos, aos que não têm auxílio nem defesa — a esses perseguimos e matamos.
Só para ter um pedaço da sua carne, os privamos da luz do sol, da vida para que nasceram. Tomamos por inarticulados e inexpressivos os gritos de queixume que eles soltam e voam em todas as direções, quando na realidade são instâncias e súplicas e rogos que cada um deles nos dirige dizendo:
— Não é da verdadeira satisfação das vossas reais necessidades que queremos livrar-nos, mas da complacente luxúria dos vossos apetites.”
Excerto de “Do Consumo de Carne – Discurso Primeiro”, de Plutarco, escrito no final do século I.
Plutarco, que mais tarde adotou cidadania romana, foi um biógrafo e ensaísta grego, conhecido por obras antológicas como “Moralia” e “Vidas Paralelas”. Como filósofo, se inspirava principalmente em Platão. Seus trabalhos se voltam mais para a discussão de questões religiosas e morais. Esta segunda o levou a tornar-se um defensor do vegetarianismo. A Plutarco é atribuído o entendimento moderno do que foi a Grécia Antiga.