Carla Albuquerque Strafacci
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Sexta-feira, dia 9 de julho, fui assistir a um jogo de futebol de meu filho no “Estádio Municipal de Cotia” que, apesar do nome pomposo, é apenas um campo com uma pequena arquibancada, uma lanchonete modesta e estacionamento para um pequeno número de carros. O dono da lanchonete estava revoltado pois algumas crianças soltaram o cão do estádio que, ao fugir para a rua levou “umas pauladas” de três marmanjos. Fiquei chocada e logo em seguida vi alguém levando uma garrafinha de refrigerante com um líquido transparente para uma construção que, mal acabada, era fechada por um portão improvisado de madeira. Imaginei que fosse onde o cachorro estivesse abrigado.
Perguntei ao homem que levava o “remédio” se o cão judiado estava mesmo lá e ele confirmou, perguntou ainda se eu queria ver o pobre. Ao abrir o portão me disse que não tinha recursos para levar o “Sadam” ao veterinário e que estava tratando o animal da melhor forma que podia. A cena que vi foi chocante e me embrulhou o estômago: o cão da raça pit bull estava completamente deitado e prostrado, magro, desidratado, e com o olho esquerdo perfurado por pauladas! Meu olhos se encheram de lágrimas e pedi que me desse o número do veterinário imediatamente, liguei e pedi que viessem buscá-lo, tive medo de transportá-lo pois estava muito ferido.
Ao chegar na clínica “São Francisco de Assis” em Cotia (SP), Pedro (o atendente que transportou Sadam) logo iniciou a limpeza dos ferimentos, avisou o Dr. Robson que nos atendeu rapidamente e fez tudo o que precisava ser feito para estabilizar aquele cão cheio de dor. Pedi que fizesse todo o possível para tratá-lo e salvá-lo antes mesmo de me dar conta dos custos que envolveriam o tratamento e a internação. Após o atendimento chamei pelo Dr. Robson para ver se poderíamos salvá-lo e saber o valor de tudo isso, pois o tutor de Sadam não teria condições de pagar nem mesmo a consulta. Para ser sincera eu também não poderia arcar com esse custo, mas que chance teria o Sadam se algo não fosse feito? Dei três cheques e combinei com Dr. Robson de tentar conseguir algumas doações de ração para amenizar o custo e chegamos a um trato, se eu conseguir alguns sacos de boa ração ele.
Fiquei muito apreensiva e liguei no sábado para saber dele. Estava passando por uma transfusão de sangue de emergência pois estava muito anêmico. No domingo apresentou uma boa melhora e até comeu e bebeu! Fiquei animada e já imaginando a possibilidade de encontrar um outro lar para ele ao menos até que estivesse saudável! Na segunda-feira cedo acordei animada pensando na melhora de Sadam, quem sabe poderíamos fazer logo a cirurgia para a retirada do olho perfurado que, no momento estava apenas com um curativo pois ele não aguentaria a cirurgia naquele estado debilitado.
Cerca de 9h da manhã recebi uma ligação da clínica e atendi animada já pensando em ir visitá-lo, mas a notícia foi outra: Sadam não resistiu. Só pensava nos olhinhos tristes e cheios de dor daquele animal indefeso. Chorei. Chorei ontem e choro agora para escrever este texto.
Não consigo entender como pessoas podem ser tão vis! Ao socorrer o pobre Sadam as lágrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto e meu coração doía como se eu sentisse a dor que ele sentia. Fico aqui pensando, não há como tentar entender um MONSTRO desses, como podemos classificar um ser desses? Ser HUMANO? E o que somos nós então?