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Em menos de oito meses, o planeta Terra já esgotou todos os recursos naturais disponíveis para o ano e entrou em déficit ecológico nesta quinta-feira (24).
Conhecido como Dia da Sobrecarga da Terra, trata-se de uma exploração da natureza, por parte da humanidade, 1,8 vez mais rápida e intensa do que ela consegue se regenerar. Isso acaba comprometendo os recursos naturais a longo prazo.
Esse é o ano no qual o planeta entrou no estágio de sobrecarga de forma mais precoce em todos os tempos, conforme a organização Global Ecological Footprint.
— O déficit ecológico é o fato de a gente estar destruindo a natureza mais do que ela tem capacidade de recuperação, ou seja, o que nós estamos desequilibrando do planeta, o planeta não tem tempo nem capacidade de recuperar — diz Francisco Milanez, biólogo e doutor em Educação em Ciências.
Dinâmica desigual entre os países
Os países mais ricos, industrializados e desenvolvidos costumam ter o dia da sobrecarga entre fevereiro e abril, segundo o g1. Nesse contexto, eles só conseguem seguir produzindo e consumindo ao explorar os recursos de países menos desenvolvidos.
Além disso, ao extrapolar o limite dos recursos naturais, as gerações futuras são colocadas em risco.
— Em geral, no Hemisfério Norte, onde se concentram os países chamados desenvolvidos, a demanda de energia e matéria é muitas vezes maior do que no chamado Sul Global — detalha o professor Paulo Brack, biólogo e professor do Instituto de Biociências da UFRGS.
O professor Brack ainda pontua que o Uruguai é um dos países com menor taxa de esgotamento de recursos:
— O Uruguai seria um países com menor taxa de esgotamento no mundo, atingindo somente em dezembro esta data, conforme o Global Footprint Network, responsável pelo estudo divulgado.
Para Francisco Milanez, a dinâmica desigual entre territórios faz com que países, como o Brasil, acabem prejudicados.
— Como o Brasil, nós consumimos muito menos energia por pessoa e, ao mesmo tempo, preservamos muito mais, então, é um desequilíbrio muito injusto. Na verdade, os (países) ricos teriam que corrigir a sua forma de viver ou, no mínimo, nos indenizar enormemente, investir muito em preservação aqui — pondera.
Dia da Sobrecarga da Terra
A organização Global Ecological Footprint — que calcula a sobrecarga da Terra — explica que o número é estimado dividindo a biocapacidade do planeta (a quantidade de recursos ecológicos que a Terra é capaz de regenerar naquele ano) pela “pegada ecológica da humanidade” (a demanda humana daquele ano) e multiplicando pelos dia do ano.
As métricas globais são calculadas utilizando estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU), conforme a organização.
O biólogo Paulo Brack explica que existem diferenças entre países e territórios no que se chama “pegada ecológica”, e no dia de se ultrapassar essa biocapacidade.
No entanto, se o mundo todo seguisse o padrão de consumo do Brasil, o dia que marcaria o déficit ecológico seria 1º de agosto.
— No Brasil, mesmo com diferenças regionais, este dia seria em 1° de agosto, pois pela existência de um território amplo de ecossistemas naturais ainda não totalmente explorados, no caso da Amazônia por exemplo, aumenta um pouquinho essa resiliência — explica o biólogo Paulo Brack.
Como reverter
O biólogo e doutor em Educação em Ciências, Francisco Milanez, reforça que o planeta Terra está chegando em limites drásticos. Ele cita alguns exemplos: “gases de efeito estufa”, “liberação de metano”, “descongelamento dos polos e dos glaciais”, “intoxicação e emissão de metais pesados”, “produtos artificiais como agrotóxicos na natureza”, e “plásticos nos oceanos e no solo”.
A Global Ecological Footprint listou algumas ações que podem a atrasar o cenário de sobrecarga. As soluções são divididas em cinco setores: planeta, cidades, energia, comida e população.
As mudanças relacionadas ao “planeta” se dividem em três categorias principais: conservação clássica, restauração e agricultura regenerativa e pesca sustentável.
No âmbito de “cidades“, alguns dos objetivos são “reduzir o impacto ambiental per capita adverso das cidades”, “garantir o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preços acessíveis” e aumentar a urbanização inclusiva e sustentável.
O carbono representa 60% da pegada ecológica da humanidade, segundo a organização. Nesse sentido, os objetivos relacionados à “energia” focam em eliminar gradualmente os combustíveis fósseis do planeta.
Metade da biocapacidade da terra é usada para nos alimentar, segundo a Global Ecological Footprint, no entanto, ainda 1,3 bilhão de toneladas por ano se perdem ou são desperdiçadas.
As metas para “comida” são reduzir o consumo global de carne em 50% e reduzir o desperdício de alimentos também pela metade.
A organização questiona se é “útil discutir população“. As Nações Unidas projetam que entre 7,3 e 15,6 bilhões de pessoas viverão na Terra até 2100 e à medida que a população aumenta, a pressão sobre o planeta também aumenta. Por isso, eles citam o investimento em famílias menores.
*Produção: Estfany Soares
Fonte: GZH