O avanço da Petrobras sobre a bacia da Foz do Amazonas voltou a expor o custo ambiental que pode recair sobre animais e ecossistemas. Em simulação realizada no fim de agosto, o Ibama concluiu que a estatal não foi capaz de executar de forma satisfatória o próprio plano de resgate de fauna em caso de acidente com derramamento de petróleo.
O parecer técnico da Avaliação Pré-Operacional (APO) do Ibama diz o plano da Petrobras é incapaz de garantir o atendimento adequado aos animais que seriam contaminados em um desastre. A sentença do relatório é clara, a falência do plano “poderá resultar em perda maciça de biodiversidade, levando estes animais à morte”.
O exercício simulou um ataque hacker que provocou a desconexão emergencial da sonda e consequente vazamento de óleo. Durante a resposta, a equipe avaliadora identificou falhas graves, como a dificuldade em cumprir o prazo máximo de 24 horas para levar animais atingidos a centros de tratamento, operações noturnas inseguras no rio Oiapoque e falta de equipamentos básicos, como gelo e bolsas térmicas. Além disso, a Petrobras não priorizou o resgate de animais com maior chance de sobrevivência.
O documento mostra o risco de permitir que a estatal avance sobre uma das regiões mais sensíveis e biodiversas do planeta sem condições reais de proteger a fauna. É uma ameaça direta à vida marinha e aos ecossistemas costeiros, um retrocesso em qualquer perspectiva de responsabilidade socioambiental.
A fragilidade da estrutura de resgate já havia sido apontada pelo Ibama em etapas anteriores do licenciamento, chegando a motivar recomendação técnica pelo arquivamento do processo, decisão revertida pelo presidente do órgão, Rodrigo Agostinho. Mesmo diante das falhas, a APO foi aprovada, sob a condição de que a Petrobras apresente ajustes.
A perfuração na Foz do Amazonas é uma roleta-russa ecológica. O plano de emergência para a fauna, a última linha de defesa para incontáveis vidas, mostrou-se falho.
Seguir adiante com base em promessas de ajustes é uma aposta irresponsável com seres que não podem vocalizar seu próprio protesto. É a condenação prévia de uma biodiversidade única, tratada como moeda de troca em um projeto cujos riscos superam em muito seus supostos benefícios. Os animais merecem a garantia de que serão protegidos a qualquer custo.